ISSN 2359-5191

03/07/2007 - Ano: 40 - Edição Nº: 34 - Educação - Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas
Definição de sexo não é biológica

São Paulo (AUN - USP) - Diferentemente do que se postula em nossa sociedade, o sexo deve ser uma questão de escolha individual. Isso é o que defende o professor de espanhol e Estudos Hispânicos da Arizona State University, David William Foster. Ele é autor do livro “Gay and Lesbian Themes in Latin American Writing” e, junto com o professor Jaime Ginzburg, que coordena o Programa de Pós-Graduação em Literatura Brasileira na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP (FFLCH), e o professor de Teoria Literária e Literatura Comparada na Unicamp, Marcio Seligmann – Silva, participou de uma palestra recentemente no Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas da FFLCH.

Segundo Foster, a definição do sexo deve se relacionar com os conceitos de gênero e desejo, isto é, deve considerar as maneiras de ser e se organizar, espontaneamente ou não, no mundo e a atração sexual do indivíduo. Dessa forma, ele questiona até que ponto o que é biológico determina esses dois outros fatores sociais e exemplifica com a existência de tribos indígenas da costa do Pacífico - dos EUA ao Chile - que consideravam quatro sexos ao invés de dois.

Ele admitiu que na sociedade moderna existe a possibilidade de se jogar com a identidade sexual e assumir uma diferente do que é determinado socialmente com base no vínculo biológico. Contudo, o binarismo, que é o sistema seguido em nossa sociedade, atinge todas as dimensões de nossa vida, até mesmo as línguas, que em sua maioria, são sexistas em suas estruturas gramatical, lexical, sintática.

Embora o discurso público a respeito da sexualidade possa mudar, como na crescente aceitação do casamento homossexual, os postulados absolutos nos quais ele se apóia permanecem inquestionáveis. Essa rididez e intangibilidade deve-se à condição secreta do assunto sexualidade. Nas sociedades americana e latino-americana, o tema é considerado íntimo, particular, o que gera dificuldades psicológicas, políticas e socioculturais que impedem seu questionamento.

O fato de termos vivido sob o patriarcalismo durante 6 mil anos deixa conseqüências, como, por exemplo, o fato de a grande literatura estudada ser a masculina ou ser tratada como se fosse. Acontece com Clarice Lispector, de quem se trata, em livros, com pouquíssimas considerações a respeito de qualquer expressão de feminismo em sua vida e obra. Foster afirma que existe uma grande resistência em relação aos estudos de gênero no Brasil, em relação ao questionamento do conceito “mulher” e que “em São Paulo isso é ainda mais grave”.

Quando se fala em estudos homossexuais, então, o quadro é ainda mais complicado e recente. A Associação Brasileira de Estudos da Homocultura (ABEH) foi criada em 2001 a partir dos encontros “Literatura e Homoerotismo”, promovidos pela Universidade Federal Fluminense (UFF) e até agora teve pouquíssima repercussão no Estado de São Paulo. Ela busca proporcionar o intercâmbio entre pesquisadores e interessados para que se questione o que já se sabe sobre o assunto e se construa novos saberes a respeito. Contrariando o que se pode imaginar, para ser compreendido pelos estudos homossexuais não é necessário que um livro seja escrito por um homossexual, mas que traga um saber dentro dessa temática, mesmo que a homossexualidade seja exceção na tradição e na cultura estabelecida. O mesmo acontece com a literatura feminista.

Foster, Ginzburg e Seligmann concordam que para estudar o tema da sexualidade deve-se partir de um processo de desconstrução. A própria sexualidade, assim como o embasamento teórico considerado adequado – e que é muitas vezes distorcido – para tratá-lo, como as teorias de Freud, e as estereotipações o exotismo vinculado à periferia devem ser questionados. Além disso, conceito de homossexualidade e feminismo devem ser desconstruídos, na medida em que foram criados pelos países dominantes e importados pela América Latina, por exemplo. Finalmente, devem ser desconstruídos os próprios conceitos de literatura e até América Latina, já que, como nos lembra Foster, a Argentina considera, como parte da América Latina, os outros países hispano falantes, separados do Brasil; para os brasileiros em geral, a América Latina é formada por todos os países hispano falantes da América; o Memorial da América Latina não considera Porto Rico, por exemplo, como parte da América Latina por ser colônia dos EUA; e que os EUA têm, numericamente, mais hispano falantes que a Argentina.

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