O propósito desta investigação é analisar as unidades rítmicas (pés) dos versos da canção de Siruiz, de Grande Sertão: Veredas, determinar se há relação entre os ritmos dos versos e as imagens do poema e avaliar se há algum sentido a ser extraído do ritmo do poema e que complemente o sentido de suas imagens e de seus sons. Hipotetiza-se que o ritmo da canção de Siruiz contenha informações importantes que correspondam satisfatoriamente ao sentido expresso pelas imagens e pela sonoridade do poema, fato que contribuiria para uma maior compreensão desse importante poema presente em Grande
Sertão: Veredas.
Como os sonhos esfingéticos que acometem José, filho de Jacó, na passagembíblica, também Guimarães Rosa, em seu Grande sertão: veredas (1956), “instauraa completa desordem no coração de Riobaldo” (REINALDO, 2005) a partir deuma canção entoada por alguém sem rosto, quase ausente, uma voz imaterialque ecoa pela noite e passa a pulsar em Riobaldo durante toda a sua jornada.A canção de Siruiz trata da busca do conhecimento de si e do outro através dadecifração de um enigma que engloba o “redemunho” da própria existência deRiobaldo. Ao ouvi-la, ele tem sua “iniciação”, prova do fruto proibido, mergulhanos “remansos” do São Francisco, largando a pacata vida abastada ao lado dopadrinho Selorico Mendes para lançar-se ao seu destino, à aventura da vida dejagunço e do amor proibido por Diadorim, a “moça virgem”. Envereda-se, a partirde então, no grande sertão que é o mundo. O caminho do jovem Riobaldo estátraçado e nem ele mesmo sabe. Assim como não pode fugir da força arrebatadoradaquela canção, também é impossível fugir de seu destino.
Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. Teoria Literária e Literatura Comparada
Para Davi Arrigucci Jr., em O mundo misturado: romance e experiência em Guimarães Rosa, a canção de Siruiz contém, cifrada em suas palavras enigmáticas, o destino de Riobaldo. O propósito deste estudo é, a partir da análise mitopoética dos versos dessa canção e dos que o próprio protagonista-narrador do Grande sertão: veredas compôs para complementá-la, tentar decifrar o destino individual do herói problemático Riobaldo e os plurais e dialéticos sentidos de sua travessia. Para tanto, embasados na fortuna crítica e no acervo de leituras, depoimentos e cartas de Rosa, buscamos analisar comparativamente o motivo da canção no romance, em algumas das demais obras do autor, e em clássicos como a Teogonia, de Hesíodo, a Vita Nuova e A Divina Comédia, de Dante Alighieri, Os anos de aprendizado de Wilhelm Meister e o Fausto, de Goethe, a obra inacabada Heinrich von Ofterdingen, de Novalis, além de levantar alusões à Bíblia, à tradição fáustica e à tradição romanesca medieval que, ao que tudo indica, também serviram de inspiração e intertexto para Rosa na gênese e nos desígnios da canção de Siruiz e de seus contextos de representação.