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Entrevista com o Ídolo Bagé

Victor Deucher Figueiredo Santos

O futsal (ou futebol de salão) é a modalidade mais praticada pelo Brasil, por adaptar o futebol (esporte de maior popularidade e visibilidade) para uma quadra mais compacta, que também exige menos jogadores para que ocorra uma partida.
Mas como surgiu o futsal? Este surgiu antes do futebol ou o contrário?
De acordo com a versão mais aceita da história (reconhecida pela FIFA) o futsal surgiu no Uruguai, país campeão do mundo de futebol à época, na década de 30. As crianças da ACM (Associação Cristã de Moços) não tinham onde praticar o esporte, então simplesmente começaram a jogar futebol nas quadras de basquete. Vendo aquela realidade, o professor de educação física da ACM de Montevidéu, Juan Carlos Ceriani, decidiu elaborar regras para tal prática esportiva. Ceriani passou a chamar a nova modalidade de Indoor-Foot-Ball. É a partir daí que se desenvolve o futsal no Brasil e no mundo.
Aqui no Brasil, em meados dos anos cinquenta, o futsal tinha várias regras sem um padrão oficial. Foi então que, em 5 de fevereiro de 1957, o presidente da Confederação Brasileira de Desportos (CBD) Sylvio Pacheco criou o Conselho Técnico de Assessores de Futebol de Salão, para conciliar divergências e dirigir a modalidade no Brasil. Essa situação (em que o futsal ficou subordinado ao conselho da CBD) demorou para se alterar, e o Brasil teve que esperar até 1979 para que fosse criada a CBFS (Confederação Brasileira de Futsal).
Já internacionalmente, só em 1969 que foi criada em Assunção, Paraguai, a Confederação Sul-Americana de Futebol de Salão (CSAFS), para que, em 1971, por iniciativa de vários países (para além dos da CSAFS), fosse fundada a Federação Internacional de Futebol de Salão (Fifusa).
Onze anos depois. foi realizado o primeiro mundial da modalidade em 1982, em São Paulo, que fez o futsal passar a chamar atenção dos dirigentes da FIFA. Estes passaram a criar dificuldades para as competições criadas pela Fifusa. A partir de 1988, o Brasil passou a encaminhar o reconhecimento da FIFA como sua representante mundial do futsal, e foi aí que, em 1990, o Brasil oficial e legalmente desligou-se da Fifusa em carta do presidente da CBFS Aécio de Borba Vasconcelos àquela entidade, com o aval das 26 Federações filiadas a CBFS. Desde então, o Brasil passou a adotar as novas regras de jogo emanadas da Fifa.
A partir de 1989, a Copa do Mundo de Futsal deixou de ser organizada pela Fifusa e passou para as mãos da FIFA, que passou a organizar de 1992 em diante a competição a cada quatro anos.
E foi diante desses moldes da Copa do Mundo que o goleiro Bagé, o escolhido para a entrevista desta matéria, foi campeão com o Brasil em 1996, na Espanha. O arqueiro não só faturou este importante título, como também foi tricampeão da Copa América pela Seleção Brasileira. Contudo, o que mais impressiona em sua vitoriosa carreira é a longevidade, pois Luis Henrique Silveira Couto é hoje o goleiro de futsal mais velho em atividade do mundo (reconhecido pelo Guinness), com 50 anos de idade. Durante esse tempo, Bagé atuou por mais de dez clubes, e atualmente é goleiro da AABB-SP que disputa a Liga Paulista de Futsal (LPF).
BJE: “Bagé, boa tarde! Primeiramente, o BJE gostaria de saber como foi o início da sua carreira. Qual foi o caminho que você percorreu até se tornar um atleta profissional no futsal?”
Bagé: “Comecei jogando futsal amador em Bagé, mas era chamado ainda de futebol de salão. Quando eu joguei um campeonato da minha cidade, fui escolhido o melhor goleiro do campeonato. Vendo que eu era bom naquilo, o meu professor de matemática, aficionado por esporte, propôs que eu fizesse um teste no Grêmio já que ele tinha contato com os dirigentes de lá. Aí eu fui lá, fiz esse teste, e acabei passando. No final de 87, tendo começado minha carreira em 86, acabei sendo escolhido o melhor goleiro do Estado sem nunca ter jogado um Campeonato Estadual. Fui para o Grêmio, e eu tentei passar de terceiro para primeiro goleiro treinando muito. Até que em 1989 eu comecei a jogar pela Enxuta no Campeonato Brasileiro, minha estreia foi contra a equipe do Bradesco no Rio de Janeiro. Foi neste ano que eu fui campeão brasileiro, sendo já convocado para a seleção brasileira.”
BJE: “Você começou a sua carreira na década de 80, e continua atuando até hoje. O que você acredita que mudou no futsal durante esse período?”
Bagé: “Para mim, praticamente mudou tudo, eu peguei toda a transição, antigamente a bola era pesada, não quicava e era dura, difícil de defender. O treinador exigia muito que a gente defendesse a bola firme para puxar um contra-ataque; a bola tinha que quicar antes de atravessar a linha do meio campo, e agora mudou tudo, agora pode usar o pé pode sair da área livremente, aí então a dificuldade foi grande no começo, mas eu consegui alcançar a modernidade do futsal, com uma bola mais dinâmica, mais rápida que vai aprimorando [o esporte] né?”
BJE: “Você atuou por mais de dez clubes em sua carreira. Se não é a AABB, qual é o clube com o qual você se identificou mais em sua carreira? Por quê?”
Bagé: “Na época na Enxuta, em Caxias do Sul, onde eu comecei, e depois voltei para lá em 94. Aí a gente continuou ganhando títulos. Foi onde tive o maior aprendizado, peguei o PC Oliveira como jogador; o treinador era o que tinha sido campeão mundial com a Seleção em 1982, o Barata; e o melhor jogador do mundo na época, o Jorginho, também jogava nessa equipe. Então para mim, a cidade de Caxias do Sul também era maravilhosa, a gente era bastante apoiado pela torcida no ginásio mesmo, parecia que a gente estava num estádio de futebol de campo.”
BJE: “Você tem algum ídolo no esporte com o qual você se inspirou para ser um atleta profissional? Se sim, por quê?”
Bagé: “Ídolo, realmente não. Mas o Serginho, goleiro, foi o cara que mais me deu as dicas para ser um bom goleiro. Foi o cara que me acolheu na Seleção, quando eu comecei a jogar em 89, fiquei até 97, tive quase dez anos de Seleção, fui campeão mundial com ele. E quem tinha que fazer os treinamentos na época (não existia o preparador de goleiros) era eu e ele, então a gente aprimorava os treinamentos no dia a dia. Ele me ensinou muito e para mim, ele era um dos melhores goleiros do Brasil e do Mundo.”
BJE: “Você tem algumas dicas para quem queira começar a carreira na modalidade?”
Bagé: “Para mim, o que me levou longe foi essa longevidade, de estar sempre jogando, foi o treinamento, a obediência. Ouvir o que o preparador e o treinador falam, e treinar, treinar muito! Só treinando que se vai chegar lá, e eu treinava além né? Até porque a parte física era sempre treinada com os jogadores de linha…”

Com isso, encerramos a matéria sobre o futsal e a entrevista com o ídolo Bagé.
Muito obrigado,
Victor Deucher (victordeucher@gmail.com)