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Esgrima: da antiguidade a contemporaneidade

Raissa Oliveira Martins

(Foto: AP)

Nathalie, esgrimista brasileira, após vencer nas oitavas de final nos jogos olímpicos de 2016.

A esgrima, esporte que envolve o duelo com armas brancas, tem cunho histórico, dado que o combate com espadas existe desde a antiguidade. As lutas eram retratadas tanto em pinturas gregas e romanas como na Bíblia, além de muito presente nos grandes impérios formados no passado. Segundo a Confederação Brasileira de Esgrima, com o passar dos séculos, a esgrima foi perdendo espaço nos campos de batalha, sendo substituída por espadas e punhais mais eficientes e articulados. Ainda sim, a esgrima prosseguiu e começou a ganhar seu cunho mais esportivo e menos combativo, de modo que várias escolas europeias esgrimistas passaram a estudar como aumentar o desempenho na iminente modalidade, aprimorando a técnica e o instrumental.

Com o real aprimoramento da indústria bélica, com a inserção das semiautomáticas, os conflitos com armas brancas perdem totalmente o espaço e a esgrima se firma como modalidade. Assim, algumas mudanças ocorreram, desde o uso de máscara protetora, como o próprio objetivo do duelo, que não era mais machucar o adversário, e sim apenas o toque, desde que fosse nítido. Outra convenção estabelecida foi a de que as duas pessoas envolvidas na disputa não deveriam atacar ao mesmo tempo, ou seja, quando um esgrimista ataca, o outro deve se defender e esperar o seu momento para atacar. Essa convenção deu origem às regras de sabre e florete, duas das três armas que existem atualmente.

Quanto às três armas olímpicas, temos o florete, o sabre e a espada. A Federação Paulista de Esgrima coloca o florete como a arma mais comum no esporte, muito utilizada na iniciação no esporte, dado sua flexibilidade e leveza. Com essa arma, pode-se atingir o adversário apenas em seu tronco e somente com a ponta da arma. O ponto é computado caso atenda a essas condições, ou seja, quando a ponta metálica encosta no colete metalizado. O sabre permite toques da cintura para cima, incluindo, adicionalmente ao florete, os braços e a máscara. Além disso, com essa arma pode-se aplicar golpes com os lados da lâmina e com ponta. Por último, a espada permite toques em todo o corpo, desde que sejam com a ponta da arma.

Para a prática do esporte, é necessária a utilização de 7 itens: jaqueta, luvas, fios elétricos, arma, calça, máscara e plastrom. A pista mede 14 m de comprimento e entre 1,5 e 2 m de largura. As competições nas fases classificatórias duram 5 toques ou 3 minutos e em fases eliminatórias 15 toques ou 9 minutos. Vence, portanto, quem atingir tais quantidades de toque primeiro, ou tiver mais toques no período delimitado.

Em 1896, nos primeiros Jogos Olímpicos da história, a esgrima é uma das modalidades disputada, sendo inicialmente apenas masculina e com florete e sabre, sendo a espada introduzida na olimpíada seguinte. Em 1913 foram formuladas as regras internacionais da esgrima, firmando de fato seu objetivo esportivo. Em 1924, as mulheres passaram a disputar a esgrima nas Olímpiadas. Em 1936, em Berlim, começaram a ser utilizadas as armas elétricas, marco importante na história do esporte, eliminando a votação dos juízes sobre se foi ou não toque.

