Dardos, flechas, dados e resultados
Hoje, assim como todos os dias, sem exceção, eu errei. Assim como todos os outros dias fui julgado e sentenciado a parar de errar, claro, não me atrevo a apontar as falhas dos outros, penso, ou costumava pensar que falhar é algo completamente normal. E mesmo pedindo desculpas, ou se provando a probabilidade de acertos e erros e quais são favoráveis, continuamos falhando e mantendo esse ciclo. Agora, qual ponto nos interessa? Se acertamos mais do que erramos, por quê ser julgado por uma ou duas falhas? São perguntas que dificilmente conseguiríamos responder e ainda manter o objetivo de que devemos errar menos.
Errar menos, talvez seja sinônimo de acertar mais. Mas não é isso que será avaliado no seu trabalho, ou na sua escola. Será avaliado a escolha, e sendo certo ou errado, vão te pôr na balança e ver qual peso há mais valor. E se o peso for favorável ao que não se espera, é um erro, e esse erro será julgado e as vezes (na maioria delas) etiquetado pelo mesmo.
A sociedade espera que tudo seja perfeito e ao mesmo tempo abomina essa perfeição, pois causa um padrão de vivência, no qual as pessoas vão se espelhar ou contrariar esse padrão. Acaba-se que o ‘erro’ é contextual nessa visão onde um reprime e o outro aceita. Mas qual ‘erro’ é menor que o outro? Qual acerto é digno de crítica? Por que esse caminho para a perfeição se errar é sinônimo de humanidade?
Exemplo um de como a sociedade reprime o erro em função de uma ação indireta, e cai como efeito dominó. Um homem, proletário, tem que se deslocar da sua casa ao seu serviço que fica quilômetros de distância, assim, ele precisa usar um transporte público para chegar ao local, com sua sanidade relativamente bem, pois não é permitido conflitar sua vida pessoal com a vida profissional. Nesse dia, o homem acordou dois minutos mais tarde, não pôde tomar seu café da manhã que se resume em um quarto de copo de café, pois acordou tarde. Esperou o ônibus, do mesmo jeito que todos os dias, com mais trinta pessoas iguais ao nosso exemplo, mas o ônibus enguiçou, o homem não pode esperar e precisa se deslocar o mais rápido, por quê um ‘erro’, independente da sua fonte, já lhe custou o precioso tempo. Ao chegar atrasado, seu patrão lhe deu um esporro sobre seu atraso e foi julgado como irresponsável e que a vida dele lá fora não é motivo para seu atraso. Nosso exemplo foi exigido que parasse de errar, pois não foi apenas o seu erro que acarretou o outro, contudo o efeito dominó perdurou-se. Seu patrão, que deve ter outro patrão, o sentenciou a ficar mais no expediente, e assim nosso exemplo atrasou para seu encontro romântico que pra ele pode valer mais do que seu emprego, por mais que não tenha coragem de admitir. E esse atraso lhe custou outro valor, o valor pessoal, e o julgamento veio logo adiante, ‘irresponsável’, e desculpas não são suficientes, como poderia pedir desculpas por ter acordado dois minutos mais cedo ou mais tarde? Como poderia pedir desculpas pelo ônibus quebrado? Como poderia pedir desculpas pela sentença de um superior em seu local de trabalho? Simples, não existe possibilidade nenhuma de reverter ações ou escolhas já feitas. Agora usando um argumento fútil que qualquer meritocrata usaria dizíamos exatamente assim: “Se tal homem dedicasse aos estudos ou se esforçasse para que tivesse uma condição melhor, esses erros não existiriam”. Ai que apresento o exemplo dois.
Uma mulher, ou até mesmo um homem, formado, com condições de vida superior a uma classe social, seja ela medíocre ou acima disso, não precisa acordar cedo, muito menos ir atrás de uma condução, ou até mesmo se humilhar para o próprio tempo. Essa pessoa, assim como nosso primeiro exemplo, segue aquele padrão de vida perfeita, como se sua condição fosse consequência de uma série de acertos. Mas nós, eu e você, sabemos que há outros fatores que correspondem a essa perfeição. E o que reverteria isso? Recusar os benefícios de seu progresso como uma escola particular ou uma oportunidade de ter sempre alguém por trás de suas economias? Compartilhar, mesmo que nada tenha sido seu durante anos? Ou simplesmente aceitar o privilégio de ter nascido de uma família economicamente estruturada? E o erro, onde está? E os julgamentos? Este exemplo é onde a balança tende pro lado do acerto, pois se errar, está tudo bem. Faltar ao trabalho ou um encontro, tudo está bem. É o relativismo. Não importa as desculpas, pois o erro não vale de nada nessa situação e não agrega a nenhuma ação que poderia causar consequências maiores.
Ao relacionar os exemplos, de que um erro, seja ele diretamente ou indiretamente vai ter um peso dependendo de quem erra, e de modo que, tende a ser mais significativo numa simples vida que pode ou não se espelhar naquele que os erros não tem importância. Pra ficar mais claro, enquanto você não pode alcançar a perfeição ou a estabilidade, os erros são e serão imperdoáveis, já que qualquer erro de cálculo custa seu ‘futuro promissor’. Agora já que é perfeito, abundante em regalias, errar é simples um ato banal que não mudaria nada em sua vida. Eu errei, sim, confesso meu erro. E disso não tenho vergonha, já que errar é humano, eu tenho pressa, pois ela é inimiga da perfeição. Não desejo ser o humano perfeito mostrando todas as imperfeições que existem em mim. O erro é um peso e o acerto é uma pena, um te afunda e o outro te esquece. Na mesma balança, na mesma moeda. E apesar dos pesares, estamos fadados, se virarmos esse jogo de ponta-cabeça, perceberemos que cada erro traz um acerto, seja ele aceitável ou não por outros olhos e outras opiniões. Prefiro errar ao perceber que cada acerto, cada conquista não significa nada perante a olhos críticos. Já as falhas, te fazem ter pelo menos o mínimo de atenção que você existe.
* Pasqualin é escritor e ativista cultural.