Este trabalho pretende estabelecer uma análise do conto "A Terceira Margem do Rio", de Guimarães Rosa, baseando-se, principalmente, no trânsito entre as categorias do real e do irreal, o qual se dá ao longo do discurso do narrador. Além disso, tenciona-se apontar como essa proposta se estende à concepção do tempo, do espaço e das personagens. Também se busca relacionar o discurso que perpassa a narrativa com o fluir do rio, priorizando-se o aspecto essencialmente simbólico da linguagem.
O presente trabalho propõe uma análise do romance Grande sertão: veredas, de João Guimarães Rosa, através da observação dos mecanismos linguísticos de que se vale o autor na sua construção, para apontar algumas confluências entre os discursos literário e o psicanalítico, no romance. Para isso, utilizaremos pressupostos teóricos da teoria da ironia, procurando estabelecer alguns pontos tangenciais entre a literatura rosiana, os recursos da ironia e a psicanálise. Ao escapar da formulação de conceitos definitivos, mostraremos que o autor transforma o campo literário num lugar que se quer aberto ao diálogo, ao trânsito e a múltiplas interpretações, possibilitando, ainda, a circulação do mal-entendido, pois são as mensagens aparentemente sem sentido e absurdas é que se mostram evocadoras e criadoras de significações para além dos sentidos admitidos no código da língua. De acordo com essa lógica, apontaremos na obra de Rosa outra vertente da linguagem, na qual a letra esvaziada desse compromisso de reprodução dos sentidos, já no campo da escritura, mostrase capaz da ruptura com os semblantes e aproximação com os efeitos enigmáticos do gozo na escrita.