O conto "Desenredo" de Guimarães Rosa é a encenação do processo poético em que a linguagem
não apenas apresenta um tema, como também o representa metalinguística e desconstrutivamente no próprio ato da feitura-leitura do texto. O tema do adultério é, portanto, tema patente e moto latente do processo de desmonte e autorreflexão sobre o próprio fazer poético. Nesse sentido, a linguagem do conto mobiliza processos paródicos, desconstrutivos e metalinguísticos para construir o tecido narrativo.
Análise do livro Ave, palavra, de João Guimarães Rosa, com a indicação de suas características: a metalinguagem, a busca da palavra exata, a experimentação linguística e a descrição poética de seres e paisagens, a intertextualidade, a escrita da poesia, o lirismo e a duplicação do narrador/autor. O volume representa a compilação, feita por Paulo Rónai, de textos de qualidade irregular, que serviriam de matéria prima para que Guimarães Rosa desenvolvesse em outros textos, tal como fez com fragmentos de Magma.
A obra de Guimarães Rosa evidencia, de Magma a Tutaméia, um percurso em que o autor opta pelo trabalho metalingüístico com o texto, executando uma renovação lingüística e narrativa na ficção brasileira. Esta opção revela que o autor não teve ou desejou uma atuação política, nem procurou fazer uma literatura revolucionária, engajada, preocupando-se antes em realizar uma transformação na literatura. As análises que buscam tal literatura revolucionária na obra rosiana desconhecem a opção estética do escritor.
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CULTURA E SOCIEDADE/CCH
A presente pesquisa se investe da responsabilidade em analisar, a partir de grupos temáticos, alguns contos de Tutaméia (1967), último livro publicado por João Guimarães Rosa no qual encontramos um trabalho magistral de ficcionalização da linguagem em que cada palavra e ato das personagens carregam um sentido excedente, plurissignificam. Embora, algumas obras do autor, a exemplo de Grande sertão: veredas, possuam uma fortuna crítica considerável, o mesmo não se pode dizer de Tutaméia que continua a exigir leitura e reflexão. Diante dessas premissas, selecionamos os seguintes contos: Os três homens e o boi, Lá, nas campinas, João Porém, o criador de perus, Desenredo, (primeira parte), Azo de almirante e Curtamão, (segunda parte). Apropriamo-nos, para este trabalho, de algumas teorias, a saber: da Semiótica, enquanto importante instrumental observador da linguagem e a fenomenologia existencialista, pelo enfoque à percepção e à experiência na compreensão dos fenômenos da existência humana. Considerando o texto literário como um fenômeno sígnico, utiliza-se os pressupostos dessas teorias que buscam, respectivamente, interpretar o processo de produção dos signos e as funções da linguagem humana para além de suas relações com o pensamento. Ademais, busca-se as contribuições de autores como Haroldo de Campos, Vera Novis, Paulo Rónai, Antonio Cândido, Maria Célia Leonel, Benedito Nunes que já enveredaram no universo das narrativas de Guimarães Rosa, dentre outros. Portanto, o espaço ficcional dos contos rosianos permite-nos pensar a força criadora da linguagem em que os dramas humanos são representados artisticamente através dos dramas de suas personagens num movimento onde o imaginário e o universal se confundem.