Fugas ao Clube da Esquina de Londrina
Por Luciano Victor Barros Maluly
O mês de junho começou com um misto de sol, frio e chuvas, o que me faz recordar os tempos de Londrina (PR), especialmente para quem estudou na UEL.
Período difícil para os estudantes dos cursos de Jornalismo e Relações Públicas, porque as faltas e as notas já estavam no limite e as possíveis reprovas nas disciplinas dos professores Eduardo Judas Barros e Sônia Weill rondaram os corredores do Centro de Educação, Comunicação e Artes (CECA).
Não tinha jeito e o negócio era ficar em casa, muito semelhante com esta época de distanciamento (isolamento) social. Como agora, a turma precisava ter paciência para não ficar pelo caminho e, por conseguinte, aproveitar as folgas no futuro.
Julho (e férias) chegando e a vontade de retornar para casa aumentava. Porém, havia picos de estresse e, então, surgiam as fugas sem grana para o Café Set, o Castelinho, o Valentino, o Bar Brasil e outros pontos de encontro da galera da Universidade Estadual de Londrina.
Quando a cabeça enchia, eu tinha uma saída fácil e divertida, de preferência sozinho ou com amigos, colegas ou paqueras: ficar escondido no Clube da Esquina, um charmoso recanto cheio de figuras (in) disciplinadas como os personagens do filme “Bar Esperança – o último que fecha”, dirigido por Hugo Carvana.
Nas minhas recordações, o charme do bar era marcado pelas mesas de bilhar, um quadro de Noel Rosa e as músicas da minha época:
Gostava de jogar bilhar no estilo mata-mata, pois é uma maneira simples de conhecer pessoas, seja no jogo individual, seja em duplas. Durante as aulas de Língua Portuguesa na UEL, comentei com o Prof. Dr. Miguel Luiz Contani sobre minha preferência por esportes. Nosso querido professor sugeriu o delicioso livro “Malagueta, Perus e Bacanaço”, de João Antônio – obra-prima da literatura brasileira e que sempre indico aos meus alunos de jornalismo esportivo da Universidade de São Paulo (USP).
O quadro de Noel Rosa com o cigarro na boca em nada se encaixa com as atividades físicas e as práticas esportivas, mas simbolizava a rebeldia de quem estava fugindo das obrigações. Não sei explicar direito, mas aquele sentimento era tão gostoso, como um grito contra qualquer cerceamento da liberdade.
Já as músicas do nosso refúgio agradavam pela diversidade em meio a um misto de loucura e inteligência, como bem descrito no subtítulo de um cartaz divulgado no Facebook do Clube da Esquina Londrina “…os sonhos não envelhecem”.
Uma dessas canções eu guardo até hoje como um hino da minha geração – “Rua Ramalhete”, de Tavito – a quem deixo como ponto final desta crônica em homenagem ao meu amigo Valdir Baptista, que partiu no seu Encouraçado Botequim.
https://www.youtube.com/watch?v=7asr3Q3LCUU
Luciano Victor Barros Maluly é jornalista formado pela UEL e professor de Jornalismo Esportivo na Universidade de São Paulo – lumaluly@usp.br