A presença de metáforas náuticas na literatura brasileira é aqui examinada com particular referência a um cenário de sertão. A hipótese é aplicada a uma análise do conto "Desenredo", do livro Tutaméia - Terceiras Estórias, de João Guimarães Rosa.
A obra de Guimarães Rosa distingue-se por três características centrais. A primeira delas refere-se aos processos lexicogênicos, pelos quais o escritor cria, constantemente, novos vocábulos e torneios sintáticos. A segunda diz respeito ao resgate de termos raros ou inusitados, fornecidos, sobretudo, por regionalismos e arcaísmos. A terceira, finalmente, assinala sua capacidade ilimitada de fabulação, ou de invenção de uma multiplicidade de enredos.
Este trabalho visa a demonstrar a importância da inferência lexical no processamento do texto de Guimarães Rosa. A fundamentação teórica tem como base as proposições de Kleiman (2004) e de Kato (2000) e, sempre que o material de estudo o exige, faz-se uso da noção de neologismo, analisada por Alves (1994). Comprova-se que dois contextos de inferência são fundamentais para a compreensão dos neologismos rosianos: um é o de contraste e comparação; outro é o de conotação. Conclui-se que, no texto de Guimarães Rosa, a língua alcança o estado metafórico, no qual as possibilidades linguísticas são multiplicadas pela inventividade do falante.
Programa de Estudos Pós-Graduados em Língua Portuguesa
A oralidade reinou absoluta desde os primórdios da civilização, até que, com o desenvolvimento das culturas, o surgimento da escrita revolucionou a forma como o conhecimento passou a ser registrado e preservado. Na busca de melhor compreender a aparente dicotomia entre a modalidade oral e a escrita, este trabalho discute as peculariedades linguísticas orais presentes na linguagem espontânea sertaneja. Assim, decidiu-se utilizar como corpus de análise desta dissertação o conto Meu tio o Iauaretê, do mineiro João Guimarães Rosa (JGR), cujo protagonista Tonho Tigreiro supostamente se metamorfoseia em onça mesclando vingança, ódio e arrependimento, valendo-se de uma oralidade que mistura fenômenos linguageiros caracterizados por neologismos e onomatopeias. A partir da revisão da produção de estudiosos do tema como Preti, Bakhtin, Marcuschi, Ullmann entre outros, o objetivo do estudo pôde ser sintetizado na seguinte indagação: Quais marcas de oralidade presentes no texto analisado caracterizam a fala cotidiana e corriqueira do sertanejo e quais são as peculiaridades linguageiras mais frequentes? Entre os achados, verifica-se que JGR exalta a diversidade cultural e combate, mediante o tratamento linguístico utilizado no texto, possíveis preconceitos à fala corriqueira tão frequente nos usos livres da oralidade e da escrita na prática cotidiana da língua, o que faz rever posicionamentos acerca de conceitos como certo , errado , apropriado quanto ao uso da língua em determinados momentos comunicativos.
A obra literária de João Guimarães Rosa surpreende, encanta e instiga pesquisadores de todas as épocas. Destaca-se, entre outros fatores, pela forma muito particular como o autor compõe suas narrativas e constrói as personagens, todavia chama atenção também a incrível capacidade de criação e recriação lexical empreendida pelo autor em sua tessitura poética. Conhecido como o mago das palavras, João Guimarães Rosa se utiliza dos neologismos como recurso inerente à linguagem para transcender a transparência e superficialidade da língua, abastecendo-se de toda significância e originalidade de uma palavra autêntica e livre da fala desgastada do cotidiano. Fundamentados teoricamente nos princípios e pressupostos da morfologia e lexicologia, lançamos um olhar acerca da última obra escrita por João Guimarães Rosa, Ave, Palavra, visando: (1) investigar o processo de criação lexical empreendido em Ave, Palavra, de modo a compreender a pluralidade semântica gerada em sua tessitura. (2) Averiguar