ISSN 2359-5191

09/11/2015 - Ano: 48 - Edição Nº: 106 - Arte e Cultura - Pró-Reitoria de Pesquisa
Network Music inova a composição tradicional de música
Processo conecta artistas a distância e cria novas experiências usando a rede
Performance de Network Music. Créditos: NuSom.

A Internet alterou várias instâncias da vida moderna ao redefinir o espaço geográfico e permitir que a informação flua em vários sentidos. Inclusive a forma de fazer música foi modificada. Os espaços físicos remotos já não impedem interações. Para estudar especificamente esse novo sistema, Julian Jaramillo Arango propôs em sua tese de doutorado uma análise abrangente da Network Music. Esse conjunto de práticas pode ser definido por obras de musicalidade na web, nas quais os vínculos tradicionais entre compositor, intérpretes e ouvintes são substituídos por conexões eletrônicas. Há uma incorporação de tecnologias digitais no trabalho musical. Deve ser enfatizado seu caráter experimental e a possibilidade de criações inéditas.

A pesquisa foi elaborada através do Núcleo de Sonologia (Nap Nusom) e examina rotinas sonoras que tiram proveito das redes digitais para elaborar cooperações. O levantamento discute que incorporação do online pelos musicistas esboça novos modos de concepção e criatividade no setor. Os computadores foram muito úteis para otimizar o trabalho colaborativo: a interpretação em conjunto requer coordenação, exatidão e compenetração entre os participantes, e tudo isso foi facilitado.

O termo Network Music não é o único que defini esse repertório, como Internet Music, Networked Music, Distributed Music ou Ubiquotus Music. A denominação mais conhecida começou ser utilizada nos anos 2000 em revistas, conferências e jornais acadêmicos. Apesar disso, as práticas vêm sendo realizadas desde 1970, quando surge a comunicação por satélite, impulsionadas no Brasil por Walter Zanini, entre outros artistas que são hoje professores da ECA, como Gilberto Prado ou Artur Matuck. Foi só no final da década de 90 que elas se redefiniram com o advento da Internet.

Na tese foram identificadas duas vertentes na produção de Network Music. Uma trabalha com a dimensão comunicacional, fomentando o encontro entre indivíduos separados geograficamente por plataformas de comunicacionais, onde predomina-se a partilha de informação por meio de compartilhamento de arquivos, em interações fora de sincronia. A outra acentua o aspecto composicional, desenvolvido por músicos que usam a comunicação online para construir coletivamente uma peça musical, predominando a colaboração e performances simultâneas, por intermédio de comandos em sincronia.

Os trabalhos estudados por Arango podem ser encontrados a partir dos anos 90 e têm em comum: o fato de lidar de alguma forma com a distância e interação remota, são destinados aos usuários da web,  existe uma tendência ao imediatismo, exploram as dimensões social das redes digitais, atribuem papel ativo à audiência, que participa da criação e transmite conteúdo, além disso, o compositor é um gerador de contextos, facilita as interações.

O pesquisador adota como exemplo o grupo The League of Automatic Composer, denominado posteriormente The Hub, que é considerado o maior expoente que utiliza a técnica na composição melodiosa, mas destaca um representante brasileiro, o Net Concert, realizado ao longo da elaboração da tese. Arango se manifesta a respeito do trabalho dizendo que “ele é transcendental porque lá se experimenta novos conceitos de música sem os condicionamentos mercadológicos”.

O projeto foi desenvolvido na Escola de Comunicações e Artes (ECA) com a execução de diversas apresentações, onde há performance musical colaborativa. Nos eventos foram realizadas conexões de áudio e vídeo através da Internet, com demostrações de musicistas distantes tocando a mesma música. Também havia espaço para improvisação. O Net Concert visa incrementar a atividade de Network Music no Brasil e na América Latina, bem como, dispõe da cooperação de centros de pesquisa em sonoridade no mundo todo, principalmente da Irlanda do Norte, Colômbia e Estados Unidos.

Uma das apresentações do Net Concert. Créditos: NuSom.

A dificuldade encontrada pelo grupo, que pode ser resumida no desafio da utilização do método como um todo, foi a instabilidade temporal na transmissão de áudio usando a conexão online. Ou seja, o atraso na chegada do sinal remoto, algo que traz consequências à performance, podendo ser um obstáculo relevante quando os locais são separados por uma distância maior que 4.500 quilômetros. Um outro problema seria o jitter, que se manifesta por interrupções, acelerações e saltos no fluxo sonoro. Ambos podem ser minimizados a medida que o intérprete se adapta ao atraso na chegada do sinal.

O músico Frederico Silveira nunca usou a Internet para compor seus trabalhos, contudo se mostrou interessado no processo. Ele disse que a Internet, permitiu que as pessoas ficassem mais próximas e a conexão entre elas foi facilitada. “Culturas musicais diferentes, músicas novas diferentes. Tudo é válido para a arte musical”, declara Silveira.

O repertório de obras de Network Music (composições, performances, sites, instalações) tem pouco tempo de existência, ainda está em evolução e desenvolvimento, mas já é possível dizer que a prática sugere um cenário transformador para o setor. “As tecnologias de rede possibilitaram encontros impensáveis antigamente entre intérpretes localizados geograficamente distantes, além disso permitiu uma descentralização na produção. O futuro da música não está só com os musicistas”, afirma Arango. As possibilidades são quase infinitas.

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