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O Presente do Tênis Brasileiro

Daniel Imura

Fonte: GloboEsporte.com 24/09/2017.

O tênis é um esporte praticado entre dois oponentes ou duas duplas de oponentes em uma quadra dividida por uma rede, onde os jogadores usam raquetes para rebater uma pequena bola de um lado para o outro. O jogo é iniciado com o saque de um dos jogadores. Devolvida a bola, ele continua até que um dos tenistas lance a bola na rede ou para fora da quadra ou caso a bola pingue duas vezes dentro de um dos lados da quadra. A pontuação no tênis é subdividida em games/jogos e sets/partidas. Um game é um conjunto de pontos e um set é um conjunto de games. A Federação Internacional de Tênis (ITF) é responsável por organizar o esporte no mundo e já no Brasil, o tênis é controlado pela Confederação Brasileira de Tênis (CBT).

Agora um pouco sobre o Tênis no Brasil, no dia 16 de maio de 2017, a Confederação Brasileira de Tênis (CBT) anunciou a renovação do convênio de sua sede, mais investimentos nas categorias de base e dois novos patrocinadores, e, ainda, a ITF (Federação Internacional de Tênis) renovou pela segunda vez consecutiva o Certificado Ouro ITF para o Departamento de Capacitação da Confederação Brasileira de Tênis. Esse Certificado Ouro ITF é exclusivo e não é fácil de conseguir. No mundo apenas 16 países o possuem e, na América do Sul, apenas o Brasil o tem. Somando tudo isso, podemos dizer que o momento do tênis no Brasil não poderia ser melhor. Todos os investimentos e reconhecimentos desse esporte no país verde e amarelo tem suor e muita luta. Um dos grandes exemplos de que a CBT vem fazendo um trabalho duro e ajudando seus atletas com despesas, viagens e treinos é a tenista número 1 do Brasil e número 71 do mundo chamada Beatriz Haddad Maia. A jogadora possui apenas 21 anos e já se figura entre as 100 melhores tenistas do mundo, de acordo com o ranking da WTA. Quando Bia foi campeã do ITF US$ 100mil de Cagnes-Sur-Mer, a tenista entrou para o top 100, tornando-se a oitava brasileira a realizar esse feito. As outras sete foram Maria Esther Bueno, Niege Dias, Claudia Monteiro, Patricia Medrado, Gisele Miró, Andrea Vieira e Teliana Pereira. No WTA de Praga, Bia chegou às quartas de final após derrotar duas Top 100 do mundo (ainda no qualifying), uma Top 50 e uma Top 20, a experiente australiana Samantha Stosur, de 33 anos. Em 2017 Bia já foi campeã do ITF US$ 25 mil de Clare, na Austrália, triunfou nas duplas no WTA de Bogotá, chegou em uma final de WTA em Seul contra Ostapenko e ganhou uma partida no Premier de Miami. De quebra, enfrentou Venus Williams na segunda rodada e fez uma partida de igual para igual (6/4, 6/3 para a americana).

Tive a oportunidade de entrevistar essa tenista fantástica, Beatriz Haddad Maia, um dos frutos da CBT e uma das promessas mundiais do Tênis e ela nos contou um pouco mais desse esporte sobre a perspectiva de uma jogadora profissional.

Blog do Jornalismo Esportivo: Bom, tudo bem então Bia vou começar a entrevista, gostaria primeiro de perguntar como é que foi, como é que é esse esporte na sua vida? Desde quando você tem contato com o tênis? Quais foram suas influências para começar no tênis? E se você puder falar um pouco também sobre como que foi a sua transição já que você começou jogando no juvenil e depois passou para o profissional. Como eram suas partidas na federação, partidas com as tenistas mais velhas. Como que foram os torneios iniciais e se você possui alguma lembrança marcante do seu inicio de carreira.

