São Paulo (AUN - USP) - Falta conhecimento do próprio campo da comunicação na América Latina. As grandes correntes norte-americanas e européias ainda dominam as salas de aula e grande parte dos estudos relacionados à realidade brasileira ainda são ignorados. A história e os motivos dessa situação foram tema do debate Integração e Conflito: o Papel da Comunicação nas Relações Latino-Americanas, organizado para a comemoração dos 20 anos do Programa de Pós-Graduação em Integração da América Latina (Prolam) da USP. O evento ocorreu recentemente na Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEAâUSP) e foi mediado pela vice-presidente do Prolam, Cremilda Medina.
A mÃdia em si ainda não é o foco central da maioria das pesquisas no campo da comunicação que está em desenvolvimento na América Latina. Para a diretora suplente da Cátedra Unesco de Comunicação, Maria Cristina Gobbi, que participou do debate, os estudos ainda se encontram focados sob a perspectiva polÃtica e econômica. Reflexo direto disso é a imagem negativa da mÃdia como manipuladora das massas, que várias pessoas têm. Sem dúvida o campo polÃtico-econômico e o da comunicação se influenciam, mas é preciso também saber analisar a ambos de acordo com suas próprias funções e caracterÃsticas. O sociólogo e integrante do Grupo de Análises de Conjuntura Internacional (Gacint) da USP, Demétrio Magnoli, prossegue a reflexão ao questionar em que sentido existe a América Latina â politicamente e midiaticamente.
Para Magnoli, há um problema de representação e imagem que permeia a ambos os campos. Um exemplo disso é quando um representante do grupo indÃgena vai à Câmara vestido de Ãndio â ele, em geral, não se veste daquela maneira, mas quando precisa âcomunicarâ em nome do grupo se caracteriza como integrante do mesmo. Isso reforça a imagem e influência na comunicação e na força polÃtica. Nesse sentido, o sociólogo aponta que âa América Latina é o que ela se decidir serâ e lança a indagação sobre qual é o projeto de comunicação da região a partir desse raciocÃnio.
A estrutura da comunicação na América Latina
O estudo da comunicação latino-americana ainda é razoavelmente novo, teve inÃcio entre as décadas de 1960 e 1970 â num perÃodo polÃtico considerado difÃcil, grande parte dos paÃses estava sob o comando de governos ditatoriais. Apesar do atraso no desenvolvimento, oriundo das dificuldades do cenário sócio-polÃtico, Gobbi diz que âa produção brasileira é uma coisa impressionanteâ. Uma das peculiaridades da região é o processo inverso de formação de comunicadores em relação aos paÃses tradicionais da Europa e dos Estados Unidos. Na América Latina foram os profissionais que atuavam no mercado os responsáveis por iniciar os estudos no campo da comunicação que, apesar da enorme competência, não tinham preparo para dar aula.
Foi a partir da criação do Centro Internacional de Estudos Superiores de Comunicação para a América Latina (Ciespal) que a comunicação ganhou uma base mais acadêmica. A partir da reunião de 1973, na Costa Rica, os estudos receberam maiores estÃmulos e a obra começou a se tornar plural. Notou-se que é necessário levar em consideração a cultura e as caracterÃsticas de cada paÃs para uma melhor análise e, conseqüente, desenvolvimento da comunicação. O tema foi encerrado com a idéia unânime entre os participantes de que é necessário passar à s novas gerações o conhecimento dessas correntes latino-americanas, juntamente com a européia e a norte-americana que já são ensinadas normalmente.