ISSN 2359-5191

10/05/2016 - Ano: 49 - Edição Nº: 54 - Saúde - Faculdade de Medicina
Tabagismo e excesso de peso geram faltas no trabalho e maiores gastos com saúde
Em um ano, 53,5% dos trabalhadores avaliados perderam ao menos um dia de trabalho por motivo de doença
O estilo de vida de trabalhadores afeta o dia a dia e a produtividade no ambiente de trabalho. Imagem editada: Helena Mega.

Uma pesquisa feita com 2.200 trabalhadores de uma companhia aérea brasileira indicou o tabagismo como a principal causa de faltas no trabalho, e o excesso de peso como precursor de maiores gastos com serviços de saúde. A inatividade física, por sua vez, foi associada a uma maior probabilidade de internação hospitalar. Essas foram as conclusões presentes na tese de doutorado de Fabiana Maluf Rabacow, defendida em 2015 na Faculdade de Medicina da USP.

A análise durou um ano e foi feita com homens e mulheres dos setores de trabalho administrativo, operacional, call-center e tripulantes (pilotos e comissários aéreos) da empresa. Com informações da companhia aérea e da operadora de saúde responsável pelos funcionários, foi montado um banco de dados. Em seguida, as estatísticas foram relacionadas a fatores de risco ligados ao do estilo de vida deles.

O tabagismo é, segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), a principal causa de morte evitável do mundo. Ele causa dependência física, psicológica e comportamental e está relacionado a diversas complicações de saúde, tais como a doença pulmonar crônica (que inclui bronquite e enfisema) e cânceres, além de potencializar o risco de contração de outras enfermidades, como infecções respiratórias.

Dados do IBGE de 2013 mostram que a prevalência de fumantes entre adultos no Brasil é de 14,8% — no município de São Paulo, a taxa sobe para 22,5%. Já no estudo, a prevalência de fumantes foi de 12,3% entre os profissionais da empresa e, considerando que o tabagismo foi apontado como a maior causa de abstenção no trabalho, Fabiana expande o problema. “Vimos como é importante não só auxiliar os fumantes a pararem de fumar, mas também oferecer apoio aos ex-fumantes, porque eles ainda têm consequências na saúde advindas dos anos de cigarro”, afirma.

No entanto, graças a campanhas de conscientização, à proibição de publicidade relacionada ao tema e à nacionalização da Lei Antifumo, o número de adeptos ao tabagismo vem caindo no país. O mesmo não acontece, entretanto, com a quantidade daqueles que estão com excesso peso, crescente no Brasil desde 2006, quando os dados começaram a ser coletados. Estimativas de 2014 indicam que 52,5%, ou seja, metade da população brasileira está acima do peso, e foi justamente o número elevado de IMC (Índice de Massa Corporal) que esteve ligado a maiores despesas médicas entre os trabalhadores.

A faixa de sobrepeso é considerada para aqueles de IMC entre 25 e 29,9 kg/m². De 30kg/m² para cima, o indivíduo é considerado obeso. Ou seja, um homem de 1,70 m de altura pesando 95 kg estaria na faixa da obesidade, pois seu IMC seria de 32,87 e seu peso ideal estaria entre 53 kg e 72 kg. Já uma mulher de 1,60 m e 55 kg estaria na faixa de peso ideal, com IMC de 21,48 (calcule o seu IMC aqui).

O valor médio de gastos realizados com saúde durante os 12 meses da pesquisa foi calculado em US$ 505 (aproximadamente, R$ 1.760) por indivíduo. É uma média alta que reflete não só custos de remédios e despesas com tratamentos médicos, como também o uso extenso de serviços preventivos de saúde no Brasil, onde exames anuais são feitos de maneira recorrente, diferente do que ocorre em países desenvolvidos.

Um dos fatores que impulsam o excesso de peso, ao lado do consumo de alimentos altamente processados (leia matéria da AUN), é o sedentarismo. Dentre os 2.200 entrevistados na tese, 51,8% revelaram ser inativos no trabalho e no tempo livre. É de grande importância, assim, que a atividade física seja promovida não como forma de obrigação, mas como um hábito a ser inserido no cotidiano. “Já são muitas obrigações que todos têm no dia a dia, ainda mais quando falamos de estresse. Então, dar oportunidades, facilitar as escolhas saudáveis para as pessoas, é um benefício tanto físico quanto mental”, diz a pesquisadora.

Baixa escolaridade e questões de gênero

A motivação de empresas para cuidar da saúde dos trabalhadores, quando ela existe, surge do fato de que isso gera impactos positivos na economia, isto é, mantém o ritmo da produtividade. Implementar opções de alimentação saudável dentro dos restaurantes das corporações, ou deixar cestas de frutas para os funcionários, são alguns exemplos de pequenas práticas que atuam no sentido da promoção de uma melhor qualidade de vida no ambiente de trabalho.

Contudo, os piores índices de cuidados com a saúde estão claramente relacionados a níveis mais baixos de escolaridade. Aproximadamente 85% dos trabalhadores analisados não havia completado o ensino superior, e exatamente aqueles com menos tempo de estudo foram os que mais se abstiveram do serviço. Tal proporção cresce quando aplicada somente às mulheres: elas, que no geral possuíam menor escolaridade, tiveram um número maior de faltas no trabalho, além de relatos mais frequentes de estresse.

Os gastos de saúde também foram maiores entre o sexo feminino, e a possível causa disso é que as mulheres buscam serviços preventivos de saúde com mais frequência do que os homens. Engravidar e ter filhos, no caso, não são argumentos relacionados, pois gestantes não foram incluídas na tese.

A pesquisa conquistou o “Prêmio IESS de Produção Científica em Saúde Suplementar” no ano de sua publicação, concedido pelo Instituto de Estudos de Saúde Complementar.

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