Beatriz Haddad Maia: Bom, eu comecei a jogar mais ou menos com 3, 4 anos, na verdade, e, influência totalmente familiar. A minha mãe, junto com a minha tia, elas já davam aula de tênis em colégio, no colégio que eu estudava. E, enfim, eu e todos os meus primos a gente acabava acabando a aula jogando no clube, jogava com as minhas primas. Eu fazia judô, futebol e natação também então eu não jogava só tênis. Eu adorava fazer outros esportes mas no tênis eu sempre fui mais competitiva. Eu nunca gostei muito de perder e ai eu ficava brava quando errava. Então eu sabia que eu sempre gostei um pouquinho mais do tênis. E lá pelos 8 anos eu já comecei a jogar torneios da Federação em São Paulo. Eles eram de finais de semana, eram torneios pequenos e acabavam sendo no máximo 3 jogos. E foi ali que eu comecei a me apaixonar pelo esporte. E ai você começa a melhorar e começa a viciar e poxa é muito legal. Comecei a ter ídolos, comecei a ver televisão, assistia as grandes jogadores Venus, Serena, Sharapova, Nadal, Federer e ai eu comecei a querer também estar jogando entre eles, os melhores do mundo. Lá pelos 13,14 anos eu decidi realmente que eu queria jogar tênis na minha vida. Tava na 8a serie e eu sabia que era isso que eu queria. Eu acabei tendo que abrir mão da minha casa, da minha família e dos meus amigos pra mudar de cidade só pra treinar. Eu estudava de manhã em um outro colégio então foi um momento muito chocante porque eu deixei tudo que eu amava, o conforto, pra estar sozinha. Eu me virava em casa tinha que ir cozinhar, lavar, enfim, estudar, e conseguir me organizar. Ia pro colégio a pé. E ai chegou um momento que as coisas foram melhorando. Eu ganhei mais experiência, eu comecei a jogar. Chegou um momento em que eu comecei a viajar muito então, praticamente, eu não ficava muito no Brasil e, enfim, os torneios juvenis já começam a ser muito na Europa, nos Estados Unidos. Lá pelos 16 eu já tava jogando o profissional. Também desde os 14 eu comecei no profissional e mesclava alguns torneios. A minha prioridade ainda era o juvenil mas eu jogava alguns profissionais. E lá pelos 17, 18 reverteu um pouquinho. Eu abri mão já dos torneios juvenis. Cheguei a fazer duas finais de dupla de Roland Garros, fiquei em terceiro lugar do mundial de até 16 anos, cheguei as 15 melhores do mundo de juvenil. Hoje já tenho 3 títulos de Challenger, já fiz final de WTA, já ganhei dois WTA de duplas em Bogotá, já passei uma rodada em Wimbledon, já joguei contra a Venus, Muguruza, Halep, Ostapenko, Vesnina, grandes jogadoras. E, enfim, hoje o circuito é esse e a minha vida é baseada no tênis. Praticamente respiro e durmo, como tudo pro tênis. Cuido bastante do meu corpo, das minhas rotinas. Antes de eu ficar sozinha também eu acho que me acostumei muito com essa vida maluca de viajar. Toda segunda feira começa um torneio então acaba que a gente conhece um pouco alguns lugares. Também o que é legal o tênis proporcionar a gente conhecer outras culturas e conseguir passear e tal. Mas eu acho que faz parte. Ao mesmo tempo acho que poucas mulheres, da minha idade de 21 anos, conseguem conhecer tanto o mundo mas, ao mesmo tempo, eu abri mão de muita coisa que é o lado não tão bom mas é isso, assim, mais ou menos a vida. Eu tenho hobbies, eu to aprendendo a tocar violão, eu gosto de ir a praia, estar com a minha família, ir ao cinema ver filme, ouvir música e eu faço uma administração a distância. Então eu também não deixei de estudar que eu acho que é importante. E é isso, assim, mais ou menos.

BJE: Nossa Bia, nunca ia imaginar hein, realmente é uma vivência muito complicada no começo de carreira, no começo de qualquer esporte imagino eu. Muito interessante desde os 14 anos então você convive nesse meio. Essa transição acaba sendo muito cedo para os tenistas. Muito obrigado por ter dito tudo isso e eu imagino também como deve ser. Tão nova, 20 anos, já uma das maiores tenistas do Brasil. Bom, eu li numa reportagem que desde quando você era do juvenil você já recebia apoio da CBT (Confederação Brasileira de Tênis) e como você se tornou uma das mais importantes profissionais para eles. Queria saber como que foi essa influência da CBT. Eles realmente ajudaram muito você? Os treinos que você recebe, como eles são? Eles são mesmo de qualidade? Porque aqui na América do sul, infelizmente, só somos nós o Brasil, que temos a categoria ouro de reconhecimento da IFT (Federação Internacional de Tênis). E além dessa influencia, se você puder falar um pouco sobre qual que foi o momento mais marcante da sua carreira até hoje. Foi jogar com as grandes jogadoras? Foi jogar com a Venus, conhecer a Serena, jogar com a Muguruza? Até porque o seu jogo com a Venus foi “pau a pau”, 6×4, 6×3, mas ela também passou um pouco de apuros ali. Qual foi uma competição, um grande marco da sua carreira, Bia?

