Reportagens

O impacto da “Associação Eremim” na cidade de Osasco

Por Isabella Salvini

Foto retirada da página oficial da Associação no Facebook

 

A importância do esporte e da educação dos jovens para a cidade

Osasco é uma das maiores cidades que compõem a Região Metropolitana de São Paulo com uma população em torno de 700 mil habitantes. Tem uma das piores taxas de escolarização do Estado e cerca de 217 mil pessoas classificadas pelo IBGE como pobres. Os números alarmantes refletem um índice de Gini superior ao estadual, evidenciando a imensa disparidade econômica que aflige a cidade.
Como um reflexo histórico desse fato que não é nada atual aos moradores da cidade, Osasco é marcada por ser altamente sindicalizada. Nesse contexto, um dos bairros mais tradicionais da cidade leva o nome de Rochdale, em alusão a uma cooperativa inglesa fundada em 1844 que foi um modelo na época na luta por uma alternativa às consequências da Revolução Industrial, com jornadas de trabalho exaustivas e péssimas condições sociais. Nesse bairro o Sindicato dos Metalúrgicos funda, em 1999, a Associação Eremim que, segundo o Centro de Referências em Educação Integral, tinha como objetivo “fomentar alternativas ao território a partir da educação e da conscientização do papel ativo de cada morador junto à comunidade.” Algo que tinha uma extrema relevância na época já que segundo dados de uma pesquisa realizada pela própria associação, ainda em 99, 60% da população do bairro vivia com menos do que um salário mínimo, além de altos índices de evasão e repetência escolar entre crianças e adolescentes.
Atualmente a Associação busca oferecer uma melhoria da qualidade de vida e instrumentos para que a população melhore de forma coletiva o nível de desenvolvimento humano, a partir de ações socioeducativas, culturais, lazer, de geração de emprego e renda e de esporte. Tendo como sede o Metal Clube, fundado pelo sindicato com uma importante estrutura poliesportiva e de lazer, o programa hoje atende crianças e adolescente de 9 a 15 anos provindos de família de baixa renda.
Na busca por fortalecer o desenvolvimento de cidadãos com pensamento crítico que vão agir em prol das mudanças sociais necessárias para a sua comunidade, o Professor Gilmar Santos da Silva, de 34 anos, que participa da associação desde seu início, fala com orgulho do programa

Professor Gilmar à esquerda. Foto cedida pelo entrevistado.

 

Isabella Salvini: Quando você começou a trabalhar na Associação Eremim?
Gilmar Santos: No ano de 1999 com 15 anos de idade realizei um curso (monitor esportivo e recreativo) na associação. Fiquei um ano como voluntário e no ano de 2002 comecei a realizar atividades físicas com os educandos.

I. S.: Você viu se a associação se transformar muito desde então?
G. S.: Aconteceu muita transformação na associação, no número de educandos atendidos, atividades realizadas e as faixas etárias. As formas de separar os educandos em turmas eram por cores, 7 e 8 anos azul, 9 e 10 verdes ,11 e 12 laranjas ,13 e 14 vermelhos e 15 anos preto. Depois foram formados Núcleos: o Núcleo de Arte e Criatividade, Núcleo de Dança, o Núcleo de Música e o Núcleo de Hip Hop.

I.S.: Como você acredita que a associação beneficie o bairro do Rochdale?
G. S.: O projeto é para os moradores do bairro Rochdale e vem possibilitando aos seus educandos a vivência de algumas modalidades esportivas e a prática da natação. Os educandos participam da associação no contra turno escolar. A Associação tem uma parceria com o Instituto Criar que capacita jovens para trabalhar na área de TV e Cinema.

I. S.: E quanto o esporte pode agregar na vida de alguém?
G. S.: A prática esportiva é muito importante no desenvolvimento de criança, adolescente e jovem, em questões de valores que são trabalhados nos jogos, acima de tudo é uma formação para vida e de alguma forma o esporte tenta ajudar a família na educação de seus filhos.

I.S.: Tem alguma situação que te traga orgulho ao lembrar?
G. S.: Tenho orgulho de ter participado da associação como educando e hoje ser um Educador. Orgulho do meu filho participar do mesmo projeto. Orgulho de encontrar alguns educandos que já passaram pelo o projeto e hoje estão trabalhando na área da atividade física. Orgulho de encontrar família e ouvir o quanto a associação foi bom para o seu filho.

Professor Gilmar no centro ao fundo. Foto cedida pelo entrevistado.

 

I.S.: Alguma consideração final?
G.S.: Mais envolvimento de algumas empresas para patrocinar o esporte e a atividade física nos locais periféricos.

Professor Gilmar terminou seu relato mencionando a importância do investimento privado em projetos sociais para a promoção do esporte principalmente em locais periféricos. Apesar de a Associação Eremim ser financiada por um sindicato, graças a lei de incentivo fiscal, outros projetos surgiram nas últimas décadas na cidade de Osasco com o objetivo de expandir a prática esportiva até a periferia. As consequências vão desde a educação da criança e evitar que a mesma largue os estudos, até a ampliação de horizontes em relação a qual profissão e quais oportunidades ela pode ter no futuro.
Portanto, a promoção do esporte para pessoas de classes sociais mais baixas pode ter um impacto muito positivo na qualidade de vida da população. São trabalhos como o do professor Gilmar que possibilitam mostrar que o esporte não deve ser elitista e excludente.