ISSN 2359-5191

19/02/2016 - Ano: 49 - Edição Nº: 16 - Ciência e Tecnologia - Faculdade de Arquitetura e Urbanismo
Laboratório FabLab SP inspira crescimento da rede de fabricação digital no Brasil
Baseados no modelo implantado na USP, mais de dez novos laboratórios comunitários de tecnologia digital de fabricação estão em fase de formação
Foto: Juliana Henno

O FabLab SP, laboratório de fabricação digital da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP implementado em 2012, era inicialmente utilizado apenas em disciplinas da pós-graduação. Quase três anos depois, o local já está completamente incorporado à rotina da unidade, é utilizado pelos membros da FAU e de outros institutos da USP e servirá de modelo para a implantação de laboratórios comunitários em São Paulo.

O laboratório é vinculado à rede mundial Fabrication Laboratory (FAB LAB), liderada pelo Center for Bits and Atoms, do Massachusetts Institute of Technology (MIT), nos Estados Unidos. É o primeiro da rede no Brasil, e foi idealizado pelo professor Paulo Fonseca de Campos, em parceria com o grupo de pesquisa DigiFab, que trabalha com tecnologia digitais de fabricação aplicadas à arquitetura e ao design.

Tanto o laboratório quanto o grupo de pesquisa responsável por sua idealização estão atrelados também à engenharia, artes plásticas, medicina e odontologia. Hoje, o DigiFab conta com membros de diversas unidades da USP e também parceiros de fora da Universidade. "Eu sempre falo que aqui existe o hardware, que é o FabLab SP, e o software, que é o o DigiFab. O software tem alunos da Universidade, não-alunos, empresas e professores da FAU, da Poli, da ECA e da Faculdade de Odontologia. E a tendência é que ele se torne cada vez mais multidisciplinar, conforme a gente vai desenvolvendo os projetos, começa a identificar os pontos de interação da áreas", diz Paulo Fonseca.

O professor faz questão de deixar evidente o caráter horizontal e colaborativo do grupo e do laboratório. Um dos membros, aluno da pós-graduação pela FAU, trabalha com robótica aplicada à arquitetura e utiliza um braço robótico emprestado do curso de engenharia mecatrônica. Esse é um dos exemplos de pontes que o projeto tem proporcionado.

Além das conexões que o DigiFab possui com institutos da USP, existem também as relações  externas, inclusive internacionais  José Pedro Souza, docente da Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto, que também trabalha com fabricação robótica, está vinculado às atividades do FABLAB SP. "Esse ambiente de rede é muito interessante  seja dentro da Universidade, em diálogo com a sociedade ou as ligações globais que a gente passa a ter. Se a gente se fechasse enquanto laboratório não daria nada, os resultados certamente seriam muito menores", afirma Paulo Fonseca.

 Open Days e novos FabLabs

Junto com a expansão do laboratório, cresceu a vontade de torná-lo mais acessível fora do circuito acadêmico. Pensando nisso, o grupo criou os chamados Open Days, que inicialmente ocorriam às quartas-feiras na FAU. "Uma vez que hoje há a oferta dessas tecnologias digitais, cabe a nós oferecer aqui dentro da Universidade a oportunidade de os alunos, pesquisadores e a comunidade tomarem contato. Pensando no tripé da Universidade, a extensão deste setor é o dia aberto". Eles recebem os grupos interessados, fornecem workshops e contato com as máquinas e materiais.

Atualmente, o evento não tem periodicidade definida e depende do número de pessoas que manifestam interesse. Existem algumas regras para fazer uso do laboratório e para executar projetos, que devem ser submetidos a uma aprovação, mas a ideia é que ele seja aberto e disponível a todos.

Os Open Days também funcionarão como auxílio aos usuários dos 12 futuros laboratórios comunitários projetados pela Prefeitura de São Paulo, inspirados no modelo existente na USP. Os membros do FabLab apoiaram a implementação, ajudaram a fazer a especificação dos equipamentos e a discutir o modelo de funcionamento. A ideia, agora, é que cada uma dessas comunidades possa ter um primeiro contato com as máquinas e com a cultura de fabricação digital dentro da USP antes da inauguração dos laboratórios.

Já existe, em São Paulo, o primeiro laboratório de fabricação digital comunitário vinculado à rede FabLab. Ele foi implementado no Memorial da América Latina em 2015, e está especialmente relacionado ao campo da produção digital voltado para as artes visuais.

A expansão da rede laboratorial gerou também o projeto FabSocial, comandado por Alex Garcia, membro do DigiFab. Ele decidiu pesquisar o impacto das tecnologias digitais no processo de aprendizado, com foco no ensino básico e na inserção dessas ferramentas nas escolas como um incentivo à criatividade. Hoje, a pesquisa ultrapassou as fronteiras da Universidade e funciona como projeto independente.

Especulação e tecnologia

Mas o aumento da acessibilidade às tecnologias digitais de fabricação também precisa ser celebrado com responsabilidade: a formação de grandes laboratórios, que utilizam uma variedade de máquinas e de matéria-prima, lida necessariamente com novos interesses econômicos e políticos. Essa é uma discussão que não pode ser deixada em segundo plano em função dos benefícios da inovação tecnológica. "Precisamos refletir e acabar com uma certa consciência ingênua a respeito das coisas", diz Paulo. "É interessante que a gente tenha consciência dos interesses que estão por trás e do que cada tecnologia pode fornecer do ponto de vista da adequação.”

Para Paulo, "a fabricação digital é uma grande inovação tecnológica, mas não é um processo de ruptura". Sua expansão não se apoia na destruição de outras formas de indústria, mas na criação de uma variedade que pode gerar projetos complementares. “Ainda existe espaço para a indústria mais calcada no fordismo, assim como pode existir uma indústria tocada por poucas pessoas, e que tenha essa função de customizar, personalizar objetos", explica. "É muito importante saber onde a tecnologia digital de fabricação vai cumprir seu papel, onde de fato ela pode ser útil.”

O professor, que ministra uma disciplina na FAU cujo objetivo é debater os efeitos da implantação dessas novas ferramentas, explica que a “fetichização” e especulação acerca da tecnologia devem ser evitadas. “Por isso estou sempre me perguntando: tecnologia pra quê? E para quem?”. E conclui: "A gente tem que desmistificar, mostrar como funciona, para que as pessoas assimilem tecnologia não como produto ou máquina, mas como conhecimento."


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