ISSN 2359-5191

03/12/2008 - Ano: 41 - Edição Nº: 137 - Economia e Política - Instituto de Relações Internacionais
Ascensão de “novo populismo” na América do Sul é debatida em mesa redonda

São Paulo (AUN - USP) -Devido a onda esquerdista que vêm dominando o cenário político da América do Sul, muitos regimes têm sido taxados de “populistas”. A identificação pessoal com as classes menos elevadas da população, os ataques à políticas neoliberais estrangeiras e a implementação governamental de ações sociais favorecem ainda mais o rótulo. Contudo, especialistas de Relações Internacionais não estão certos quanto a denominação “populista”.

Em mesa redonda realizada, recentemente, na VII Semana de Relações Internacionais da PUC-SP, o professor do Instituto de Relações Internacionais da USP, Bernardo Ricupero, discutiu os limites dessa definição e problematizou as implicações do termo. Com opiniões, muitas vezes, divergentes, o evento contou também com a participação do cientista político Carlos Romero e do professor da Universidade Federal de Santa Catarina Héctor Leis. A mediação foi feita pela professora da PUC-SP Véra Lúcia Valssechi.

Na opinião de Bernardo Ricupero, o termo “populismo” é muito pouco preciso, mas o definiu na América do Sul como “movimento que integra a sociedade pelo alto”. Entre os exemplos clássicos desse sistema apontou Getúlio Vargas no Brasil e Juan Domingo Perón na Argentina. Já atualmente Ricupero afirmou que há um novo populismo, com foco exclusivo na forma do termo ao invés de seu conteúdo. “A tendência de eleição de governantes identificados com a esquerda faz com que as pessoas pensem em populismo. Até certo ponto, a idéia não está equivocada, pois há nos Estados o alinhamento com os grupos mais pobres e uma reação contra o neoliberalismo. A integração das camadas mais baixas fica inegável”.

Ricupero explicou também que esse novo populismo só foi possível depois da Guerra Fria, quando os Estados Unidos enfim permitiram expressões de esquerda na América Latina. Assim, “a maioria social conseguiu se tornar a maioria política” e, com maior liberdade de escolha, pôde escolher um governo mais próximo a ela. “Apesar de não serem todos iguais, a intervenção social do governo é presente em todos esses países, mesmo que em graus diferentes. De um lado, encontra-se o coronel Hugo Chávez e, de outro, um Lula mais harmônico. De qualquer maneira, é um novo populismo”.

Carlos Romero, por sua vez, apontou que, embora não seja “novo ou original, o populismo é um tema extremamente presente na América Latina”. Segundo ele, a força e a particularidade do sistema no continente são decorrentes dos seus propósitos. “A necessidade conjunta de desenvolvimento, de mobilização social e de confronto às oligarquias aproxima os governantes sul-americanos ao populismo. Isso é constante, antes e agora”, afirmou Romero.

Contudo, indicou que o grande problema reside na manutenção do regime. As políticas populistas resultam em grandes gastos públicos - às vezes, insustentáveis. Além disso, as medidas dependem da aprovação popular do líder e do apoio de outras facções de poder como o as forças militares. E, uma vez que acabam os recursos e se perdem as bases políticas, não há continuidade do regime.

Já Héctor Leis identifica outro tipo de problema no sistema. Assim como Bernardo Ricupero, Leis também enxerga hoje um novo populismo na América do Sul. No entanto, para ele, essa organização política é simplesmente uma reação a outros regimes, no qual há pouca institucionalização ou projetos políticos no populismo. É um sistema transitório que inexoravelmente resulta em um fim sem continuísmo político. Além disso, o professor apontou também que, a cada formação populista paradigmática como acontece hoje com a onda esquerdista, há uma perda significativa no espaço político dos países. O retrocesso só poderia ser revertido se os governantes abrissem mão do populismo e tentassem administrar os Estados sob outros direcionamentos.

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