ISSN 2359-5191

01/02/2016 - Ano: 49 - Edição Nº: 5 - Saúde - Instituto de Ciências Biomédicas
Exercício físico atenua efeitos da hipertensão
Treinamento aeróbio não cura, mas é um grande aliado no combate à doença
Exercício físico é uma terapia não farmacológica muito importante na mudança de estilo de vida (Foto: reprodução)

O laboratório da professora Lisete Michelini, do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP, estuda os mecanismos pelos quais exercícios físicos aeróbios de baixa intensidade podem levar a uma melhora do desempenho cardíaco do paciente.

Tratar a hipertensão é uma coisa muito importante que tem sido buscada desde a década de 50. Foram desenvolvidas várias classes de drogas, como os diuréticos  que retiram o excesso de líquido por meio da urina, reduzindo o volume e a pressão  e bloqueadores do simpático, parte do sistema nervoso que controla a constrição de vasos. Mas, apesar disso, a população continua 50% hipertensa. Soma-se a isso o fato de que existem pessoas que são resistentes ao tratamento, que tomam várias classes diferentes de drogas e, mesmo assim, continuam hipertensas.

O exercício físico é uma das condutas não farmacológicas que existe para tentar contrabalancear a hipertensão. Não é a única forma de tratamento, mas é um procedimento importante. "O remédio tem efeitos colaterais. Se a pessoa se exercita, ela pode tomar muito menos medicamento", explica a professora Lisete.

O treinamento não é único porque existem outras condutas. Por exemplo, pessoas obesas, em geral, são hipertensas; o emagrecimento é um procedimento, também não medicamentoso, importante. O sal retém muito líquido e pode aumentar o volume e a pressão. A redução da ingestão desse soluto é uma outra conduta não farmacológica eficiente. Não fumar, não beber em excesso também. "É o que os médicos chamam de mudança de estilo de vida, da qual o treinamento é extremamente importante", afirma Lisete.

Camundongos treinados: melhora do fluxo sanguíneo

No laboratório do ICB, camundongos sedentários são submetidos a um treinamento de baixa intensidade durante dois meses. Eles correm uma hora por dia, cinco vezes na semana. "É um treinamento de 50% a 60% do máximo que esses animais conseguem correr", afirma a professora. No humano, isso corresponderia a uma caminhada repetida algumas vezes na semana; um exercício que pode ser prescrito a qualquer pessoa, inclusive a idosos.

Uma arteríola de um normotenso tem uma parede externa e uma interna que limitam a cavidade por onde o sangue flui, a luz. Num hipertenso, da mesma espécie e idade, já que isso pode interferir no resultado, observa-se, numa artéria de mesmo calibre, uma redução da luz. "É muito mais difícil o sangue circular nesse caso. Mesmo que ele tenha a mesma força que o impulsione através do vaso, há uma luz muito menor", explica Lisete. "O hipertenso tem uma resistência ao fluxo sanguíneo muito maior", complementa.

Após os animais sedentários serem submetidos ao treinamento, os resultados mostraram que a artéria do normotenso continuou igual, enquanto a do hipertenso tornou-se menos hipertrofiada, restabelecendo a circulação. "Esse vaso, agora, consegue levar muito mais sangue para aquela região que está irrigando", afirma.

A hipertensão também destrói os capilares sanguíneos, que são os menores vasos do corpo, por onde ocorre a troca de oxigênio, gás carbônico, glicose e produtos do metabolismo. Um normotenso tem muito mais capilares no tecido do que um hipertenso. "No hipertenso já chega menos sangue porque a artéria é menor e ele possui menos capilares para distribuir às células", explica a professora. Submetidos ao mesmo treinamento, ao final de dois meses, o número de capilares aumentou muito tanto no normotenso quanto no hipertenso, melhorando a perfusão de vários tecidos.

