Este estudo analisa o conto “Nenhum, nenhuma” de João Guimarães Rosa, presente em Primeiras Estórias (1962) sob a perspectiva da memória e do reconhecimento. Para tal, utiliza-se bibliografia adequada ao tema, como a conferência “Memory, History and Oblivion” (2003), de Paul Ricoeur e Maurice Halbwachs, Memória Coletiva (1990). Ambos os autores tratam dos processos de recuperação da memória dentro do âmbito individual e coletivo, assim como analisam as maneiras como o indivíduo reacessa seu elementos fragmentados. Além disso, analisa-se e discute-se os estudos anteriores sobre a mesma obra de Guimarães Rosa, como Tatit (2009), Pacheco (2006) e Perrone-Moysés (1978). Ao fim do presente texto, propõe-se uma leitura para a segunda estória – segundo a teoria de Bueno (2014) – presente em “Nenhum, nenhuma”.
Vamos comentar trechos da obra maior de João Guimarães Rosa, o Grande sertão: veredas, para refletir sobre o processo de construção das múltiplas identidades brasileiras a partir da literatura. Buscaremos o germe da ideia de identidade no mundo grego aristotélico, a saber, a ação de ler, ver e reconhecer: a anagnórisis/ ἀναγνώρισις. Em outros termos: indagamos o porquê de, no Brasil, nos colocarmos a estudar a língua e a literatura gregas. Uma das respostas possíveis está na literatura de João Guimarães Rosa, que, a partir do modelo grego, aprimora e supera a prática literária da anagnórisis registrada em Homero. Para isso os gregos e Guimarães Rosa serão nossa base.