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Anos 50: Fórmula 1 aos pés de Fangio

Por Sergio Quintanilha

Antes de 1950 não havia um campeonato mundial de automobilismo. As corridas de Grand Prix eram realizadas em vários países do mundo, mas não existia um campeonato. A Fórmula 1 foi criada em 1950 e a primeira corrida foi realizada em Silverstone, Inglaterra, válida como Grande Prêmio da Europa, no dia 13 de maio. Os carros eram todos do período que antecedeu a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), mas a ideia foi criar um campeonato mundial de pilotos.

A primeira temporada teve apenas sete GPs e os pilotos podiam compartilhar o carro com um colega. Nesse caso, os pontos também eram compartilhados (somados, não divididos). O italiano Giuseppe Farina venceu o histórico Grande Prêmio número 1, em Silverstone, com um Alfa Romeo 158 e também acabou se tornando o primeiro campeão mundial. Ele obteve três vitórias, assim como o argentino Juan Manuel Fangio, também da equipe Alfa Romeo.

O campeonato era mundial, mas só havia uma prova fora da Europa, as 500 Milhas de Indianápolis, nos EUA. Enquanto a Indy 500 figurou no calendário, até 1960, os principais pilotos da Fórmula 1 não conseguiram ganhar essa corrida. Só os pilotos americanos venceram. Até 1957, o foco da F1 foi somente nos pilotos. O Alfa 158 campeão com Farina era um projeto de 1938. E o Alfa 159, campeão com Fangio em 1951, era só uma atualização do carro do ano anterior. Em 1952 e 1953, o Ferrari 500 dominou nas mãos do italiano Alberto Ascari, que chegou a ganhar nove corridas consecutivas.

Quando a Mercedes-Benz retornou às corridas, com o modelo W196, Fangio venceu nove corridas em duas temporadas e se tornou o primeiro tricampeão. Curiosamente, em 1954 Fangio obteve mais vitórias do que sua própria equipe, pois disputou (e venceu) o GP da Argentina pela Maserati. Um acidente nas 24 Horas de Le Mans de 1955, que provocou a morte de mais de 80 pessoas, levou a Mercedes a se retirar das corridas e aposentar o magnífico W196, que tinha uma versão com as rodas cobertas para pistas com grandes retas. O domínio alemão era consequência da busca por recordes de velocidade que a Mercedes e a Auto Union travavam antes da guerra.

Juan Manuel Fangio conduz o Maserati 250F número 32 no GP de Mônaco de 1957, conquistando sua segunda vitória na temporada e partindo para o pentacampeonato mundial.

Em 1956, Fangio foi para a Ferrari  e se tornou campeão com o modelo D50. Mas aquela temporada foi muito dura e Fangio obteve apenas duas vitórias, como o inglês Stirling Moss, da Maserati, porém somou 3 pontos a mais. O campeonato teve uma corrida crucial, o GP da França, no qual Fangio chegou em terceiro (4 pontos) e Moss marcou só 1 ponto pela volta mais rápida da corrida. Apesar do título, Fangio não gostou de correr pela Ferrari. Comandada por Enzo Ferrari, a equipe se colocava sempre como mais importante do que os seus pilotos (já naquela época).

O argentino então foi correr pela Maserati, equipe italiana com a qual tivera ótima experiência no GP da Argentina de 1954. Deu certo. A bordo do Maserati 250F, Fangio ganhou quatro corridas e obteve dois segundos lugares, chegando ao seu quinto título mundial com quase o dobro de pontos de Moss. Sua carreira contava 24 vitórias e 28 poles em 49 GPs.

Em 1958, uma nova disputa começava na Fórmula 1 com a introdução do campeonato de construtores, que atraiu os garagistas ingleses. No GP da Argentina, o primeiro da temporada, Fangio marcou sua 29ª pole position e terminou em terceiro lugar. O argentino não gostou de saber que uma peça de seu carro havia sido substituída por outra de menor qualidade porque era fabricada por um dos patrocinadores da equipe. Fangio não quis mais correr numa Fórmula 1 em que o piloto deixava de ser fundamental — além disso, já estava com 46 anos. Ele ainda disputou o GP da França, sexta prova da temporada, largando em oitavo e terminando em quarto lugar. Depois disso, virou lenda.

O campeão de 1958 foi o inglês Mike Hawthorn, da Ferrari, que superou Stirling Moss, da Vanwall, por apenas 1 ponto. Hawthorn foi campeão de pilotos, mas o título de construtores ficou com a Vanwall. Em 1959, novamente uma equipe inglesa chegou ao título: a Cooper, com o modelo T51, equipado com um motor Coventry Climax e pilotado pelo australiano Jack Brabham. Dessa vez, o piloto e o carro campeão eram da mesma equipe. Os anos 1950 tiveram 84 corridas realizadas. Fangio participou de 51, suficientes para transformá-lo no maior nome da década e num dos maiores campeões da história da Fórmula 1.

ANO PILOTO PAÍS EQUIPE CONSTRUTOR
1950 Giuseppe Farina ITA Alfa Romeo
1951 Juan Manuel Fangio ARG Alfa Romeo
1952 Alberto Ascari ITA Ferrari
1953 Alberto Ascari ITA Ferrari
1954 Juan Manuel Fangio ARG Maserati/Mercedes
1955 Juan Manuel Fangio ARG Mercedes
1956 Juan Manuel Fangio ARG Ferrari
1957 Juan Manuel Fangio ARG Maserati
1958 Mike Hawthorn ING Ferrari Vanwall
1959 Jack Brabham AUS Cooper Climax Cooper Climax

Sergio Quintanilha é doutorando em Ciências da Comunicação na ECA-USP e escreve sobre automobilismo desde 1989 – twitter: @QuintaSergio