O treinamento melhorou os capilares e as arteríolas, mas não em todos os tecidos. Isso só aconteceu naqueles que se exercitam, explica Lisete. O músculo esquelético é o que se exercita mais, mas o coração também trabalha para bombear mais sangue quando submetido a esse esforço, assim como o sistema nervoso central, pois, para fazer exercício, é necessário coordenação. "Essa melhora é vista no coração e no sistema nervoso central, além do tecido esquelético", afirma.

Mas o rim e o intestino são órgãos que, no momento do treinamento, não dilatam o vaso para levar um maior aporte de sangue. "Nesses órgãos não acontece os efeitos benéficos do exercício físico", diz.

Isso, contudo, não é uma consequência prejudicial ao organismo porque existe uma quantidade finita de sangue no corpo. A professora explica que o coração bombeia cerca de cinco litros de sangue por minuto num indivíduo normal; mas, quando se faz exercício, é preciso muito mais.

O corpo usa uma reserva de sangue e ele é levado ao tecido que está mais necessitado por meio de uma vasoconstrição momentânea no intestino e no rim. "Esses são órgãos que não são usados durante o exercício. Uma redução do tamanho de suas artérias não faz falta", acrescenta. As arteríolas que levam o sangue para o intestino e para o rim se contraem durante o exercício, reduzindo a quantidade de sangue que chega a esses órgãos, e, o que sobra, vai para os tecidos mais necessitados. "Como elas se contraem, não recebem o efeito benéfico do exercício. Só recebem aquelas que diltatam para receber mais sangue", complementa.

É por isso que o treinamento não cura hipertensão. "Se ele conseguisse levar esse benefício a todas as arteríolas de todos os tecidos do corpo, ele curaria", explica Lisete.

Hipertensão e sistema nervoso central

O grupo está estudando agora os mecanismos do cérebro que determinam esse tipo de efeito benéfico. As duas divisões do sistema nervoso, simpático e parassimpático, enervam basicamente todo o sistema e controlam praticamente todas as funções do organismo, afirma a professora. Resultados recentes dos estudos mostraram que o exercício físico melhora também o balanço entre essas duas divisões.

O simpático é um acelerador e, o parassimpático, um breque. Quando o simpático está aumentado, a frequência cardíaca dispara. O parassimpático, por sua vez, está relacionado à diminuição da frequência, como durante o sono. "Os dois são importantes e é necessário que exista um equilíbrio entre eles", explica Lisete. Na hipertensão, o simpático está sempre aumentado e, o parassimpático, em níveis baixos. "Isso pode ajudar a complicar uma série de fatores periféricos", acrescenta.

O laboratório está estudando como o treinamento pode ajudar a balancear essas divisões. E foi observado que, com a atividade, muitas vezes o sistema nervoso volta ao balanço normal. "Além de ter outros efeitos periféricos, a atividade física pode restabelecer o balanço ideal entre o sistema nervoso simpático e o parassimpático", afirma.

Esses trabalhos tentam entender e conhecer como funcionam os mecanismos que estão modulando as funções orgânicas para poder haver uma forma de prescrever um treinamento mais adequado para um determinado paciente. Os resultados evidenciam que o exercício físico de baixa intensidade e constante, em conjunto com outras condutas não farmacológicas, melhoram muito o quadro de hipertensão arterial e são um tratamento muito eficiente para a doença.

Leia também...
Nesta Edição
Destaques

Educação básica é alvo de livros organizados por pesquisadores uspianos

Pesquisa testa software que melhora habilidades fundamentais para o bom desempenho escolar

Pesquisa avalia influência de supermercados na compra de alimentos ultraprocessados

Edições Anteriores
Agência Universitária de Notícias

ISSN 2359-5191

Universidade de São Paulo
Vice-Reitor: Vahan Agopyan
Escola de Comunicações e Artes
Departamento de Jornalismo e Editoração
Chefe Suplente: Ciro Marcondes Filho
Professores Responsáveis
Repórteres
Alunos do curso de Jornalismo da ECA/USP
Editora de Conteúdo
Web Designer
Contato: aun@usp.br