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Xadrez: do Cálculo à Prática

Por Vinícius Loyolla Silvério

(Pridia)
Partida do Economíadas de 2017 – (Pridia)

 

O esporte de estratégia e tática é jogado por duas pessoas em um tabuleiro com 32 peças (16 para cada jogador) de seis tipos. Cada peça move-se de forma distinta e o objetivo do jogo é dar o xeque-mate, isto é, ameaçar o Rei do oponente com a captura inevitável, porém, os jogos não terminam necessariamente com o xeque-mate, os jogadores com certa frequênciadesistem se acreditam que irão perder. Além disso, existem várias formas de um jogo terminar em um empate.

O xadrez possui diversas variações espalhadas pelo mundo, jogos semelhantes que evoluíram
de uma mesma origem, o Chaturanga, que já era praticado na Índia no século VI. Por ser um
jogo totalmente baseado em lógica e estratégia, não envolve a sorte, exceto quando se diz
respeito ao sorteio das cores do tabuleiro, já que as peças bancas realizam o primeiro
movimento.
Os atuais campeões mundiais de xadrez são: Magnus Carlsen na categoria absoluta, onde
homens e mulheres podem competir igualmente, e Mariya Muzychuk na categoria feminina.
Além disso, existem vários grandes nomes na história do xadrez, como Garry Kasparov,
contra o qual nosso entrevistado teve uma partida de xadrez.
João Paulo Oba tem 22 anos, é estudante da FEA USP (Faculdade de Economia,
Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo, está no quarto ano de
administração no noturno, e pratica xadrez desde os 8 anos de idade.
BJE: Como e quando você conheceu o xadrez, e o que te fez gostar do esporte e querer
praticá-lo?
João Paulo Oba: Eu conheci o xadrez através do meu avô, quando tinha cerca de 8 anos,
jogava muito com ele de brincadeira, e na minha escola também o xadrez era obrigatório da
primeira à quarta série, então tem estes dois lados. Acho que comecei a gostar mais porque
desenvolvi uma facilidade com o xadrez, então um levou ao outro, achava fácil e gostava de
jogar, então ganhava e acabei me desenvolvendo mais. Pela escola a gente participava de
torneios escolares, e depois da quarta série eu comecei a participar de campeonatos
brasileiros, regionais, e também a jogar pelo clube, isso foi ampliando o nível de
competitividade e tamanho das competições. Pratiquei com bastante frequência até o primeiro
colegial, aí parei e retomei na faculdade, mas com menor frequência, apenas pra me divertir,
e não tão competitivamente.
BJE: Como você acha que o esporte é encarado no meio em que pratica? Há algum tipo de
discriminação sexual ou mesmo com o esporte em si?
João Paulo Oba: Com relação ao meio, tanto na faculdade quanto na escola, o xadrez não é
um esporte muito popular, então pouca gente conhece e sabe realmente como funcionam as
regras e que é um esporte oficial, mas não vejo também nenhuma discriminação, sempre
houve bastante respeito. Acredito que dentro do esporte não haja nenhum tipo de
discriminação sexual, apesar de só poder afirmar isso por mim enquanto homem jogando.
Um fato interessante sobre o xadrez é que é dividido em feminino e absoluto, onde as
mulheres podem competir tanto no feminino quanto no absoluto, e os homens só podem
competir no absoluto. É claro que sabemos que existem pessoas na faculdade que não
encaram o xadrez como esporte, e até questionam se deveria estar nos campeonatos, como
Interusp ou Economíadas, mas é a minoria das pessoas, pois a maioria das atléticas e atletas
apoiam, e na minha escola, como ela era bem forte no xadrez, era muito bem divulgado.
Além disso, com relação à discriminação sexual, sempre conheci meninas muito boas no
xadrez, e acho que isso contribui para que o ambiente seja mais igualitário.
BJE: Com que frequência você pratica o esporte? Como costumam ser os treinos em geral?
Existe algum tipo de estratégia que você normalmente usa pra treinar?
João Paulo Oba: A frequência varia bastante, pois como eu treinei desde os 8 anos de idade,
as frequências foram se alterando, da primeira à quarta série eram mais esporádicos, cerca de
duas vezes por semana, mais atrelado à diversão. Da quinta à oitava série, era um período
mais intenso, eu praticava duas vezes por semana no clube, uma vez por semana em aula
