Guia da Fórmula 1 do Globo Esporte é exemplo de jornalismo interativo
Por Sergio Quintanilha
Assim como a vida, o esporte se tornou líquido, segundo a concepção de modernidade do filósofo polonês Zygmunt Bauman. Nos dias atuais, as tradições são relegadas a um plano inferior e o que predomina é a incerteza. Nada mais cabe certinho dentro de um quadrado, os formatos mudam o tempo todo, como se fossem água ao sabor do vento e dos recipientes. No automobilismo também é assim. Nem mesmo a Fórmula 1 – a mais importante categoria dessa modalidade esportiva – mantém seus formatos fixos.
A temporada de 2020 foi o ápice dessa incerteza dos tempos líquidos. Devido à pandemia de Covid-19, várias provas foram adiadas ou canceladas. Em maio, finalmente, a Fórmula 1 divulgou um calendário inusitado, com duas provas no mesmo autódromo, no prazo de uma semana entre elas, em duas ocasiões. No início de junho, portanto, temos oito provas confirmadas e sete com a expectativa de serem realizadas (veja no final deste artigo as corridas confirmadas e as que estão a confirmar).
Aqui chegamos ao tema desta crônica, que é a forma interativa que marca o Guia da Fórmula 1 feito pelo site Globo Esporte, pois ele proporciona informação e diversão aos seus leitores. A descrição/justificativa do formato do guia é a seguinte: “A Fórmula 1 é um mundo complexo em muitos fatores precisam ser levados em conta. Por isso, é sempre um desafio traçar um panorama preciso das chances de pilotos e equipes para cada temporada. Mas o GloboEsporte.com aceitou o desafio e elaborou um ranking para apontar quais competidores entram em melhores e piores condições no Campeonato Mundial de 2020”.
Segundo o guia do Globo Esporte, Lewis Hamilton é o favorito para vencer o Mundial deste ano. O piloto inglês da Mercedes obteve os 55 pontos possíveis no ranking feito pelos editores. São seis itens analisados: carro, equipe, experiência, técnica, momento e estrela. Em cada um deles é possível ganhar de uma a cinco estrelas, ou seja, de 1 a 5 pontos. Porém, os itens carro e equipe têm peso 3, ou seja, podem render até 15 pontos cada um; e o item técnica tem peso 2, portanto pode render até 10 pontos ao piloto.
Hamilton obteve cinco estrelas em todos os itens e somou 55 pontos, seguido de Max Verstappen (50), Valtteri Bottas (45), Charles Leclerc (44) e Sebastian Vettel (43). Fez bem o Globo Esporte ao deixar claro para seu público que a corrida é de carros e não de pilotos. Assim, o melhor carro e a melhor equipe dão uma vantagem considerável ao piloto. Veja a seguir os critérios e as justificativas do Globo Esporte.
Carro (peso 3) – Na F1 tão importante quanto ser um bom piloto é ter um carro bom nas mãos. Nesse item é avaliado o potencial dos modelos de 2019, levando-se principalmente em consideração o chassi, a aerodinâmica e a capacidade de desenvolvimento de cada equipe.
Equipe (peso 3) – Aqui vale a estrutura do time: desde a dupla que forma a equipe, passando pela capacidade de desenvolvimento e de superar desafios, até o modo como a chefia comanda tudo.
Experiência (peso 1) – A experiência é sempre um fator a se levar em conta. Idade, maturidade e tempo de carreira sempre ajudam um piloto em um esporte de tanta pressão, onde é preciso tomar decisões em alta velocidade.
Técnica (peso 2) – Mesmo com tanta tecnologia, a parte humana ainda é crucial. Não adianta ter um ótimo carro e um poderoso motor se no cockpit não estiver um talento atrás do volante. Os pilotos da F1 seguem tendo aquele a mais para guiar máquinas a 300km/h que os diferem do cidadão comum.
Momento (peso 1) – O fator psicológico também pesa. Um piloto com moral alta sempre tende a render mais e a ousar mais em uma corrida. Um piloto sem confiança tende a render menos e desperdiçar boas oportunidades.
Estrela (peso 1) – E não basta apenas ter talento. Para fazer sucesso na F1 é sempre bom ter uma pitada de sorte. Ao analisar o histórico de cada piloto, podemos ver quem tem a chamada “estrela” que o faz estar no lugar certo, na hora certa.
O Guia da Fórmula 1 poderia terminar aí e já seria um grande trabalho jornalístico, pois todos os pilotos, carros e equipes foram analisados. Mas o Globo Esporte foi além e oferece também a interação, ou seja, a oportunidade de os leitores votarem em seus pilotos favoritos. Na votação dos leitores, a vantagem de Lewis Hamilton foi ainda maior. Ele obteve 54,6% dos votos, seguido de Verstappen (17,8%), Leclerc (15,7%), Vettel (5,6%) e Bottas (1,5%). Esse resultado reflete também um fator importante para o jornalismo esportivo: o de influenciar opiniões. Vale dizer que os leitores só podem votar uma vez.
Para quem busca um caminho para a cobertura esportiva na modernidade líquida, uma sociedade na qual os próprios leitores competem com os jornalistas especializados, o Guia da Fórmula 1 do Globo Esporte é um bom exemplo. Afinal, um leitor sozinho consegue postar informações, dar opiniões e compartilhar uma notícia, mas não tem uma estrutura que o permita oferecer um serviço informativo e interativo ao mesmo tempo. O Guia da Fórmula 1 do Globo Esporte é patrocinado pelo banco Santander.
CALENDÁRIO 2020
Corridas confirmadas
05/07 GP da Áustria – Red Bull Ring
12/07 GP da Estíria – Red Bull Ring
19/07 GP da Hungria – Hungaroring
02/08 GP da Grã-Bretanha – Silverstone
09/08 GP do 70º Aniversário – Silverstone
16/08 GP da Espanha – Catalunya
30/08 GP da Bélgica – Spa-Francorchamps
06/09 GP da Itália – Monza
Corridas a confirmar
20/09 GP de Cingapura – Marina Bay
27/09 GP da Rússia – Sochi
11/10 GP do Japão – Suzuka
25/10 GP dos EUA – Austin
01/11 GP do México – Hermanos Rodríguez
15/11 GP do Brasil – Interlagos
29/11 GP de Abu Dhabi – Yas Marina
Sergio Quintanilha é doutorando em Ciências da Comunicação na ECA-USP e escreve sobre automobilismo desde 1989 – twitter: @QuintaSergio