ISSN 2359-5191

12/05/2016 - Ano: 49 - Edição Nº: 56 - Saúde - Escola de Enfermagem
Uso de catéteres centrais gera complicações em pacientes internados
Os equipamentos e sua inserção são muito invasivos e precisam de maior cuidado de indicação e manejo
O procedimento de inserção dos catéteres centrais é invasivo. / Fonte: divulgação da internet

Pacientes internados que necessitam de medicamentos irritativos, em grandes volumes ou por muitos dias, utilizam catéteres centrais. Porém, a instalação e uso desses equipamentos podem causar uma série de problemas. Uma pesquisa da Escola de Enfermagem da USP (EE) mapeou estas possíveis dificuldades em pacientes com doenças cardiopulmonares. Segundo os resultados do estudo, aproximadamente 40% dos indivíduos com catéteres centrais apresentaram complicações como inflamação das paredes ou obstrução das veias, suspeita de infecção e trombose.

A cateterização venosa central caracteriza-se pelo posicionamento de um dispositivo vascular cuja extremidade alcança o terço final da veia cava superior. Ela pode ser inserida por veias periféricas pelo uso do cateter central de inserção periférica (Picc, sigla em inglês) ou por vasos principais pelo uso do cateter de duplo lúmen (CDL). De qualquer maneira que seja feita, é um procedimento arriscado e invasivo, que pode durar até 2 horas para a aplicação e causar muita dor e incômodo ao paciente.

Apesar disso, seu uso é muito comum em pacientes internados. Atualmente o cateter central é a melhor alternativa para quem precisa de medicamento de média a longa duração, em grandes volumes ou que seja irritativo. Porém, para a pesquisadora Aline Biaggio, responsável pela pesquisa da EE, há uso indiscriminado desse tipo de cateterização: “Tanto os critérios de indicação para inserção do cateter quantos os critérios para retirada estão oscilando muito”. De acordo com a pesquisadora, o CDL e o Picc só deveriam ser usados em casos de necessidade inquestionável, por serem invasivos e sujeitos a complicações.

Problemas e soluções

Cada um dos tipos de catéteres tem seus problemas relacionados ao uso e à indicação. No caso do Picc, é comum a sobrecarga dos vasos periféricos nos braços dos pacientes que, além de terem menos vazão, recorrentemente são usados para outros procedimentos de infusão mais simples. Além disso, a pesquisadora lembrou que “muitas vezes os médicos banalizam a inserção do Picc, pela justificativa de que ele tem uma taxa de complicações mínima". Porém, o estudo mostra que a taxa de complicações do Picc, 37%, é tão alta quanto a de CDL, 43%, sendo que apresenta mais casos de obstrução. “Não é por ser de inserção periférica que deixa de ser um procedimento invasivo”.

No caso do CDL, o procedimento de inserção exige sutura, diferentemente do Picc, e mesmo assim apresenta maior número de casos de exteriorização do cateter. Pode ser aplicado na jugular (pescoço), na femural (virilha) ou na sub-clávia (peito) e costuma ser mais incômodo aos pacientes. Ademais, por ser aplicado diretamente a vasos centrais, tem maior probabilidade de sangramento.

A solução para diminuir os problemas comuns ao CDL pode estar no exemplo do que é feito com o Picc. Para a aplicação do cateter de inserção periférica, é necessária a capacitação específica de médicos ou enfermeiros, o que não ocorre com o de duplo lúmen. “É preciso que haja um protocolo de aplicação para CDL, com padronização de sutura para resolver complicações de estabilização e risco de infecção, assim como tem para o Picc”, segundo Aline. Isso incluiria seguir as recomendações de órgãos de saúde sobre a inserção de catéteres, o que não acontece.  O uso do ultrassom para evitar problemas no procedimento de aplicação, por exemplo, nem sempre é realizado: “a inserção de cateter central com ultrassom deveria deixar de ser uma recomendação para ser uma norma de saúde”.

Além disso, a manutenção e manipulação dos dois catéteres é realizada por todo o corpo de enfermagem e necessita apenas de capacitação simples, o que pode tornar mais propícias as complicações relacionadas a risco de infecção, trombose e obstrução. Para a pesquisadora, “o ideal seria que os catéteres fossem manipulados apenas por enfermeiros com capacitação para tal".

Por último, por se tratar de um procedimento invasivo, doloroso e sujeito a complicações, sua indicação não pode ser banalizada e deve ser utilizada com cautela. Apenas pacientes que necessitem de tratamento intravenoso prolongado, com grande volume, medicamento irritativo ou necessitem de monitorização da pressão venosa central devem usar catéteres centrais. Segundo a pesquisadora, “a questão da indicação de aplicação precisa ser mais trabalhada com os médicos e enfermeiros, de forma que eles entendam os usos específicos do cateter central".

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