Evento realizado pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP) apresentou peculiaridades das empresas públicas de comunicação, com destaque especial para as de radiodifusão. O professor da Universidade de Brasília, Fernando Oliveira Paulino, falou um pouco sobre o papel de orgãos públicos no fortalecimento do debate, orientação de conteúdos e na proximidade com a sociedade, através dos conselhos curadores e ouvidorias.
Para Paulino, as emissoras públicas podem fortalecer muito as discussões, pelo fato de não estarem vinculadas à interesses comerciais. Neste sentido, torna-se possível à elas explorar conteúdos de interesse regional, além de produções culturais alternativas, programas educativos e assuntos pouco palatáveis, como homossexualidade, fé religiosa e política. Neste último caso, com abordagem mais abrangente de forma a fornecer dados novos ou explorar o que é veiculado pela mídia de um modo geral.
O professor também destacou o papel destes orgãos na orientação de conteúdo para outras empresas. “Um dos aspectos, para mim, bastante caros e relevantes é a idéia de que as emissoras públicas de comunicação podem contribuir para a qualificação do que é levado ao ar por outras emissoras, sejam elas comerciais, comunitárias ou mais diretamente ligadas a estrutura do Estado”. Para Paulino, esta qualificação se faz mediante a participação do público. “É necessário que se constitua parâmetros para que o público tenha condições de se comunicar, de apresentar suas demandas de forma canalizada”.
Foi utilizado, como exemplo deste funcionamento, a Empresa Brasileira de Comunicação (EBC) que, a partir da lei que estabeleceu sua criação, previu a existência de duas instâncias para garantir a participação da população. São elas o Conselho Curador, que tem a função de fiscalizar, em nome da sociedade, a qualidade dos conteúdos e a Ouvidoria, que realiza um contato direto com o público. Para que todo este aparato produza resultados que aproximem as emissoras dos ouvintes, no caso das rádios, Paulino destaca que a EBC tem como princípio corresponder as demandas apresentadas. Como exemplo, destacou o caso do “galo boiola”, uma cantiga carnavalesca que foi transmitida pela emissora e que acarretou no recebimento de uma crítica de ouvinte que a considerou depreciativa. Para atendê-la, a emissora apresentou um pedido de desculpas e iniciou debates acerca da relação entre homossexualidade e mídia.
Paulino destacou como uma das missões primordiais das emissoras públicas o estabelecimento de condições para que haja diversidade de opiniões e que estas possam se expandir e chegar a um maior número de pessoas. Desta forma, segundo ele, se amplia a reflexão com a possibilidade de que um público amplo tenha conhecimento mais abrangente do país em que vivem e, a partir de novos subsídios, possam melhor refletir sobre assuntos impactantes na vida social.
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