Crônicas

QUATRO ANOS DEPOIS DO 7 A 1, por Sérgio Quintanilha

Eu estava lá. Em pleno Mineirão. A convite de uma empresa alemã que há seis décadas faz de tudo para ser vista como brasileira: a Volkswagen. Sentado no anel superior do novo Mineirão, estava longe do gramado como se visse o jogo pela televisão. A diferença é que havia um mar de camisas amarelas à minha volta e em todo o anel inferior. Mas lá do lado esquerdo, atrás de um dos gols, havia um aglomerado de alemães. Não tantos como parecia haver dentro de campo. Uns de camisas brancas, outros de camisa rubro-negras. Seria preocupante se todos aqueles gols estivessem saindo num amistoso da Seleção Brasileira contra o Flamengo. Mas era gol de Alemanha. E gol da Alemanha. E gol da Alemanha. Lembrei do silêncio do Maracanã na Copa de 1950 e levantei a gritar: “Eeee, leleôôô… leleô, leleô, leleô, Brasil!” Dessa vez não perderemos por omissão da torcida, pensei. Alguns me olharam como se fosse um ET. Outros acompanharam. Mas logo saiu outro gol da Alemanha. E outro. E outro. E mais outro. O tempo parecia ter parado. Pessoas choravam. Outras passavam mal. Eu temi pelo pior. Tinha a sensação de que o mundo estava acabando, que tínhamos entrado numa espécie de buraco negro onde toda a realidade perdera o sentido. O jogo terminou 7 a 1 para a Alemanha. Os alemães da Volks, coitados, estavam alegremente constrangidos. Um vexame épico. Quatro anos depois, o Brasil vai a Berlim e ganha por 1 a 0, em amistoso sem importância, contra um catado da Alemanha. Suficiente para Tite aparecer na televisão dizendo que o orgulho voltou, que brasileiro não desiste nunca e outras pachequices idiotas. Quatro anos depois. E a sombra do 7 a 1 persiste,  pois nada mudou no país do futebol.

Sergio Quintanilha para o Especial “Crônicas Esportivas, Copa do Mundo e Seleção Brasileira de Futebol”

Sobre o autor : Aluno Especial do Doutorado da USP e Mestre em Comunicação pela Faculdade Cásper Líbero