CrônicasESPÍRITO ESPORTIVO

O Jornalismo Esportivo e a Colaboração das Universidades

Com a aproximação dos Jogos Olímpicos cresce a veiculação na mídia de reportagens que abordam a preocupação com as lesões em atletas de alta performance. O jornalista que opta por trabalhar como especialista em esportes precisa ir além das disciplinas oferecidas nos cursos de graduação e aumentar o seu conhecimento.

Pensando nisso convidei um profissional da Educação Física para realizar uma palestra seguida de entrevista coletiva com os alunos do curso de pós-graduação (especialização) em Jornalismo Esportivo e Multimídias da Universidade Anhembi-Morumbi (SP).

O objetivo foi trabalhar os conhecimentos adquiridos e as dificuldades surgidas durante as aulas. O texto que segue foi redigindo por alguns destes alunos e relembra um caso emblemático de lesão em um famoso atleta brasileiro. A colaboração dos estudantes foi voluntária e gratuita.

“O fator psicológico atrapalhou retorno de Anderson Silva”, diz professor de Educação Física Vitor Carnovalle

O profissional explica lesão do ex-campeão do UFC em 2013 e suas repercussões

Por: Francisco Carlos, Henry Santos e Pedro Vinicius

Foi em uma noite de sábado no mês de dezembro de 2013, em Las Vegas, nos Estados Unidos, que o lutador Anderson Silva golpeou Chris Weidman com um chute baixo e sofreu um impacto em 90 graus sobre a sua perna esquerda. O resultado foi uma fratura próxima do tornozelo que o derrubou no octógono.

As imagens transmitidas para o planeta chocaram os amantes do Ultimate Fighting Championship (UFC). Spider, como é conhecido o brasileiro, queria pegar de volta o cinturão dos pesos médios da categoria, perdido para o lutador em julho do mesmo ano. O chute aplicado em um ângulo errado pode ter influenciado outras lutas do grande campeão.

“Aquela fratura foi muito marcante na vida do Anderson. Na luta posterior ao acidente ele chutava menos, mesmo tendo titânio em sua perna (…) talvez por pensar: e se eu chutar e quebrar de novo?”, opina o professor de Educação Física Vitor Carnovalle, do Núcleo de Formação e Captação de Atletas Meninos da Vila, escola franqueada junto ao Santos Futebol Clube.

Após a lesão por impacto Anderson Silva passou por cirurgia quando foi implantada uma haste de titânio em sua tíbia, osso frontal da região da canela. “No lugar onde você quebra um osso, você não quebra de novo, nunca mais”, explica Carnovalle sobre a eficácia do implante que provoca aumento da resistência óssea após a cicatrização.

Após a lesão uma haste de titânio foi implantada na perna de Anderson Silva para ajudar na recuperação e aumentar a resistência óssea [Reprodução]

O cuidado para não se lesionar de novo pode ter acompanhado o lutador até o fim da carreira. Ele nunca mais voltou ao mesmo nível de antes da fratura, observa Carnovalle, que também é professor de musculação na Academia Nova Imagem, em São Paulo. “A fratura, derrotas e o receio de quebrar novamente a perna podem ter influenciado na decisão de desistir da carreira”, aponta.

Após insistentes lutas o campeão se aposentou do UFC em 2020, aos 45 anos. Anderson Silva, atleta de 1,88 m e 83 quilos somou 34 vitórias, 11 derrotas e defendeu o cinturão dez vezes. É considerado uma lenda das Artes Marciais Mistas (MMA em inglês).

A ciência avança e melhora os diagnósticos das lesões

O professor Vitor Carnovalle afirma que em casos de lesões o médico ou o fisioterapeuta realiza uma espécie de exame inicial chamado de “teste de gaveta” para identificar a gravidade que cada trauma pode acarretar ao praticante de atividade física e no atleta de alto rendimento.

Pelo toque o profissional tenta identificar se há algum tipo de trauma, se todos os ligamentos estão no lugar e se é necessário solicitar exames mais precisos. Existem aparelhos que realizam exames básicos como os de raio-x. “Conseguimos ver as estruturas e se fraturou algum osso, seja um pouco mais leve ou até se tem algum desvio articular”, observa o professor.

Outro exame conhecido é a ultrassonografia, muito utilizada por gestantes para verificar a saúde do bebê. O objetivo é verificar os tecidos moles como ligamentos e cartilagens do corpo. “Alguns clubes de futebol, por exemplo, possuem aparelhos de ultrassom portáteis e conseguem, ali mesmo, no vestiário, verificar como estão as partes moles da articulação do jogador”, ensina.  

O exame com maior precisão, no entanto, é a ressonância magnética cuja tecnologia permite enxergar os ossos, os ligamentos e a musculatura ao dividir as estruturas do corpo em várias partes. “É classificado como “padrão ouro”. Identifica se o atleta teve alguma ruptura em ligamento ou tendão, uma musculatura rompida”, esclarece Carnovalle.

Cada lesão tem a sua especificidade, explica o professor. As lesões de primeiro grau são entorses leves que podem gerar inflamação na musculatura ou na articulação, mas o tempo de recuperação é rápido e, por vezes, são tratadas com aplicação de gelo no local.  

No segundo nível de lesão o atleta tem uma ruptura parcial das fibras ou dos filamentos do músculo e/ou das articulações e, por isso, requer tempo maior de repouso. “É uma lesão um pouquinho mais séria”, afirma o profissional.

A lesão mais grave é classificada como de terceiro grau quando há ruptura total das fibras musculares. “Tem o rompimento total da estrutura, seja articular (na articulação) ou muscular e que exige período mais longo de recuperação”, acrescenta Carnovalle.

Os traumas e as lesões podem acompanhar os atletas – de alta performance ou de fim de semana – mas, com os avanços da medicina esportiva, é possível a prevenção ou a rápida recuperação, dependendo das características de cada pessoa.