ISSN 2359-5191

13/05/2015 - Ano: 48 - Edição Nº: 35 - Sociedade - Faculdade de Saúde Pública
Convivência com loucura evidencia indiferença das metrópoles
Relações de proximidade e distância presentes nas grandes cidades dificulta convivência da loucura mesmo durante caminhar da reforma psiquiátrica
Barreiras físicas e simbólicas separam a loucura da cidade || PabloF

O surgimento dos primeiros núcleos urbanos brasileiros esteve atrelado à necessidade de se separar do convívio social os considerados desvios, como a mendicância, a prostituição e a loucura. O enclausuramento deste último e sua relação com a vida nas grandes cidades foi o objeto de estudo de Ana Paula Plantier. Para a pesquisadora, ainda existem barreiras invisíveis que separam a loucura da sociedade, apesar da gradual queda dos muros físicos dos manicômios com a reforma psiquiátrica nas últimas décadas.

Em 2001, foi assinada a Lei Federal 10.216 que trata da proteção e dos direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais, além de dar novo rumo ao modelo assistencial em saúde mental, que passou a visar a reinserção ao invés do isolamento. A dissertação de mestrado "Dos muros dos manicômios para os muros (in)visíveis da cidade: sobre os desafios da reforma psiquiátrica brasileira”, orientada pela professora Aurea Maria Zöllner Ianni, analisou o cenário de retorno dos usuários à vida nas grandes cidades, sobretudo nas metrópoles, e as diversas barreiras enfrentadas pelos serviços destinados ao cuidado dessas pessoas e pelos próprios usuários.

O estudo foi conduzido através de uma pesquisa bibliográfica, onde foram analisados artigos científicos da área que abordassem a questão da loucura para além dos serviços, que tivessem um olhar também para a cidade e os espaços urbanos. De 77 materiais, 14 foram escolhidos para compor a análise, sendo que as obras selecionadas deveriam estar inseridas no período entre 2000 e 2014, fase que compreende os avanços na Política de Saúde Mental brasileira, com a regulamentação da reforma psiquiátrica.

Segundo Ana Paula, sua pesquisa apontou para a necessidade dos serviços em saúde mental investirem em atividades para além dos muros institucionais, para que se estimule a circulação dos usuários pela cidade, além de dar visibilidade à questão da loucura, buscando quebrar alguns estigmas. Segundo a pesquisadora, tem-se evidenciado que as atividades extramuros, e a circulação da loucura pelos espaços públicos, ajudam a desconstruir algumas das barreiras simbólicas enfrentadas.

Em seu estudo sobre a dinâmica da cidade, a pesquisadora se deparou ainda com o fato de que, principalmente as grandes metrópoles estão organizadas de maneira a excluir os cidadãos de sua vivência: existe uma diminuição dos espaços públicos, como praças e parques, e a ploriferação dos privados, como condomínios fechados. Soma-se a isso a questão cultural da indiferença dos grandes centros: “Cada vez estamos mais próximos em conglomerados urbanos e menos queremos saber sobre o outro”, aponta Ana Paula.

Essas considerações fazem parte de um tema mais amplo do qual a pesquisa, segundo a própria mestranda, é apenas a ponta do iceberg, contudo, acredita que existe a necessidade de se pensar em políticas que incentivem cada vez mais os usos dos espaços públicos e não de espaços privados. “Os muros invisíveis vivenciados pela loucura também revelam os muros da cidade para com todos nós”.


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