Obras subterrâneas representam projetos de alto risco e pedem estudos detalhados, principalmente em espaços urbanos. A tecnologia do televisionamento óptico de sondagem surge como um aliado que pode aprofundar, baratear e otimizar esses planejamentos, de acordo com nova metodologia proposta por Daniela Garroux Gonçalves de Oliveira em sua dissertação de mestrado, no Instituto de Geociências (IGc/USP).
Até então, só existiam métodos estabelecidos para testemunhos reais, ou seja, pedaços de rocha escavados em furos. A nova técnica consiste em obter imagens do interior das paredes de perfurações executadas nos maciços rochosos. Isso permite observar informações que antes não eram disponíveis só com os testemunhos reais, como orientações precisas dos planos de fraturas, o que garante maior segurança aos projetos.
Além disso, é possível diminuir tanto os gastos como o tempo de investigação. As imagens de televisionamento também são mais fáceis de armazenar do que os testemunhos reais de sondagem, já que basta salvá-las no computador. Porém, Garroux destaca que o testemunho virtual não substitui o testemunho da rocha: “o ideal é uma combinação dos dois”.
A pesquisadora também enfrentou alguns obstáculos, como ter de verificar erros de profundidade nas imagens e falhas em sua obtenção porque havia água suja nos furos. “Isso é um desafio também por parte de quem contrata o serviço, sendo essencial sua fiscalização. A fiscalização tem que saber exatamente o produto que deve esperar obter”, explicou.
Garroux desenvolveu o estudo enquanto trabalhava no projeto de ampliação da linha 4-Amarela do metrô, em São Paulo. Ao longo de 2,4 quilômetros de extensão da obra, foram feitos 17 furos televisionados, com cerca de 500 metros de rocha filmada. Para a dissertação, foi um total de 51 furos televisionados e 2,2 quilômetros de rocha filmada.
Outro elemento da pesquisa foi a relação com a Teoria dos Blocos-Chave, que nunca havia sido aplicada ao televisionamento óptico em um projeto de túnel urbano. Essa teoria foi formulada por Goodman e Shi em 1985 e determina a existência de blocos imprescindíveis para a sustentação de um conjunto. A pesquisadora também adaptou à imagem virtual o índice Rock Quality Designation (RQD), desenvolvido nos anos 1960 para a caracterização de rochas.
Ciência aplicada
O projeto foi bem recebido por pesquisadores em congressos internacionais e pela equipe do Metrô São Paulo. Segundo Garroux, a metodologia será aplicada também na construção da linha 6-Laranja. Há muitos outros usos possíveis, como a mineração, a obtenção de água e a implantação de rodovias.
A pesquisadora considera fundamental sua experiência direta com a área para chegar aos resultados da dissertação, atuando entre a geologia e a engenharia. Segundo ela, seria importante oferecer ao estudante de geociências um maior contato com ciências aplicadas dentro da universidade. “Vejo que existe uma resistência grande por parte da USP em se abrir um pouco mais ao campo aplicado”, comentou.