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A história (quase) esquecida de Horácio Baby Barioni – Parte 1: O Combatente

Por Gustavo Longo

A pandemia de COVID-19 embaralhou muitas situações do nosso dia a dia, inclusive os feriados. A mais recente tentativa do Governo do Estado de São Paulo em garantir o isolamento social e reduzir o fluxo de pessoas consistiu no adiantamento de alguns feriados entre 20 e 25 de maio. Entre as datas escolhidas estava o 9 de Julho, marco da Revolução Constitucionalista de 1932 para os paulistas.

O espaço aqui é para falar de esporte e não discutir a importância de um evento histórico que não tem relação com o desenvolvimento esportivo. Ou será que tem? Entre os combatentes paulistas, estava um homem essencial para a promoção de modalidades e revelação de atletas em todo o interior paulista: Horácio Baby Barioni.

Sim, o criador dos Jogos Abertos do Interior, dos Jogos Regionais e promotor de dúzias de eventos esportivos não só em São Paulo, mas em outros estados brasileiros esteve no front ao lado das Forças Paulistas na luta travada em 1932.

A partir desta semana, o Jornalismo Esportivo ECA/USP vai trazer a história de Horácio Baby Barioni, um dos grandes personagens esportivos do país no século 20. Atleta, cronista, dirigente e combatente, responsável pela maior competição poliesportiva da América Latina, ele merece um resgate de sua trajetória, que vai ser contada em quatro partes. 

Reprodução de uma das últimas fotografias de Baby Barioni – Crédito: Arquivo Pessoal Edna Barioni

Para entender como se tornou combatente de guerra, é preciso voltar no tempo. Horácio Geraldo Barioni nasceu em 19 de maio de 1906 e não em 18 de maio de 1905, como atestam diversos sites. A confirmação está em uma breve nota do jornal A Gazeta, de 19 de maio de 1926: “Baby Barioni faz annos hoje, isto é, hoje completa 20 repolhos do tamanho de 365 dias cada um…” (grafia da época).

Ele é um dos filhos mais novos do casal Orestes e Regina Barioni, italianos que chegaram ao Brasil em 1888 e um dos quatro que nasceram já na capital paulista. A família se estabeleceu na Ladeira General Carneiro, na região da Sé, em São Paulo, e montou um Armazém de Secos e Molhados. Dessa forma, nasceu e cresceu no coração de São Paulo enquanto que a família também crescia e prosperava.

Isso fez com que Baby Barioni se transformasse em um grande entusiasta e admirador convicto do estado de São Paulo. Quando a Revolução Constitucionalista começou, em julho de 1932, ele não pensou duas vezes: se voluntariou no Batalhão de Emergência Borba Gato, composto por civis e organizado pelo 2º Batalhão de Caçadores Paulistas (hoje, o 2º BPM/M, que atende na região da Penha, na capital).

Além de auxiliar em combate, exercia uma função primordial para a época: era correspondente de guerra para o jornal A Gazeta, de Cásper Líbero (o qual tinha grande admiração). Seus relatos do front abasteciam as páginas do veículo, que também se tornou em um dos símbolos da revolução.

“O meu pai tinha essa paixão grande por São Paulo, por tudo o que representa para o país. Foi algo que ele se orgulhou muito”, confirma Edna Barioni, filha mais nova de Baby Barioni.

Uma relíquia guarda todas essas lembranças: uma granada desativada da época da Revolução de 1932, que fica exposta entre fotos e quadros da família na sua casa, na Zona Sul de São Paulo.

A Revolução Constitucionalista de 1932 chegou ao fim em 2 de outubro daquele ano com a derrota dos paulistas. Para Baby Barioni, também foi o ponto final em sua trajetória de atleta. Se antes ele participava de provas de atletismo e era pivô de basquete do Palestra Itália (campeão paulista em 1928, 1929, 1931 e 1932), depois do combate ia se dedicar a uma nova função. Começava ali a trajetória do técnico de basquete e dirigente esportivo, mudando para sempre o esporte no interior.

Edna Barioni ainda guarda uma granada como lembrança da atuação de Baby Barioni nas forças paulistas da Revolução Constitucionalista de 1932

Gustavo Longo é jornalista especializado em cobertura esportiva e Mestrando no Programa de Pós-graduação em Ciências da Comunicação na ECA/USP