Crônicas

Quando se aprende a torcer por um time nos mais difíceis anos de sua história

Por Luiz de Lucca Neto

No ano de 2001 o Botafogo Futebol Clube, da cidade de Ribeirão Preto, no interior de São Paulo, disputava pela última vez o campeonato brasileiro da série B. Após viver bons momentos na década de 1990, disputando a séria A do Brasileiro e concorrendo com os grandes clubes da capital pelo estadual, – chegando, no mesmo ano de 2001, a decidir o título com o Corinthians, em um Estádio Santa Cruz abarrotado – o Botafogo entrava numa era de rebaixamentos consecutivos e crises ininterruptas que o riscaria do quadro dos clubes tradicionais do cenário brasileiro. Ninguém sabia, ninguém se lembrava onde havia parado o time do interior. Em 2006 o clube disputava a série A3 do campeonato paulista e amargava a enorme distância de qualquer divisão nacional.

Toda esta história eu mal conhecia: em 2001 tinha apenas 9 anos e pouco contato tinha com a cidade de Ribeirão Preto. Em 2006, mal sabia por onde passava o ora glorioso Botafogo Futebol Clube de Zé Mário, assim como nenhuma ideia fazia de quem tinha sido o tal de Zé Mário que tanto ouviria falar nas arquibancadas do Santa Cruz nos anos seguintes. É somente em 2008, quando o acaso me leva a morar a uma quadra do estádio, que de fato começo a me envolver com o time que, naquele momento, encarava a luta pelo acesso à série A1 do Paulistão.

Avancemos para 2018. Esta retrospectiva é relevante porque, até então, o Botafogo amargava as divisões inferiores do futebol brasileiro e, desde 2001, não disputava a Série B nacional. Em 2008 o clube conseguiu o acesso à elite do estadual e por lá permanecendo por dez temporadas seguidas até hoje. Nestes dez anos alguns títulos do interior, algumas poucas temporadas lutando pra não cair e outras tantas disputando o mata-mata do estadual com os times da capital. O mais importante era voltar a disputar as divisões nacionais, e foi um processo doloroso: calcificação pelo Paulistão e três vezes disputando a série D para, finalmente ser campeão e subir à C. Uma alegria inesquecível a conquista do primeiro título brasileiro.

Nos anos seguintes mais 3 tentativas: na primeira, classificação para o mata-mata após dezoito rodadas e, empate em 0a0 e derrota por 1a0 para o ABC de Natal no jogo de volta. Na segunda desclassificação na primeira fase após liderar quase todo o campeonato e perder a vaga na última hora. Na terceira, havia de ser a hora, classificação em primeiro lugar geral e no mata-mata do acesso a disputa contra o xará Botafogo da Paraíba.

Agora uma pausa. Morando em São Paulo há alguns anos poucas vezes pude acompanhar estas decisões enfrentadas pelo Botafogo nestes dez anos. Desta vez, na primeira oportunidade não declinei. Foram três dias de viagem de carro até João Pessoa na Paraíba para assistir ao primeiro jogo das quartas de final, que dava o acesso ao time vencedor. Infelizmente, derrota por 1a0 para o rival e mais três dias de carro na volta.

O jogo da volta foi no Estádio Santa Cruz, vinte e quatro mil torcedores botafoguenses acompanharam o jogo mais tenso de suas vidas, da minha com certeza. Caio Dantas faria o gol da redenção aos 48 minutos do segundo tempo e, na decisão por pênaltis, o Botafogo Futebol Clube voltava à série B após dezessete anos. Para mim, mais do que a viagem de seis dias para acompanhar o time que aprendi a torcer, era a volta ao cenário nacional de uma história gloriosa que nunca vivi, apenas ouvi dos torcedores mais antigos ou nos cantos entoados pela torcida nas arquibancadas, a partir de agora poderei viver esta história pessoalmente.

Foto tirada no jogo de ida em João Pessoa-PB
foto tirada no jogo da volta no Estádio Santa Cruz em Ribeirão Preto-SP