A escritura de Grande sertão: veredas, ao reconstituir sua linhagem, fundamenta-se na hybris, na desmedida instauradora do trágico, elemento constitutivo do drama desde os primórdios da sua história no Ocidente. A hybris faz explodir o substrato linguístico da escritura, espalha-se na constelação de signos, onde se observa um excesso de significantes e de significados, transbordamento que instala a transgressão - força dionisíaca geradora do trágico - no próprio corpo da linguagem. Para esta reflexão procura-se recortar diversos fios entrelaçados para reconstituírem biograficamente a constelação dos signos de Grande sertão: veredas. Em um primeiro movimento, esboça-se o parentesco entre a escritura de Grande sertão e a de Ulysses e Finnegan's Wake, de James Joyce, pois, do ponto de vista estritamente linguístico, elas se irmanam por terem deflagrado a hybris, a transgressão que atinge diretamente o corpo físico da linguagem, por meio do estilhaçamento e fragmentação dos significantes e significados. Nesse sentido, tanto Rosa como Joyce submetem a língua a uma agônica dramatização fundamentada nesse elemento dionisíaco e trágico. Em um segundo andamento, procura-se compreender como esse elemento transgressor no plano dos valores estéticos e linguísticos repercute nos valores históricos, sociais, religiosos e éticos.
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