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Handebol: da necessidade à paixão

Ex-atleta de Handebol profissional, Luana Silveira dos Santos, 29 anos, formada em Nutrição, pela Universidade Anhembi Morumbi, trabalha atualmente como corretora de imóveis e reside na cidade de São Paulo-SP.
Iniciou a prática do esporte no clube Osasco, ainda aos 12 anos e deu continuidade na carreira até meados de 2014, jogando por grandes times, como o próprio Osasco e o São Caetano, por exemplo.
Detentora de títulos de renome, como o Campeonato Paulista, Brasileiro, Liga Nacional e Campeonato Sulamericano, Luana hoje nos conta um pouco de sua carreira no esporte, opina sobra a atualidade do handebol no Brasil, mostra as diferenças que esta modalidade fez em sua vida, etc.

Sabe-se que o handebol é um esporte bastante praticado nas escolas brasileiras; entretanto, não possui muita visibilidade midiática, sendo superado no quesito “transmissões televisivas” obviamente pelo futebol, e até mesmo pelo vôlei. Qual sua opinião a respeito dessa informação? Por que acha que isso acontece? Você acredita que a falta de transmissões, jogos e notícias a respeito do handebol afeta na quantidade de praticantes e no conhecimento do público em geral?

Assim, eu acho que a Tv acaba transmitindo esportes que dão resultados, que trazem títulos para o país, enfim. Mesma coisa aconteceu com o Tênis, que só começou a ser transmitido depois que o Guga teve algum destaque. Eu acho que é mais ou menos assim que funciona; e o handebol nunca teve muito destaque aqui no Brasil.
A gente começou com um destaque agora faz uns cinco anos, porque alguns atletas do país saíram para jogar fora e lá eles apareceram, acabaram contribuindo para a seleção. Por isso! Mas antes não era assim! Como a gente nunca havia ganhado um título mundial e nada, eu acho que por isso é que talvez não era atrativo para a mídia. E como não é atrativo para a mídia, não tem patrocínio; e se não tem patrocínio, os clubes não conseguem se manter e também isso acaba afetando, sim, na quantidade de atletas praticantes.

Há, no Brasil, um “currículo básico” de esportes a serem praticados nas escolas durante as aulas de educação física; dentre eles, estão o futebol, o vôlei, o basquete, o handebol e até mesmo a queimada. Sabendo-se que seu contato com esta modalidade se deu na infância, mas se sucedeu até ano passado, qual foi sua maior motivação para dar continuidade a esta prática? Por que escolheu o handebol? Qual sua maior identificação com o esporte?

Bom, motivo que eu dei continuidade na prática é prazer mesmo, é amor. Eu sempre gostei de fazer isso e sempre fiz por amor. Eu acho que é mais ou menos isso. Continuei na faculdade, na verdade, porque eu consegui uma bolsa por conta do esporte. Eu jogava pela faculdade, em troca disso, ganhava a bolsa. Então, na verdade, eu continuei jogando para conseguir a bolsa atleta, né. E aí depois eu terminei a faculdade, fiquei um tempo sem jogar, voltei para fazer pós-graduação e voltei a jogar, é mais ou menos isso.
E na verdade, minha escolha do esporte foi muito – como eu posso dizer?!- por acidente, porque na verdade eu era atleta de ginástica olímpica, sempre pratiquei essa modalidade.
Eu estudava num colégio particular que estava dando bolsa para os atletas desse clube de Osasco; atletas que jogassem handebol por esse clube, porque era um projeto da prefeitura; aí meio que pra conseguir a bolsa, eu fiz a seletiva e passei. Mas, sim, meu começo foi muito por interesse mesmo, só depois eu acabei me apaixonando e dei continuidade a isso.

Foi-me dito que você praticou o handebol durante dezessete anos; jogou, inclusive, nos times de Osasco e São Caetano por sete anos, chegando a disputar, até mesmo, campeonatos internacionais; e depois, defendeu a equipe de sua faculdade. Qual foi o motivo que lhe fez deixar o esporte profissional? Você chegou a se sustentar apenas com o esporte ou a renda nunca chegou a ser suficiente?

