São Paulo (AUN - USP) -Importante não só para a Arquitetura brasileira, mas para toda a arte nacional. Assim o professor Rafael Perrone, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP, descreve Oscar Niemeyer. Prestes a completar 101 anos de idade, o centenário arquiteto carioca lançou recentemente mais um livro. Crônicas é sua décima segunda publicação, entre contos, memórias e livros técnicos sobre Arquitetura. Considerado um dos grandes arquitetos do século 20, Niemeyer é diferenciado dos demais profissionais da área, pois “criou uma linguagem arquitetônica particular e peculiar, que criou raízes e deu segmento a outras vertentes na arquitetura brasileira e mundial”, como explica Perrone. “Ele sempre buscou inovação do repertório. Suas idéias estão vivas em muitas idéias e projetos dos outros arquitetos”, completa.
Niemeyer também é muito importante para a arte brasileira, de acordo com Rafael Perrone. “Ele realizou uma antropofagia junto ao modernismo europeu, de excessivo racionalismo, e adaptou essa escola a uma linguagem muito peculiar, brasileira”, diz. Essa mistura inovou a plástica da forma arquitetônica, criando no Brasil novas concepções e ideais de arte. Apesar de ter recebido algumas críticas nesses longos anos de carreira (não se sabe se alguns projetos de Niemeyer são dele ou são adaptações de projetos já existentes), Perrone classifica o centenário arquiteto como referência mundial na introdução de novas tendências e idéias: “Não dá para dizer se todas as obras dele são boas ou ruins. Mas com certeza todas elas são inovadoras”.
O professor da FAU também não vê a idade como um empecilho para a criação de Niemeyer: “Em 101 anos, ele sempre teve idéias boas”. E cita um exemplo para demonstrar que a idade não é problema para projetar: o Museu de Arte Contemporânea (MAC) de Niterói, inaugurado em 1996 (quando Niemeyer tinha 89 anos), e classificado por Perrone como esplêndido e sensacional. “Essa obra mostra um perfeito domínio da relação dele para com a paisagem, com o espaço, com a forma. É uma verdadeira homenagem à Baía de Guanabara”, descreve.
Rafael Perrone ainda apontou suas obras favoritas na vasta galeria de produções de Niemeyer: o Edifício Copan (inaugurado em 1951), cartão postal do centro de São Paulo, o Congresso Nacional, em Brasília, e o próprio MAC de Niterói, estado do Rio de Janeiro, cada um por um motivo especial. No primeiro, o professor de Arquitetura admira a maneira como o edifício se encaixa no desenho da cidade de São Paulo. No segundo, a revolução do uso do espaço, intercalando o plano horizontal (Praça dos Três Poderes) com o vertical (o Congresso). Já no terceiro, Perrone admira a perfeição com que Niemeyer inseriu o projeto na paisagem do litoral fluminense.
Niemeyer também atuou em outras áreas artísticas, como o design de móveis e de esculturas, sempre aliando as técnicas da arte arquitetônica às suas marcantes linhas curvas, as linhas que se encontram, como disse certa vez, “nas montanhas do meu país, nas ondas do mar, no corpo da mulher preferida”.