Beatriz Haddad Maia: Acho que o melhor momento foi Seul, semana que eu fiz final. Mas eu acho que todos os momentos foram, assim, especiais. Até as derrotas, a gente acaba perdendo bastante. Mas sobre os treinos, de manhã eu faço a parte da quadra, eu treino ali pelo menos umas 2, 3 horas, começo 8:30 e acabo quase meio dia, faço a parte física também. A tarde eu volto 14:30. Eu treino das 15:00 até umas 18:00, 19:00. É bem puxado. Quando a gente não ta na quadra ta fazendo exercício pro corpo, preventivo, ombro, quadril, o abdômen, essas coisas que hoje em dia são bem importantes. A CBT, realmente eles sempre me ajudaram. Eu tive sorte desde o início, desde pequena de eles (CBT) estarem comigo. Quando eu sai de São Paulo pra ir pro Sul eles que me indicaram a academia do Larri e me ajudavam pra eu poder ter um treinador viajando comigo, nas despesas, nos gastos, vôo. É muito importante porque quando você ta jogando juvenil você não recebe dinheiro, você não é profissional então é muito caro pra você viajar, tudo é em dólar, hotel, alimentação, o vôo pra você e pro seu treinador. Então é tudo bem complicadinho. Eles tinham um treinador, faziam uma equipe da CBT e a gente viajava, então era legal e isso ajudava bastante. Acho que com certeza isso faz parte desse momento que eu to passando hoje.

BJE: Perfeito Bia, muito obrigado e esse investimento da pra ver que não foi em vão, valeu muito a pena. E também todas essas viagens e, principalmente, ir pro Sul. Bom, agora que você me disse isso e tudo mais, eu queria saber qual dica que você daria para alguém que gostaria de conhecer mais sobre o esporte. Sabe, como um incentivo ao tênis. O Brasil não tem aquele incentivo tão forte, é um esporte conhecido agora e tudo mais mas não é todo mundo que, por exemplo, conhece as regras e entende todo o universo do tênis. Você tem alguma dica, por exemplo, se vale a pena começar antes de velho ou se é um esporte que realmente se machuca muito fácil? Muita gente tem esse preconceito e talvez só uma dica que você daria pra algum iniciante, alguém que tem curiosidade. Algo bom desse esporte que você recebeu. Por exemplo, eu (Daniel) sou muito feliz porque esse esporte me deu muitas amizades, também me educou de certa forma porque é um esporte regrado.

Beatriz Haddad Maia: O tênis na verdade ele não tem muita regra assim e acho que idade é qualquer uma. É um esporte que ele exige muito do corpo, alto rendimento mas ao mesmo tempo se você nunca fez esporte ou se você adora esporte e já teve contato com bola você vai ter mais facilidade. É um dos poucos esportes que você tem uma raquete na mão então não é fácil o contato com a bolinha. Mas é muito legal e eu super indico pra todo mundo. Tem gente que acaba viciando jogando. Enfim, tem gente que pode fazer tênis como hobby, uma maneira de você esquecer um pouco os problemas, pode jogar entre amigos, uma maneira de reunir pessoas, de socializar. Tem vários pontos positivos que o tênis nos traz. E eu acho que pra gente que já joga, meninas que sonham em jogar e que duvidam se dá ou não dá, se é muito difícil, sempre dá. A gente sempre dá um jeito. É difícil financeiramente também dizendo mas quando a gente realmente quer, almeja e sonha com aquilo, dá. Então eu diria que as coisas podem sempre ser conquistadas dependendo da nossa vontade. Para as pessoas que já jogam eu diria que dá sim pra treinar e enfrentar as melhores do mundo.

BJE: E eu gostaria agora de fazer algumas perguntas sobre você. Um jogo bem rápido, eu gostaria de saber qual que é o torneio que você gostaria de ganhar, qual o torneio mais importante pra você agora na WTA? Qual a sua tenista favorita? O seu tenista favorito? Sua maior influência?

Beatriz Haddad Maia: Roland Garros e Wimbledon. Gosto muito do Federer e do Nadal. Acho que no masculino é bem difícil alguém não falar deles. E muito também da Kvitova, ela é uma tcheca essa menina, ela joga super bem e tem um tênis muito parecido com o meu. Claro que ela já tem bem maiores resultados e é uma tenista que ta entre as 10 melhores do mundo mas eu gosto bastante e eu posso aprender muito com o jogo dela. Então é uma menina que eu gosto de olhar bastante jogar. E acho que o Guga. Quando eu tinha um ano ele já tava jogando e ganhando o Roland Garros então, eu vi pouco, mas ele é um ídolo no Brasil. E, enfim, gosto muito também, e que acabou falecendo, do Ayrton Senna, assisto muito vídeo e muita entrevista dele porque eu gosto de aprender com pessoas que também não são do tênis mas que superaram e que hoje são exemplos. Tem um cara também que canta que é o Charlie Brown. Eu adoro ele e eu acho ele um gênio. E são pessoas que me inspiram. Então é mais ou menos isso. E acho que os meus avós também eu aprendo muito com eles então eles são meus ídolos.

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