Análise do conto “Fatalidade”, de Primeiras Estórias, centrada nas referências implícitas e explícitas à cultura grega, desde intertextos com Homero até a reverberação de passagens dos diálogos platônicos. A recepção do universo clássico no conto trabalha com o topos da determinação humana e divina sobre o destino e vale-se da dicotomia entre a ordem física (physis) e o estabelecimento das leis (nomoi).
Este artigo analisa o processo de composição de uma canção popular, descrito no conto “O recado do morro”, de Guimarães Rosa. A narrativa relata uma experiência de inspiração poética originária de uma mensagem de natureza profética. Para que o alerta da profecia chegasse ao seu destinatário, fora preciso uma sequência de codificação e recodificação da mensagem de um morro. Consideramos essa cadeia como um fluxo afetivo e efetivo, tal como descrito nos relatos dos bardos homéricos.
Neste trabalho analisamos equiparações entre uma assembleia dos reis gregos homéricos no assédio de Troia, e uma reunião dos chefes jagunços para julgar um prisioneiro em Grande Sertão: Veredas. Vemos os discursos dos personagens dessas obras como permeados pela construção moral de honra heroica. Interpretamos diferenças nas manifestações desse éthos no poema homérico e no romance brasileiro, conforme um sistema de valores em cujos extremos veríamos força e fraqueza substituídas por noções de bem e mal. Veríamos a vigência do valor heroico em ambos contextos, e com ele a tentativa do homem de se imortalizar inscrevendo o próprio nome na memória coletiva.
Vamos comentar trechos da obra maior de João Guimarães Rosa, o Grande sertão: veredas, para refletir sobre o processo de construção das múltiplas identidades brasileiras a partir da literatura. Buscaremos o germe da ideia de identidade no mundo grego aristotélico, a saber, a ação de ler, ver e reconhecer: a anagnórisis/ ἀναγνώρισις. Em outros termos: indagamos o porquê de, no Brasil, nos colocarmos a estudar a língua e a literatura gregas. Uma das respostas possíveis está na literatura de João Guimarães Rosa, que, a partir do modelo grego, aprimora e supera a prática literária da anagnórisis registrada em Homero. Para isso os gregos e Guimarães Rosa serão nossa base.
A recepção da épica na obra Grande Sertão: Veredas é tema recorrente na crítica
rosiana. Contudo, este trabalho tem como objetivo apresentar a influência das obras de Homero
na elaboração das digressões no romance, embasadas nas anotações de Guimarães Rosa sobre a
Ilíada e Odisseia no documento E17, seção Ilíada, no Arquivo Guimarães Rosa (IEB-USP), o
documento apresenta notas breves do autor e registros das principais características da narrativa
homérica. No entanto, ainda que a análise recaia sobre um romance moderno, pretendo abordar
a digressão em sua definição clássica, avaliando alguns princípios estéticos e técnicos descritos
nas poéticas e tratados de retórica clássica, bem como interpretações das digressões em Homero,
a partir dos argumentos de Malcolm Heath e Wayne B. Ingalls. Ainda, a fim de investigar a
influência da tradição oral na composição das digressões retomo a Fortuna crítica rosiana.
O artigo tem como foco a análise das funções estratégicas de alguns rud