As cartas que Guimarães Rosa trocou com tradutores de sua obra, devidamente reunidas e organizadas por pesquisadores, têm fornecido um material inesgotável de análise e propiciado um fértil debate sobre seu projeto pessoal de escrita, bem como sobre os processos e produtos da tradução literária. Neste artigo, procuramos explorar a correspondência do escritor com três de seus tradutores visando a ressaltar questões ligadas à tradução da obra rosiana emitidas tanto pelo autor como por seus tradutores. Nas cartas a Edoardo Bizzarri, Curt Meyer-Clason e Harriet de Onís, observa-se que Guimarães Rosa estabelece um sólido vínculo de cooperação, que reverte diretamente nas obras traduzidas. Os argumentos e as reflexões trocadas entre autor e tradutores deixam entrever a concepção de escrita literária de Rosa, sua preocupação com a recepção de seus romances e contos no exterior, bem como a visão do que seus tradutores acreditam ser a tradução literária.
O artigo busca delinear uma teoria da tradução proveniente das correspondências entre Guimarães Rosa e Edoardo Bizzarri, entre 1959 e 1967, considerando questões teóricas da tradução como: a tarefa do tradutor, de Walter Benjamin; o drama do tradutor, de Antoine Berman; tradução e língua italiana, de Giacomo Leopardi; e a (in)visibilidade do tradutor, proposta por Lawrence Venuti.
Através da interpretação de um conto de Guimarães Rosa, "Orientação", ex-traído de Tutaméia, e da leitura de sua tradução francesa, são feitas aqui algumas considerações sobre a tradução do texto literário, sobretudo a propósito de tudo o que, no ato da tradução, implica uma modificação formal profunda, que chamamos de trans-formação, do texto original.
A partir dos textos e correspondências de dois escritores considerados transculturadores da literatura latino-americana, José María Arguedas e João Guimarães Rosa (Rama, 1989), este texto busca refletir sobre os abismos que aparecem na tradução de obras literárias entre o português brasileiro e o castelhano, em sjua variante andina. Partindo das notas de Julio Prieto (2010) e Sanchez Baena (2008), a pergunta sobre o estilo na obra dos dois escritores aparece entrecortada por um agudo sentido da oralidade com a qual eles escreveram seus textos, oralidade que a tradução procurou recuperar nas línguas de chegada. O exame minucioso das estratégias usadas por eles para pensar na tradução revela, além de outras dimensões dos procesos criativos de ambos, alguns conceitos essenciais ao trabalho tradutor, como a relação original e cópia, bem como a fidelidade e originalidade dos textos de partida.
A oralidade é sem dúvida um dos aspectos mais pronunciados no romance Grande Sertão: Veredas e,
em geral, na obra de João Guimarães Rosa. Apesar da abundância de estudos sobre este autor e
sua obra, a oralidade permanece um terreno fértil, sobretudo se abordada pelo viés tradutório.
Razão pela qual propõe-se, neste trabalho, a análise da forma como os tradutores franceses
abordaram essa questão em suas traduções. Para fazê-lo, serão utilizadas as teorias desenvolvidas
por Henri Meschonnic (1982; 1999), no que concerne às formas orais e faladas, bem como o
estudo sobre o discurso oral em Grande Sertão: Veredas, desenvolvido por Souto Ward (1984), além
dos trabalhos organizados por Michel Ballard no livro Oralité et Traduction (2001).
Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas
Este trabalho pretende analisar três aspectos temáticos da narrativa rosiana “Campo Geral”, a saber, o olhar, enquanto representação da inadequação de Miguilim perante a vida; as estórias, como símbolo de sua sensibilidade poética; e a religiosidade, no que tange ao desenvolvimento de sua fé ao longo do texto. Com o intuito de observarmos como o tradutor Edoardo Bizzarri os reescreveu na língua italiana, nosso objetivo é o de refletir sobre o texto em italiano, partindo das seguintes questões: como se deram as escolhas do tradutor com relação aos vocábulos cujo significado é desconhecido ou diversificado para o leitor italiano? Suas soluções tradutórias seriam mais explicativas ou criativas? Para tanto, buscamos entender o ato de traduzir como sendo uma analogia da terceira margem, ou seja, como uma ação que perpassa tanto a língua de partida (margem de cá), quanto à de chegada (margem de lá), fazendo da tradução uma linguagem própria, que se constrói em meio as diferenças entre as línguas. Dessa forma, para embasarmos nossa proposta, partimos de alguns aportes teóricos propostos por Walter Benjamin (2001), no que diz respeito à questão da traduzibilidade de cada texto, e de Antoine Berman (2007), ao enxergar a tradução como sendo experiência nela mesma, ou seja, que nasce da vivencia de quem a está conduzindo. Nesse sentido, nossa metodologia configurou-se dentro do tema proposto, levantando as principais características do texto original e analisando-as em concomitância com o texto traduzido, além disso, recorremos ao uso das ferramentas computacionais do programa WordSmith Tools, propostas pela Linguística de Corpus, com as quais pudemos ter acesso às palavras-chaves relacionadas aos temas em questão, bem como às linhas de concordâncias e número de recorrência dessas palavras no texto. Sabendo que os livros de Guimarães Rosa são repletos de imagens locais e de construções linguísticas apuradas, observamos que as opções tradutórias de Bizzarri procuraram manter a especificidade da narrativa rosiana, mas com algumas adaptações, aproximações, ou mesmo explicações dos vocábulos em que as diferenças linguístico/culturais prevalecem.