As cartas que Guimarães Rosa trocou com tradutores de sua obra, devidamente reunidas e organizadas por pesquisadores, têm fornecido um material inesgotável de análise e propiciado um fértil debate sobre seu projeto pessoal de escrita, bem como sobre os processos e produtos da tradução literária. Neste artigo, procuramos explorar a correspondência do escritor com três de seus tradutores visando a ressaltar questões ligadas à tradução da obra rosiana emitidas tanto pelo autor como por seus tradutores. Nas cartas a Edoardo Bizzarri, Curt Meyer-Clason e Harriet de Onís, observa-se que Guimarães Rosa estabelece um sólido vínculo de cooperação, que reverte diretamente nas obras traduzidas. Os argumentos e as reflexões trocadas entre autor e tradutores deixam entrever a concepção de escrita literária de Rosa, sua preocupação com a recepção de seus romances e contos no exterior, bem como a visão do que seus tradutores acreditam ser a tradução literária.
O artigo busca delinear uma teoria da tradução proveniente das correspondências entre Guimarães Rosa e Edoardo Bizzarri, entre 1959 e 1967, considerando questões teóricas da tradução como: a tarefa do tradutor, de Walter Benjamin; o drama do tradutor, de Antoine Berman; tradução e língua italiana, de Giacomo Leopardi; e a (in)visibilidade do tradutor, proposta por Lawrence Venuti.
Guimarães Rosa vem sendo traduzido para o francês desde 1961. Quem são os agentes desta passagem, editores e tradutores, qual sua relação com a literatura brasileira e como estes aspectos deter- minam a maneira pela qual a obra do autor é apresentada ao siste- ma literário francês? A análise de elementos propriamente textu- ais de algumas traduções também balizam esta reflexão, que busca compreender como a França recebe a prosa complexa de Guima- rães Rosa, como e em que medida a transforma. 276 ALEA VOLUME 11 NÚMERO 2 JULHO-DEZEM
Centro de Comunicação e Expressão, Programa de Pós-Graduação em Estudos da Tradução
Levando em conta que a multiplicidade de meios e dispositivos dão à contemporaneidade características híbridas e fluidas, proponho, neste trabalho, refletir sobre a contribuição da Semiótica e da Comunicação para os estudos da Tradução. Em um primeiro momento, fundamento nossa pesquisa ancorados em Peirce, Saussure e Eco para propor um modelo sígnico denominado Vórtice de Significação de forma a pensar a Tradução na contemporaneidade. Em um segundo momento, reflito sobre o romance Grande Sertão: Veredas (1956), de João Guimarães Rosa, e sobre a exposição de gravuras Exposition Grande sertão (2008), de Juraci Dórea. A seguir, ponho em prática o modelo teórico proposto por este trabalho. Seleciono dois trechos emblemáticos da oralidade relativa ao romance de Rosa, faço a locução interpretativa do texto, coloco esse arquivo na nuvem e traduzo-o em um link URL, que posteriormente também será traduzido em um QR Code. Quando o leitor deste trabalho libertar a gravação a partir da imagem, novamente, a experiência da oralidade toma corpo, emulando a experiência original do autor João Guimarães Rosa. Através desta proposta prática, o leitor deste trabalho vai participar ativamente do movimento sígnico instituído.