ISSN 2359-5191

27/02/2015 - Ano: 48 - Edição Nº: 13 - Sociedade - Instituto de Estudos Brasileiros
Região da Luz é considerada degradada nos quesitos histórico e humano
Projeto “Nova Luz” aumentou quantidade de notícias abordando a Cracolândia nos grandes veículos jornalísticos
Ilustração de mudanças propostas para a região da Luz, em São Paulo, através do projeto "Nova Luz"

A região da Luz, no centro da cidade de São Paulo, é considerada uma área extremamente degradada, tanto no quesito histórico como humano. Desde a década de 90 vem sendo alvo de várias propostas de revitalização, porém sem grande efetividade. Um dos projetos mais recentes foi o “Nova Luz”, que trazia a ideia mudar radicalmente a região, porém sem trazer soluções para problemas sociais da área, como a Cracolândia.

Durante o “I Encontro de Pós-Graduandos do IEB”, realizado no próprio Instituto de Estudos Brasileiros da USP, a pesquisadora Carla Janaína de Freitas Pereira apresentou sua pesquisa, em andamento, sobre o projeto “Nova Luz” relacionando-o com as notícias nos grandes veículos do período. “A ideia é analisar os discursos vinculados na mídia impressa, principalmente nos jornais Folha de S.Paulo e Estado de S.Paulo, por serem jornais de grande circulação no período de 2005 até 2012, datas de apresentação do projeto e do fim da gestão Serra-Kassab,  responsáveis por essa proposta. Então o foco são esses discursos, mas também essa relação entre a representação e a prática”, explica a pesquisadora.

O projeto surge em 2005 e consistia em atrair empresas de tecnologia para a região por meio de incentivos fiscais. Ainda no final de 2005 foi declarada a abertura desse programa e o começo das inscrições para as empresas que quisessem se estabelecer na região. Ao mesmo tempo, a Prefeitura iniciou a “Operação Limpa”, uma operação de fechamento de estabelecimentos comercias que são considerados indesejáveis, como bares e hotéis, e a intensificação da abordagem por parte da polícia de pessoas ‘suspeitas’ na rua, como estrangeiros e prostitutas”, conta Carla. Essa primeira iniciativa de atração não foi bem sucedida, encerrando as inscrições em 2008, já que até 2009 apenas duas empresas haviam se estabelecido no local. A partir desse momento começou a se discutido uma intervenção com proporções maiores do poder público e iniciativas privadas.

O plano urbanístico do projeto foi publicado em 2011, e em 2010 já saiu a licitação do consórcio. Ele abrange uma proposta de revitalização de 45 quadras da região da Luz, que vai da São João pela Duque de Caxias, Rua Mauá, Cásper Líbero e Ipiranga. Determinava como objetivos principais a recuperação e a preservação do patrimônio histórico, o incremento da área residencial, consolidação da área destinada a habitação de interesse social e criação de uma rede de espaços públicos. “O projeto diz que a região é vista negativamente por parte da população de São Paulo, porém no projeto não há nenhum estudo de opinião ou parâmetro da onde vem essa classificação, ou que parte da população é essa que carateriza esse lugar como um lugar ruim”, conta a pesquisadora.

Desde a década de 90 a parte região central já era chamada de Cracolândia, recebendo esse título na mídia. Porém, nota-se uma intensificação grande das notícias que fazem alusão a esse tema durante o período da proposta da “Nova Luz”. Os jornais viam a Cracolandia como um empecilho ao desenvolvimento da região do centro da cidade. Geralmente os discursos não são no sentido de questionar qual o projeto para a região, mas sim a moralidade do projeto. “Para os jornais é preciso eliminar não só parte do espaço físico, como também parte da população. A ideia é relacionar esse projeto com as notícias que são veiculadas nesses jornais no mesmo período, e entendo que elas não são produzidas apenas para o jornal, mas elas são compartilhadas todos os dias. Cabem as concepções de um grupo da sociedade”, conta Carla.

A pesquisadora finaliza sua apresentação contando suas considerações iniciais, já que a pesquisa ainda está em andamento: “A discussão é, se o projeto é urbanístico, não contem soluções de questão social. Essa representação da Luz como uma região degradada é construída e compartilhada na mídia pelo poder público e por parte da população, e justifica a intervenção no local. A expectativa de valorização do centro e da eliminação dessas questões sociais conseguem aderência social”.

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