ISSN 2359-5191

17/11/2016 - Ano: 49 - Edição Nº: 134 - Arte e Cultura - Instituto de Estudos Brasileiros
Representação artística da masculinidade no século 19 se torna tema de pesquisa
Mestrado questiona a construção do ideal do homem em retratos e autorretratos de pintores brasileiros
Pintura de Almeida Júnior Família de Antônio Augusto Pinto (1891) Foto: Reprodução

A dissertação de mestrado de Gustavo Brocanello, do Instituto de Estudos Brasileiros da Universidade de São Paulo (IEB/USP) se dedica a analisar o ideal de masculinidade retratado em pinturas nacionais. Sob o título Desenhando o Homem Um estudo sobre paradigmas de masculinidades na pintura brasileira do século XIX,  a pesquisa é orientada pela professora Ana Paula Cavalcanti e se encontra em processo de construção.

Segundo Brocanello, a ideia de analisar a maneira como a masculinidade é retratada nas pinturas do século 19 surgiu a partir da curiosidade de pesquisar as ligações entre os artistas de sua preferência. O recorte de gênero adotado veio após a orientação da professora Cavalcanti, que identificou no mestrando o interesse pelo assunto.

Em sua pesquisa o mestrando cita Tamar Garb, Linda Nochlin e Whitney Chadwick. As três autoras são estudiosas do campo das artes plásticas e se dedicam a analisar o papel atribuído a homens e mulheres em obras de diferentes movimentos artísticos. “Seguindo o pensamento delas, o que detectei até agora é uma mudança na representação do homem: a partir da Revolução Francesa, existe uma rejeição muito forte não apenas da mulher, mas do aspecto feminino em geral. Passa-se a valorizar a virilidade, resgatam-se ideais clássicos, corpos masculinos jovens e musculosos“, afirma o pesquisador.

Sobre esse assunto, Brocanello ressalta que em contrapartida ao ideal de virilidade estava o estereótipo do feminino apontando diferenças que foram pautadas não apenas na arte, mas que passam pela vida política, privada, pela educação e outros fatores. “Na pintura, as mulheres são retratadas como mães, lavadeiras e outras funções estereotipicamente femininas. Rousseau também liga a ideia de homem, honra e virtude. A partir daí, creio que começa a ser desenhado o que era um homem ideal e virtuoso.”

O pesquisador chama atenção para o fato de que o conceito de polarização entre feminino e masculino já fazia parte do comportamento segregatório característico de sociedades patriarcais como o Brasil, ainda que gestado no continente europeu. Na pintura, os laços com a atividade artística nacional se deram principalmente, pois muitos dos artistas brasileiros eram incentivados a estudar fora do país. E como consequência, os ideais artísticos brasileiros eram influenciados pelos movimentos artísticos do exterior.

Apesar dessa aproximação, o mestrando destaca que “Ana Paula [orientadora] foi muito sábia em alertar para tomar cuidado e não cair na ideia de uma simples influência, de um conceito que foi tranquilamente transplantado de lá para cá. Existiram contestações, questionamentos e uma busca de identidade nacional própria”. Sobre esse assunto, o pesquisador afirma que há uma incerteza em afirmar que existe uma característica unicamente brasileira do ideal de masculinidade. Mas, ainda assim, encontra na construção do homem caipira, nas obras de Almeida Júnior, aspectos interessantes.

Atualmente, “mesmo quando o personagem masculino não é ‘fortão’, ele ainda retém algum marcador de sua hombridade, como feições rústicas ou um falar firme, por exemplo”, afirma Brocanello. Ainda segundo o pesquisador “existem algumas tentativas de desconstruir esta imagem” afirma o pesquisador. Como exemplo de postura crítica ao ideal de gêneros comum na cultura pop, Brocanello cita o filme MadMax (2015), releitura da ficção científica de mesmo nome lançada em 1979. O longa foi objeto de diversos debates feministas a respeito de seu conteúdo e da proposta crítica que tem em relação a ideologia de gêneros usual da cultura pop. O pesquisador cita também o trabalho do português Carlos Possollo e os canadenses James Huctwith e Zachari Logan como exemplos de artistas plásticos que trabalham com o ideal de masculinidade de maneira crítica.


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