ISSN 2359-5191

12/05/2016 - Ano: 49 - Edição Nº: 56 - Saúde - Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia
Estudo com amido busca alternativa para tratamento do diabetes canino
Ainda em desenvolvimento, método produz ração com tipo específico de nutriente para melhorar controle glicêmico
O tratamento tradicional da doença pode contar com a aplicação de insulina. / Imagem: Pet Magia, R7

De acordo com relatório divulgado em abril deste ano pela Organização Mundial da Saúde (OMS), o diabetes já pode ser considerado a oitava maior causa de morte ao redor do mundo. Ao contrário do que pouca gente sabe, a doença também afeta os cães, sendo o seu diagnóstico cada vez mais comum em clínicas veterinárias. Ainda que não possua cura, um novo estudo realizado pela Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ) da USP tem trazido perspectivas positivas para a doença que tanto aflige os donos dos pets.

O diabetes é uma doença crônica caracterizada pela diminuição da produção de insulina pelo pâncreas, cujo desdobramentos podem provocar a morte dos animais. Sobre a sua incidência em cães, embora ainda não se saiba exatamente a origem, acredita-se que seja uma resposta autoimune.

Atualmente, os tratamentos disponíveis para aquele que também é conhecido como “diabetes mellitus canino” consistem na aplicação diária de insulina, mudanças na rotina e em cuidados nutricionais que minimizem a glicemia desses animais. Surgindo como uma nova alternativa, o estudo em desenvolvimento pelo mestrando Fabio Alves Teixeira avalia diferentes fontes e tipos de amido para ajudar no controle da glicemia.

Um dos avaliados é o amido resistente. Ao ser digerido no intestino delgado, o amido gera a glicose que será absorvida e destinada à corrente sanguínea. “A teoria em relação ao amido resistente é que, por não ser digerido diretamente, isso faz com que não haja aumentos expressivos na quantidade de glicose sanguínea”, conta Fabio Teixeira. Além disso, possíveis benefícios associados à fermentação do amido resistente no âmbito da saúde intestinal podem ser significativos para o controle glicêmico.

Sendo o principal carboidrato encontrado na alimentação de cães e gatos, “o amido resistente é a porção do amido que, de alguma forma, escapa da digestão ‘normal’ no intestino delgado e chega ao intestino grosso, onde é fermentado”, explica o pesquisador. Apesar de existirem quatro tipos principais de amido resistente, o estudo em andamento utiliza um amido resistente que pode ser obtido após algumas mudanças durante o processo de preparo do alimento.

Dessa forma, em questões de uso e desenvolvimento de tecnologia, o estudo já suscitou mudanças nas configurações técnicas da máquina extrusora, empregada na fabricação da ração, além de um sistema de mensuração contínua da glicemia.

“Apesar dos poucos dados sobre a incidência e prevalência da doença, não é difícil encontrarmos na rotina da clínica veterinária cães diabéticos. Quanto mais pudermos estudar a doença e as formas de tratá-la, melhor será a sobrevida e qualidade de vida dos animais”, conta o pesquisador ao falar sobre como o manejo nutricional configura-se como um fator de grande influência na promoção do controle glicêmico.

Por enquanto, os resultados preliminares do estudo mostram que algumas fontes de amido, não necessariamente o amido resistente, trazem benefícios reais sob o controle glicêmico dos cães diabéticos. “Essa avaliação do impacto das fontes de amido na glicemia de cães diabéticos é algo praticamente inédito no mundo, avaliado em apenas um estudo também brasileiro".

Seleção de pacientes

O diagnóstico do diabetes mellitus é realizado com base em manifestações clínicas clássicas: o animal passa a beber mais água, urinar grandes volumes e, ainda que se alimente em quantidades maiores, a perder peso. Para confirmar a presença da doença, é preciso verificar a quantidade de glicose na circulação sanguínea. “Às vezes, é necessário mensurar essa quantidade também na urina dos animais, que, devido a perda de glicose, passa a ser mais ‘grudenta’ e adocicada ao ponto de atrair formigas”.

Com a realização do diagnóstico para a seleção dos animais que participariam do estudo, Fabio explica que um dos primeiros desafios foi encontrar cães que tivessem apenas diabetes – por sua incidência em cães idosos, é comum o cão diabético apresentar outras doenças.

“Depois disso, tivemos que selecionar pelo perfil do proprietário. Para participar destes estudos, eles têm que se comprometer a comparecer nos retornos marcados, seguir detalhadamente as prescrições médicas e restringir totalmente o animal ao alimento prescrito, para que não haja interferência nos resultados".

Ao todo, foram avaliados um total de 368 animais, sendo que apenas 18 preencheram os critérios preestabelecidos pelo estudo. “Mesmo depois de incluídos, ainda tivemos que excluir três animais".

Metodologia e perspectivas para o estudo

Os animais envolvidos no estudo recebem três rações diferentes em composição, quantidade e fontes de gordura, fibra e amido.

“Cada alimento é fornecido por 2 meses, ou seja, são no mínimo 6 meses de estudo com cada animal. Após o recebimento de cada ração, é colocado nos animais um aparelho que mensura a glicemia a cada 5 minutos”. Posteriormente, o aparelho é mantido no animal pelo tempo mínimo de 48 horas. “Essa tecnologia de mensuração contínua da glicemia é muito interessante, pois traz mais informações que o método convencional, baseado na coleta de sangue do animal a cada uma ou duas horas ao longo de 12 horas por dia".

Fabio Teixeira analisa a metodologia como positiva por não exigir que o animal passe pelo teste da agulha diversas vezes ao dia, além de trazer mais valores de glicemia. “Esse método de mensuração contínua foi utilizado pouquíssimas vezes em cães diabéticos, mas nunca para avaliar o impacto da alimentação sobre a glicemia".

Além da avaliação dos valores obtidos diariamente, após os dois meses de teste com cada alimento também são avaliadas as concentrações sanguíneas de triglicérides e colesterol.

“Pelos resultados preliminares, já podemos inferir que o uso da ervilha e da cevada na alimentação de cães diabéticos talvez seja interessante. Em termos financeiros, há um aumento de custo para a inclusão destes ingredientes nas rações, mas são ingredientes que já são utilizados na indústria pet food”.

Para Fabio, quanto maior a compreensão da doença e das possibilidades terapêuticas, mais qualidade de vida será trazida aos animais. “Cada vez mais, os cães são tratados como membros da família. Eles estão vivendo mais e, por consequência, desenvolvem doenças associadas à idade senil como o próprio diabetes”.

Em uma segunda análise, ele entende um importante papel sustentável exercido pelo desenvolvimento das rações, já que alimentos comumente descartados pelo homem, como vísceras e farelos, podem ser utilizados na alimentação dos cães, sem trazer prejuízos a estes animais.

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