O VOVÔ E O BEQUE, por Felipe Parra
Era uma quarta-feira qualquer. Eu e meu avô assistíamos um Corinthians e Santos que estava sendo televisionado. Uma forma que encontrei de passar um tempinho a mais com uma pessoa querida.
Porém, confesso que meus conhecimentos sobre times e jogadores atuais não são os melhores. O fanatismo futebolístico que habitava em mim perdeu força ainda quando Gralak e Henrique eram nomes de destaque na defesa corinthiana.
Essa minha sapiência jurássica sobre o futebol arte do Brasil combinava com a TV de tubo que ficava ao lado de uma cristaleira empoeirada, onde repousava belas louças do arco da velha. Com essa perspectiva defasada e capenga, eu tentava comentar algumas jogadas daqueles que, aos meus olhos, eram ilustres desconhecidos.
Em meio a essa atmosfera nostálgica, meu progenitor esbraveja:
– Que zaga horrível! Bom mesmo era o Wallace! Grande marcador. Campeão mundial pelo timão. Ele pendurou as chuteiras?
– Não vô, hoje ele joga em um time turco.
– Ué! Não sabia que turco jogava bola!
– Pois é. Joga sim. Tem times bons lá.
Depois de refletir por alguns minutos, sem olhar para mim, desabafa:
– Deve ser ruim jogar lá fora. O beque some da TV e da cabeça do brasileiro.
Sábio vovô.
Felipe Parra para o Especial “Crônicas Esportivas, Copa do Mundo e Seleção Brasileira de Futebol”