ISSN 2359-5191

28/04/2009 - Ano: 42 - Edição Nº: 14 - Sociedade - Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas
Eleição de Obama não garante grandes mudanças no status quo mundial

São Paulo (AUN - USP) - O fato de haver uma nova liderança a frente do governo americano não significa que haverá mudanças profundas na ordem mundial. Essa é a opinião de Rubens Ricupero ex-ministro da Fazenda e subsecretário das Nações Unidas, concedida em palestra coordenada pela professora Ângela Alonso, da Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas (FFLCH-USP) e coordenadora da Área de Conflitos Ambientais do Cebrap, e pelo professor emérito do Departamento de Filosofia da mesma faculdade, José Arthur Giannotti.

A animosidade com a eleição do novo presidente americano é imensa e se espalhou por todo o planeta. Entretanto, para Ricupero, deve-se lembrar que os EUA se vêem não como transformadores, mas como guardiões da ordem que vigora internacionalmente (o que é compreensível, uma vez que, tal ordem nasce com os EUA, no governo Roosevelt, durante as Conferências de Bretton Woods e São Francisco). O interesse do país é mostrar que essa é uma ordem benigna e é seu dever defender sua sobrevivência.

Contudo salienta que não há conotação pejorativa na adjetivação “guardião da ordem”, não se pode simplificar essa relação a ponto de considerá-la uma oposição a mudanças. Aliás, para ele, a sobrevivência de um sistema é relacionada à capacidade de acomodar novos eventos em si. Os EUA são um grande exemplo dessa habilidade: seu sistema o qual já permanece há 64 anos, o que é muito raro, conseguiu ser flexível o bastante para acomodar até o desfalecimento da URSS (houve um controle dos traumas). Para o diplomata, essa análise é imprescindível para entender os objetivos e os possíveis desdobramentos do novo governo.

Ele ainda alia essa postura histórica norte-americana ao cenário pós-Bush para justificar sua posição. Ricupero afirma que herança do governo atual é muito pesada: economia devastada, déficit externo e orçamentário e duas guerras internacionais. Acredita que nem mesmo Roosevelt assumiu em uma conjuntura tão ruim; apesar da grande Crise de 29, não havia guerras quando esse presidente iniciou seu governo. Diante dessa situação, o papel dos EUA é recuperar o poder político e econômico (hard power) e a liderança moral e intelectual (soft power) e, assim, garantir a ordem.

Na opinião do ex-ministro, o restabelecimento do hard power será mais difícil, entretanto, em poucos dias de governo, Obama já resgatou boa parte do soft power perdido no governo Bush. Para ele, o próprio presidente já é uma forma de recuperar esse poder (um “dream president” com alto valor no terreno dos símbolos). Além de sua imagem, suas atitudes também apontam para essa recuperação: no seu primeiro discurso ele afirma que os EUA estão prontos para liderar, porém com humildade e “compartilhamento” dessa liderança, outro indício desse esforço é a tentativa de aproximação com os muçulmanos.

De acordo com Ricupero, a agenda internacional de Obama é herdada do governo passado, uma “agenda de ameaças” a qual divide o mundo em potenciais “troublemakers”: terrorismo, proliferação de armas de destruição em massa e cacho de problemas no Oriente Médio. Ele atenta para uma islamização da agenda e das preocupações americanas. Barack Obama deve voltar ao Afeganistão no qual a guerra, que já dura oito anos, complicou-se após o abandono de George W. Bush; e a invasão ao Paquistão já é quase inevitável vistos os fortes indícios da região ser o novo esconderijo da Al Qaeda.

Ele ainda destacou erros que considera graves na política externa mundial: a ajuda involuntária ao Irã, quando eliminou Saddam Hussein e estabeleceu os xiitas no poder, além de permitir um abalo no Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares, com a Índia e o Paquistão desenvolvendo seus arsenais. Agora, segundo Ricupero, os EUA querem paz e prova disso é o discurso apaziguador de Hillary Clinton e os esforços diplomáticos em relação ao Irã.

Rubens Ricupero conclui afirmando que “a qualidade e a competência política melhoraram infinitamente, sobretudo na área de política internacional”, uma vez que Obama favorece o diálogo e busca consensos democráticos. Mas em relação às realizações futuras há um ponto de interrogação: “um mundo se tornou um espaço de incertezas, de uma imprevisibilidade enorme”.

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