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A história (quase) esquecida de Horácio Baby Barioni – Parte 2: O Atleta

Por Gustavo Longo

A luta ao lado das Forças Paulistas na Revolução Constitucionalista de 1932 representou um importante marco temporal para Horácio Baby Barioni. O período de três meses de combate no Batalhão Borba Gato como correspondente de guerra no jornal A Gazeta o afastou das competições esportivas, forçando sua “aposentadoria” precoce aos 26 anos.

Aposentadoria entre aspas porque, naquela época, a prática esportiva não era profissional e, portanto, ele não vivia como atleta. O fato é que, após 1932, Baby resolveu interromper as competições para ensinar e promover modalidades em todo o estado – ainda que, nos dez anos anteriores, ele tenha sido um dos grandes nomes do esporte amador paulistano.

Esta é a segunda parte do especial sobre Baby Barioni que o site Jornalismo Esportivo ECA/USP está desenvolvendo. Na semana passada, você conheceu a história como combatente da Revolução Constitucionalista de 1932 e a importância deste evento histórico em sua trajetória. A série, que resgata a biografia do responsável pela maior competição poliesportiva da América Latina, ainda vai contar com mais dois relatos nas próximas semanas.

Desde sua adolescência, Horácio Baby Barioni demonstrava grande apreço pelas práticas esportivas e pelos benefícios de saúde que poderiam proporcionar às pessoas. Ele cresceu em uma época de intenso desenvolvimento esportivo no país, em que clubes emergiam seja para agrupar a elite econômica, seja para servir como lazer para classes médias e subalternas (HILÁRIO FRANCO JÚNIOR, 2007).

Descendente de italianos, encontrou espaço no Palestra Italia, fundado em 1914 e que atualmente é a Sociedade Esportiva Palmeiras. Ele ingressou no clube nos primórdios da década de 1920 e esteve lá em toda a sua trajetória atlética até os anos 1930.

Dessa forma, Baby invariavelmente se interessava e praticava qualquer modalidade em que fosse convidado a conhecer. Ele se envolveu em diversas atividades físicas, seja como atleta ou como incentivador. Entre elas estão atletismo, basquete, rugby, ginástica, vôlei, beisebol e até mesmo o futebol. Confira um relato na Folha de Manhã de 15 de novembro de 1929:

“O quadro do EC Paulistano da Cantareira vae jogar, disputando a taça “Villa Mazzei”, reforçado pelo athleta paulista Horacio Barioni, esportivamente conhecido por Baby, tendo já militado com destacado successo nos nossos campos de athletismo, bola ao cesto, rugby e que, ultimamente, vinha se revelando um excellente jogador de basebol. Agora no futebol, Baby está fadado a ter o mesmo progresso que teve nos outros esportes, pois, sua actuação, quer jogando na linha de medios, quer jogando na linha atacante, de jogo para jogo, demonstra que em breve, a andar nesse passo, o veremos entre os nossos principaes campeões do “soccer” paulistano” (grafia da época).  

Charge de Baby Barioni sobre sua participação no futebol pelo EC Paulistano da Cantareira

Contudo, ele obteve destaque e reconhecimento em dois esportes específicos. O primeiro foi o atletismo, principalmente em provas de média e longa distância (10km a maratona). Antes mesmo de completar a maioridade, participava de corridas nas ruas de São Paulo. Em 1923, aos 17 anos, competiu nos 10km da prova Urbino Taccola e terminou na 19ª posição da classificação geral – foi o melhor representante palestrino da disputa.

Entre 1924 e 1925 participou de diversas disputas, como a Maratona Paulista, que ia de São Paulo a Mogi das Cruzes, a Volta de São Paulo e demais provas patrocinadas pelos clubes paulistanos. Era filiado à Federação Paulista de Atletismo e também atuava como fiscal de corridas. Inscrito na São Silvestre de 1926, não pôde correr porque foi escalado para ser um dos juízes de percurso. Debutou no evento em 1930, mas naquela época já era considerado uma estrela de outro esporte.

Alto e forte, a ponto de receber a alcunha de “El Toro de Los Pampas” por conta da semelhança com o pugilista argentino Luis Angel Firpo (dono do apelido e um dos principais nomes do boxe na época), Baby Barioni virou pivô da equipe de basquete do Palestra Itália a partir de 1925. Seu jogo físico chamava a atenção da imprensa, ainda que rendesse advertências por excesso de violência na quadra pela Federação Paulista de Bola ao Cesto (como o basquete era conhecido na época).

“É um dos melhores atacantes da turma palestrina. A sua jogada é firme e proveitosa. Baby toma o adversário pela bola, fazendo-o atravessar pelo cesto” (A Gazeta, 9 de dezembro de 1925).

Relato de Baby Barioni como atleta de basquete do Palestra Itália

Em 1926, quando já era um dos grandes nomes do basquete paulista e no auge da forma física, teve desentendimentos com o Palestra Italia e abandonou o clube. Foi convidado a montar a equipe de bola ao cesto do Antarctica FC, que competia apenas no futebol e desejava entrar na modalidade. Foi ali que teve sua primeira experiência como treinador e promotor esportivo.

Entretanto, a aventura não durou muito. Em fevereiro de 1927, relatos já mostravam que ele retornaria ao clube de seu coração. De fato, em 23 de maio daquele ano, foi inscrito pelos palestrinos para disputar o campeonato municipal – ainda que tenha prosseguido com as atividades do Antarctica no primeiro semestre na Liga dos Amadores. Tal situação o fez ser suspenso pela Federação Paulista de Bola ao Cesto, que o afastou da parte final da temporada.

Entretanto, o que se viu nos anos seguintes foi um domínio completo do Palestra Itália no Basquete paulista. Com Baby Barioni de pivô, o clube foi campeão paulista em 1928, 1929, 1931 e 1932 (os dois últimos anos já com presença de times do interior) e do Torneio Início em 1931, segundo relatos da Sociedade Esportiva Palmeiras.

Era reconhecidamente talentoso na Bola ao Cesto. Não chegou a ser convocado para a seleção brasileira de basquete na primeira edição do Sul-americano da modalidade em 1930. Contudo, em 1927, no auge de sua forma, integrou a Seleção Paulista no desafio contra a Seleção do Rio de Janeiro – e dessa experiência surgiu, de forma indireta, a ideia dos Jogos Abertos do Interior.

Mas isso é assunto para outras histórias!

Gustavo Longo é jornalista especializado em cobertura esportiva e Mestrando no Programa de Pós-graduação em Ciências da Comunicação na ECA/USP