No que se refere à história da esgrima no Brasil, o seu primeiro indício é no Brasil Império, dado que anteriormente não havia essa prática no país e não era interesse dos colonizadores trazer essa prática. De acordo com a confederação, devido ao grande interesse de Dom Pedro II, surge a esgrima, que em 1858 foi inserida nos cursos militares existentes, além da fundação de uma escola específica em São Paulo. Com o passar dos anos, persistiu no Brasil, mesmo após se tornar república, o incentivo a esgrima, com a criação de vários centros militares e de caçadores, nos quais eram ensinadas tal prática. Em 1927 temos um marco muito importante, com a criação da União Brasileira da Esgrima, vinda de uma fusão da federação paulista e carioca. Tal União filia-se a União Internacional do esporte e em 1936, nos Jogos Olímpicos de Berlim, temos a primeira participação brasileira no esporte. Depois disso, o Brasil participou de todas as edições dos jogos olímpicos e de diversas competições internacionais de esgrima. Nas Olímpiadas de 2016, realizadas no próprio país, o Brasil mandou sua maior delegação na história, com 13 esgrimistas, e também obteve seu melhor resultado com Nathalie, na espada individual, que chegou até as quartas de final. Os atletas que disputaram os últimos jogos revelaram que o público se interessou mais pelo esporte e que projetam uma ascensão do esporte no Brasil.

Nesse cenário insere-se o entrevistado Luca Bonchristiano, 20 anos, paulistano e esgrimista desde seus 10 anos. Praticante do sabre, Luca foi campeão brasileiro sub-13 em 2010 e vice sub-14 no ano seguinte, além de vários torneios paulistas. Em 2011, sofreu uma lesão no joelho que o deixou fora da pista por 9 meses. Desde então, não participou de mais torneios, mas pratica o esporte até hoje, como hobby.

BJE: Como surgiu o interesse no esporte? O que te fez começar a treinar?

Luca Bonchristiano: Desde pequeno sou sócio do Esporte Clube Pinheiros, e lá existe um programa chamado CAD (Centro de Aprendizagem Desportiva). Nesse programa, são mostradas as crianças todas as modalidades que o clube oferece. Nisso, acabei criando interesse pela esgrima e decidi começar a praticar.

BJE: Aonde eram os seus treinos e como era sua rotina?

Luca Bonchristiano: Meus treinos eram no pavilhão da esgrima, dentro do clube. Eu treinava todos os dias por volta de 3 horas por dia, sendo 1 hora de treino físico, 1 hora de fundamentos e 1 hora de luta.

BJE: O que te levou a escolher o sabre como arma para treinar?

Luca Bonchristiano: Eu gostava mais do treinador do sabre do que das outras armas e como eu era uma criança, isso era um fator importante. Também me agradava o fato de no sabre poder realizar o toque com o corte da arma, ao invés de só com a ponta como no florete e na espada.

BJE: O que te deixava mais motivado na prática da esgrima?

Luca Bonchristiano: O que mais me motivava eram meus bons resultados em competições, além do fato de desde que sempre tive um interesse muito grande pelo mundo épico/medieval e entendia que a esgrima eludia a esse mundo de alguma forma, trazendo um pouco desse mundo para meu dia a dia.

BJE: Após a lesão, o que te fez voltar a praticar e não desistir?

Luca Bonchristiano: Depois da lesão, que na época foi considerada grave, decidi parar de competir e consequentemente passei a treinar muito menos. O que me fez continuar foi o prazer de praticar a esgrima, que acabei adquirindo após anos de treino, além daquilo já estar inserido na minha rotina, o que me fez sentir muita falta quando fiquei parado 9 meses.

BJE: O que você sente que a esgrima te traz de diferencial na vida extra esportiva?

Luca Bonchristiano: A esgrima é um esporte extremamente psicológico, que exige um alto nível de concentração. É normal fazer ou tomar uma série grande de pontos, ou seja, ficar muito atrás ou abrir vantagem. Com isso aprendi a me manter frio e concentrado em situações adversas, e não me empolgar demais quando estava em vantagem, tanto na esgrima como na vida.

Por fim, Luca deixa a dica para quem tem interesse no esporte: “A principal dica que eu poderia dar para quem quer começar na esgrima seria encontrar um clube ou local que tenha bons equipamentos e pistas adequadas à disposição. Dessa forma, é possível habituar-se ao clima de competição e aperfeiçoar-se cada vez mais nessa prática”.

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