particular, e mais as aulas no colégio, somando acredito que dava em torno de 5 a 6 vezes por
semana, mais os campeonatos nos finais de semana, era bem intenso. Na faculdade eu só
tenho jogado em campeonatos, não treino mais no dia a dia, só jogo um pouco antes do
campeonato pra repassar algumas estratégias. Os tipos de treino variam bastante com relação
ao treinador, e à fase em que você está, o xadrez se divide basicamente em começo, onde
você treina sua abertura, onde você vai decorar os primeiros lances (em torno de 15), e as
possíveis respostas do adversário, um competidor de nível médio possui em média de duas a
três possibilidades de aberturas diferentes, que te possibilita possuir um controle maior da
partida, pois as peças estarão mais próximas umas das outras, o meio jogo, quando as peças
entram em maior contato, e o final, que é quando há um menor número de peças. Não há um
número correto de lances pra se determinar quando se está no meio ou no final do jogo, isso é
mais definido pela quantidade de peças e a maneira com que o jogo está fluindo. Você pode
treinar de algumas maneiras, dividindo tática, e estratégia. A tática é basicamente o seu
potencial de cálculo, que envolve o quanto você pode pensar à frente do seu adversário, por
exemplo imaginar os possíveis lances dele e suas melhores respostas para eles, antes que
estes lances sejam feitos. A parte da estratégia é você ter uma visão geral do que está
acontecendo no jogo, por exemplo se você deve jogar mais do lado esquerdo ou direito do
tabuleiro. Um treino se divide de alguma maneiras segundo os momentos de jogo e o tipo de
treino que você quer seguir, a parte tática normalmente você pode usar livros de tática, ou
mesmo de cálculo, e é mais fácil de desenvolver sozinho, enquanto que a parte de estratégia,
é mais difícil, normalmente a maioria dos professores e técnicos de xadrez te ajudam mais
nesta parte, que às vezes você não sabe muito bem o que fazer, mas tem uma certa noção de
como está o andamento do jogo e o que pode acontecer, os professores reproduzem jogadas
de grandes mestres enxadristas, e te incentivam a falar dos lances e a sua opinião sobre estes
e as comparações. Aí ele compara o gap de visão de jogo que há entre você e os grandes
mestres, e tenta te encaminhar pra diminuir este gap. É muito relacionado à visão mesmo,
onde você precisa olhar o tabuleiro, e entender da melhor maneira possível o que você precisa
fazer pra conseguir uma vantagem no jogo.
BJE: Qual foi a sua Maior conquista, e o maior desafio que você já enfrentou jogando
xadrez?
João Paulo Oba: A maior conquista acho que foi em 2011 quando eu tinha 16 anos e fui vice
campeão brasileiro. Acho que o maior desafio foi em 2012, quando um grande mestre
chamado Garry Kasparov, considerado um dos melhores jogadores da história do xadrez, foi
fazer uma partida simultânea, onde ele jogava com 40 pessoas ao mesmo tempo, e eu
participei, acho que fui o último a jogar com ele, a partida durou uns 40 lances, e foi um
grande desafio controlar o nervosismo jogando contra um grande mestre, saber definir bem os
lances, e era muito difícil porque tudo que eu pensava ele provavelmente já tinha imaginado.
Todo mundo perdeu, mas a minha partida foi a que durou mais, que acho que foram 40
lances.
BJE: Você tem alguma dica pra dar pra quem tem interesse em começar a praticar? Acha que
demanda muito esforço e prática?
João Paulo Oba: Acho que como todo esporte, primeiro de tudo você tem que gostar, por não
ser um esporte muito popular também, encontrar alguém que goste também pode ajudar
bastante a começar. Acho que pra iniciar, hoje em dia é muito fácil, em qualquer site de
xadrez você consegue jogar contra alguém online, provavelmente no começo você vai perder
bastante, mas é normal, aí você vai pegando gosto pela coisa, olhando seus erros e tentando
corrigir, e num primeiro momento é isso: pegar gosto pelo esporte e ter noção e saber como
melhorar nos treinamentos, e quando você chegar num certo nível, talvez você vá precisar de
alguém pra te ajudar a treinar. E também é claro que vai demandar um pouco de esforço e
prática, porque como qualquer outra coisa na qual você quer se desenvolver, você precisa
tirar um tempo do seu dia pra praticar se quiser melhorar.
Email para contato: vinicius.silverio@usp.br