A poesia que mana de Ave, Palavra flui da pluralidade significativa de sua escritura, resulta da unidade de elementos interiores à obra e da entrega incondicional do poeta, uma ação que o conduz ao lugar da essência da linguagem. O canto inaugural da poesia roseana penetra na fala atemporal da linguagem para então estabelecê-la a partir dela mesma de forma genuína. Pretendemos neste trabalho a análise de alguns aspectos da última obra escrita por João Guimarães Rosa, conduzidos pelo pensamento de Martin Heidegger acerca do processo que en-caminha a essência do poeta ao lugar de onde a linguagem subverte o próprio tempo e lhe acena por meio do fenômeno da criação poética.
A imaginação poética roseana garante e norteia os fluxos de uma arte literária geradora de um universo consubstanciado pela figura animal. Rosa deposita em sua tessitura, de forma sui generis, o intenso lirismo da palavra essencial para descrever delicadamente sua animália, porquanto o brilho celestial de seu bestiário reverbera de sua poesia primeira. Partindo da concepção filosófica de Gaston Bachelard acerca da essência poética de Lautréamont, lançamos um olhar sobre alguns possíveis aspectos que seriam destacados pelo filósofo francês no interior da ação poética roseana, enfatizando a relevância e as peculiaridades da figura animal estabelecida em meio à composição literária de Guimarães Rosa. Bachelard reflete acerca da excepcional poeticidade que Isidore Ducasse extrai da figura animal em Les Chants de Maldoror, no qual o poeta alcança o âmago do vigor poético por meio de impulsos primitivos gerados a partir da extrema agressividade e violência de seu bestiário, engendrando assim uma espécie de transmutação poética fundada em uma realidade psicológica. A essência da poesia ducasseana evoca um dizer genuíno, inesperado e arrebatador fundamentado na primitividade surrealista de experiências do pensamento. Nesse devir, Lautréamont recolhe seu dito poético do súbito das imagens, visto que as palavras já se esvaziaram de uma fala original, e perderam-se em sua transparência. O poeta dispensa a linguagem solapada pela falação para pronunciar seu discurso poético por meio de suas imagens, instaurando assim uma múltipla enunciação.
Na obscuridade do espaço literário a palavra ressurge incorporada e consubstanciada de inúmeros sentidos e valores semeados no solo desértico de Ave, Palavra. Por meio dos movimentos de recuo da linguagem a opacidade da poesia roseana anula a representação de um significado primeiro, o verbo essencial já não se desvela como termo, porquanto se abre a uma intenção e transborda para outra realidade. Essa coletânea recria o mundo por meio de uma poesia sóbria, todavia essencial, decantada de uma linguagem vigorosa e enérgica que nunca se cansa de assombrar por sua natureza rebelde e inapreensível. Ave, Palavra comporta uma ação lírica articulada no espaço soberano da obra, um fenômeno que converte toda a superficialidade do mundo exterior em um dito incessante, inesgotável e avassalador. Pretendemos nesse trabalho, fundamentados nos estudos de Maurice Blanchot, estabelecer um diálogo acerca da transcendência abstraída da palavra essencial arraigada no solo poético de Ave, Palavra, tendo como escopo o poema Nascimento.
Este trabalho visa explorar o complexo sistema percorrido pelo ser puro e intransitivo da linguagem literária apontado por Michel Foucault, a qual comanda os fluxos poéticos de Guimarães Rosa em Ave, Palavra, por meio da análise de certos procedimentos de criação linguística e elaboração estilística presentes em toda sua composição; destina-se também a investigar o lirismo que mana do verbo essencial, o qual se dobra sobre si mesmo, ocultando as várias faces da palavra original e a insólita intenção da escrita roseana de reverenciar a arte poética, visto que Ave, Palavra comporta uma ação lírica articulada no espaço soberano da obra.
Esse artigo investiga a arte criativa de João Guimarães Rosa a partir dos fluxos poéticos que engendram o universo inexprimível de sua escrita. Norteados pelas reflexões de Hugo Friedrich (1978) acerca da Estrutura da Lírica Moderna, esse estudo visa demonstrar aproximações entre as configurações da imaginação poética de Guimarães Rosa e a moderna arte de poetar enunciada por Charles Baudelaire. Para tanto, propomos a análise de alguns aspectos do poema Evanira, presente em Ave, Palavra (2001), recheado de nuances poéticas e catalisador da totalidade sem limite da palavra como elemento essencial e força propulsora da obscura linguagem empreendida pelo autor.
O enigmático fenômeno da criação literária de João Guimarães Rosa surpreende e fascina a críticos e leitores, a princípio pela vasta rede de recursos linguísticos que sua escrita engendra, entretanto na medida que adentram o espaço poético roseano são arremessados a uma dimensão de pura incerteza e magia, na qual o extraordinário lirismo do autor toma a palavra e anuncia seu dito pleno, original e arrebatador. Ave, Palavra recria o mundo por meio de uma poesia sóbria, todavia essencial, decantada de uma linguagem vigorosa e enérgica que nunca se cansa de assombrar por sua natureza rebelde e obscura. Este trabalho visa explorar o complexo sistema percorrido pela linguagem literária mencionada por Michel Foucault, a qual comanda os fluxos poéticos de Rosa em Ave, Palavra, por meio da análise de certos procedimentos de criação linguística e elaboração estilística presentes em toda sua composição; destina-se também a investigar o lirismo que mana do verbo essencial nesse espaço áspero e árido, o qual se dobra sobre si mesmo, ocultando as várias faces da palavra complexa e a insólita intenção da escrita roseana de reverenciar a arte poética, visto que Ave, Palavra comporta uma ação lírica articulada no espaço soberano da obra: aquele descrito por Maurice Blanchot, em que transcende e converte toda a superficialidade do mundo exterior em um dito incessante, inesgotável e avassalador.
A obra literária de João Guimarães Rosa surpreende, encanta e instiga pesquisadores de todas as épocas. Destaca-se, entre outros fatores, pela forma muito particular como o autor compõe suas narrativas e constrói as personagens, todavia chama atenção também a incrível capacidade de criação e recriação lexical empreendida pelo autor em sua tessitura poética. Conhecido como o mago das palavras, João Guimarães Rosa se utiliza dos neologismos como recurso inerente à linguagem para transcender a transparência e superficialidade da língua, abastecendo-se de toda significância e originalidade de uma palavra autêntica e livre da fala desgastada do cotidiano. Fundamentados teoricamente nos princípios e pressupostos da morfologia e lexicologia, lançamos um olhar acerca da última obra escrita por João Guimarães Rosa, Ave, Palavra, visando: (1) investigar o processo de criação lexical empreendido em Ave, Palavra, de modo a compreender a pluralidade semântica gerada em sua tessitura. (2) Averiguar