O motivo que eu deixei de praticar o esporte profissionalmente foi quando eu entrei na faculdade; ainda assim conciliei uns dois anos entre faculdade e o clube. Só que no clube eu precisava treinar duas vezes por dia, eram quase seis horas de treinamento e tinha muitas viagens, a gente acabava viajando todo mês e eu comecei a perder muita aula e  precisei fazer uma escolha…ou eu continuava jogando ou eu escolhia por seguir minha profissão: a nutrição.
Como o salário nunca foi suficiente, nunca foi alto, nunca consegui me manter só do handebol. Na verdade eu conseguia me manter porque eu morava com os meus pais, né, então com o salário que eu recebia, conseguia pagar as minhas coisas, só que não era suficiente para eu me manter para o resto da minha vida; e fora que a carreira de atleta é muito curta; qualquer lesão com trinta anos, a gente não consegue mais dar continuidade. Então eu optei pela nutrição e deixei o esporte.

A seleção brasileira de handebol feminino é bastante forte. Em 2015, por exemplo, conquistou os jogos pan-americanos de Toronto em cima da Argentina. Você considera nossa seleção uma potência do esporte? Na sua opinião, o que falta (no quesito estrutura, patrocínio, investimento, etc) para sermos as melhores do mundo? Qual a seleção que pode ser considerada a maior rival do Brasil na atualidade?

Bom, hoje, a seleção brasileira é muito forte. Na verdade, em 2015, ela ganhou os jogos pan-americanos. Aqui na América não tem rival para o Brasil no feminino, a gente é a maior potência da América Latina no handebol.
Ano passado nós conquistamos o título mundial, foi o primeiro título do Brasil, e vamos brigar para as olimpíadas do ano que vem. E isso foi agora que aconteceu, porque muitas atletas que tinham destaque aqui no Brasil, como nunca tiveram apoio, começaram a ir para países europeus e lá fora tiveram uma visibilidade maior, foram convocadas para a seleção brasileira e conseguiram dar uma alavancada na seleção por conta desse contato com as atletas de alto nível da Europa.
Eu acho que esse foi um fator crucial para que o Brasil conseguisse alcançar essa potência…hoje, noventa por cento das atletas brasileiras atuam fora,  na Europa. Se elas continuassem aqui no Brasil, com certeza a gente não teria o destaque que a gente teve e está tendo no feminino nesses últimos dez anos.
No masculino esse intercâmbio começou faz menos tempo e o masculino ainda tá muito fraco, mas eu acredito que agora que os meninos estão começando a ir lá pra fora fazer esse intercâmbio também vai ter o mesmo resultado que o feminino teve.
Então, essa pergunta do que falta para a gente ser as melhores do mundo, na verdade no feminino a gente já conquistou esse título; a gente é a atual (seleção) campeã mundial, né, então, é óbvio que falta mais incentivo, falta mais patrocínio, um apoio maior da mídia, mas, no feminino, mesmo faltando isso tudo a gente já conseguiu esse posto.
E no masculino falta maior intercâmbio, o que tá começando agora; eles estão começando a ir pra Europa, estão começando a ter o contato com o Handebol europeu que eu acho que isso vai fazer eles crescerem muito, da mesma forma que aconteceu com a seleção feminina.
É difícil destacar um rival para o Brasil porque na Europa, que é o centro do handebol, tem muitos grandes clubes, então, hoje, Espanha, Dinamarca, França…são as maiores potências do Handebol mundial e o Brasil também na modalidade feminina também está entre essas grandes potências, mas um rival específico não tem, não.

Para finalizarmos, gostaria que nos contasse qual a maior conquista que obteve através do esporte e qual a diferença que o handebol fez em sua vida. Que recado você pode deixar para os amadores que sonham em tornarem-se profissionais?

Olha, eu acho que indiscutivelmente o que o handebol trouxe para minha vida foi até minha formação profissional porque eu só consegui concluir a faculdade e entrar na universidade, na verdade, por conta dessa bolsa de estudo que eu tive, porque senão eu não ia ter condições de estudar. Então, hoje eu sou formada graças ao esporte, graças ao handebol. Eu acho que essa é a maior diferença.
E, para qualquer amador, e eu acho que para qualquer setor do mundo, a dica é não desistir, porque é difícil, não tem patrocínio, não tem incentivo, mas não dá para desistir. Se se tem um sonho, tem que ir atrás. É isso.

(por Giovana Grizoto)