ISSN 2359-5191

18/05/2010 - Ano: 43 - Edição Nº: 15 - Saúde - Instituto de Química
Câncer tem tratamento mais seguro com estudo de vasos sanguíneos

São Paulo (AUN - USP) - Pesquisas realizadas sobre o estímulo feito por células do corpo para formação de novos sanguíneos a partir de outros já existentes traz esperança para tratamento mais eficaz para o câncer. O laboratório do professor Ricardo Giordano, do Instituto de Química da USP estuda esse processo, chamado de angiogênese, que é também importante no desenvolvimento de tumores. As células cancerosas se multiplicam e induzem a formação de vasos para que sejam alimentadas por oxigênio e nutrientes. O objetivo da pesquisa é encontrar mecanismos que inibam essa característica e, conseqüentemente, reduzam o tumor.

A angiogênese natural, chamada de fisiológica, acontece em todos os animais na presença de algumas condições específicas. “Quando a gente tem um corte, por exemplo, um dano no tecido, nosso organismo o repara com o processo de cicatrização. Durante isso, acontece a angiogênese e os vasos são restaurados, porque sem eles as células vão ficar sem nutrientes e oxigênio”, explica o professor Ricardo Giordano. Em condições patológicas, como é o caso do câncer, o mecanismo da angiogênese é crucial para o desenvolvimento da doença. O câncer é uma célula que sofre mutações, começa a crescer descontroladamente e o crescimento exagerado leva a formação de tumores que podem ter tamanhos de uma laranja. “Eles não conseguiriam fazer isso, da mesma forma como outros órgãos do organismo conseguem, se não tivesse o crescimento de vasos sanguíneos. Eles devem, de algum jeito, induzir o organismo a formar vasos sanguíneos dentro do tumor. E esse processo ocorre por angiogênese”, explica o professor. As células do centro do tumor começam a ficar sem oxigênio e nutrientes e secretam fatores que migram pelo tecido e sinalizam aos vasos para que induzam seu crescimento e migração em direção ao local que está com falta. Sem vasos sanguíneos, o tumor não passaria de um milímetro cúbico. “Um dos fatores importantes para o tumor maligno e agressivo é ele ser bem angiogênico”, diz o pesquisador.

O trabalho do laboratório é conhecer molerculamente como a angiogênese funciona e as moléculas que participam do processo. A meta é identificar alvos para possíveis fármacos. Além do estudo da angiogênese, o laboratório pesquisa a variabilidade dos vaxsos sanguíneos. “Hoje em dia, sabemos que os vasos sanguíneos de cada órgão têm marcadores específicos, é um tipo de código de endereçamento postal (CEP). Se conhecemos esse código vascular, no futuro poderíamos direcionar terapias seletivas para cada órgão do organismo, inclusive para os vasos sanguíneos tumorais”. A expectativa dos pesquisadores é acoplar pequenos conjuntos de aminoácidos, os peptídeos, aos medicamentos que os levaria para determinado órgão que já tivesse o endereço de seus vasos sanguíneos mapeado. Isso levaria à diminuição dos efeitos colaterais na vasculatura normal.

Hoje é sabido que o fator secretado pelas células para produção de vasos sanguíneos chama-se VEGF (da sigla em inglês Vascular Endothelial Growth Factor, ou seja, fator de crescimento endotelial). “Quando se descobriu essa molécula, todo mundo procurou formas de inibi-la e bloquear sua ação”, diz Giordano. O primeiro composto que chegou ao mercado, a Avastina, é um anticorpo dirigido a inibir essa molécula. “A esperança era que se a gente conseguisse bloquear o VEGF, conseguiríamos bloquear a angiogênese. Funcionou, mas os efeitos foram bem menos promissores e ela tem sérios efeitos colaterais, como problemas cardíacos”, explica o professor. Os tumores de pacientes tratados com Avastina podem reduzir um pouco, mas na maioria das vezes ele apenas para de crescer. A resposta do tratamento também dura pouco e o tumor pode voltar a crescer. Além do efeito pouco promissor do medicamento, foi descoberto que o VEGF, apesar de ser produzido em pequenas quantidades em condições normais, é importante para a sobrevivência das células. Quando se começa a interferir nisso, a vasculatura normal também é afetada. Por isso, hoje os pesquisadores procuram entender como outras moléculas participam do processo da angiogênese. “O erro foi acreditar que indo no ponto central do processo, a gente inibiria todo o processo sem pagar nenhum preço. Hoje a procura é por outras moléculas, talvez nem tão importantes, nem tão centrais, mas que também participem. E uma vez que você afeta outro membro do processo, também consegue afetá-lo como um todo”, diz o pesquisador.

A esperança dos pesquisadores é que terapias anti-angiogênicas tenham um papel bem mais importante na medicina do que só o tratamento do câncer, não necessariamente como principal medicamento, mas como um adjuvante na terapia. Doenças como cirrose, retinopatia, psoríase e Alzheimer também possuem componente angiogênico. O pesquisador ressalta que não só as terapias anti-angiogênicas são importantes, mas também as angiogênicas. “A isquemia, por exemplo, é o entupimento de vasos no coração, que leva a falta de oxigênio no tecido cardíaco e lesiona o músculo e ele para. A idéia é o contrário, é regenerar os vasos naquele tecido para curar”.

A primeira parceria do laboratório, que começou as pesquisas efetivas no início deste ano, é com o hospital AC Camargo. O centro de pesquisa sobre o câncer do hospital é bastante desenvolvido e o professor Ricardo Giordano conta com a colaboração dos médicos Emmanuel Dias Neto e Dirce Maria Carraro para estudar a genética dos vasos angiogênicos.

O conceito de angiogênese nasceu em 1971, pelo médico Judah Folkman, em artigo publicado na revista científica New England Journal of Medicini. “Ele propôs que o crescimento de vasos induzidos pelo tumor seria um alvo potencial para medicamentos”. A terapia anti-angiogênese já é uma realidade nas clínicas, mas não é tão efetiva como o esperado. “O primeiro medicamento anti-angiogênico foi aprovado nos EUA em 2004. Então, é ainda um campo muito novo e tem muita coisa que não conhecemos e não entendemos”.

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