Objetiva-se neste, estudo analisar, comparativamente na novela Tonka (1924) – do escritor austríaco Robert Musil – e no conto Desenredo (1967) – do escritor brasileiro João Guimarães Rosa – como estes autores se atêm à relação entre o amor, o ciúme a desconfiança e a posse e como, na novela de Musil, o amor é fonte de perdição, enquanto, no conto rosiano este – além de fonte de dor – o é também, de salvação. Ater-se-á, ainda, à comparação da conflituosa relação homem versus mulher, também presente na música Tororó, de Chico Buarque.
Olhos nus: olhos” é um conto do escritor moçambicano Mia Couto, publicado na coletânea Essa história está diferente, organizada por Ronaldo Bressane (Companhia das Letras: 2010). O livro tem como proposta reunir recriações, por autores diversos — e sempre sob a forma de narrativas de ficção —, de motivos temáticos extraídos das letras de Chico Buarque de Holanda. O texto de Couto, como o título deixa ver, é inspirado na canção “Olhos nos olhos”, de 1976. Nesse contexto, não haveria que se esperar um procedimento diferente do que ocorre nas demais narrativas da coletânea: o desenvolvimento de uma história que tangenciasse, em alguns pontos significativos, as narrativas implícitas no discurso lírico das canções. E, no entanto, a invenção de Couto nos surpreende em mais de um aspecto. A descrição dos processos que promovem esse efeito de surpresa é o que propomos no presente trabalho, para o que buscamos mapear as relações intertextuais que o conto estabelece e as múltiplas experiências de leitura que delas decorrem. Para tanto, revisitamos o conceito de intertextualidade sob a ótica da Teoria Geral dos Signos, aplicando-o ao texto comentado.