ISSN 2359-5191

07/06/2016 - Ano: 49 - Edição Nº: 70 - Saúde - Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia
Resíduo de bananeira pode ser alternativa para tratamento de verminoses em ruminantes
Estudos com drogas vegetais revelam-se significativos no combate às helmintíases
Engaços extraídos do bananal já processados. / Imagem: Paulo Henrique Selbmann Sampaio

Uma nova tendência tem ganhado espaço quando o assunto é o tratamento de verminoses que afetam o gado. Motivadas pelos recorrentes quadros de resistência às drogas modernas, pesquisas buscam resgatar tratamentos tradicionais com drogas vegetais, alinhando-se à busca por produtos saudáveis e de origem sustentável. Dentro desse contexto de experimentações, um estudo com resíduos da cultura de bananeira em andamento na Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ) da USP vem apresentando resultados promissores.

Embora hoje seja comum o uso de drogas anti-helmínticas, como albendazole e ivermectina, Paulo Henrique Selbmann Sampaio, mestrando responsável pelo projeto, lembra que até o início do Século XX, os tratamentos disponíveis baseavam-se principalmente em produtos vegetais. Além disso, desde a década de 1920 já se fala sobre o uso da bananeira, sendo registradas também referências ainda mais antigas sobre as propriedades medicinais da planta.

Em seu estudo, o efeito dos resíduos de bananeira é analisado sobre o parasita Haemonchus contortus. “Nosso trabalho se diferencia por termos utilizado um modelo para determinação da dose, ou seja, podemos afirmar que o efeito anti-helmíntico se manifestou sem diferença estatística entre as três doses estudadas”. Com essa informação, sua intenção é avançar para testes com infecções naturais. “A partir daí, teremos informações seguras sobre outros helmintos que eventualmente possam ser controlados com a bananeira".

Apesar de ser considerados provisórios, os resultados já mostram uma redução significativa da oviposição na segunda semana de tratamento. A expectativa, de acordo com Paulo, é que, se comprovada cientificamente, essa redução seja progressiva.

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Animais no galpão experimental destinado ao estudo. / Imagem: Paulo Henrique Selbmann Sampaio

Enquanto grande parte das pesquisas com drogas vegetais se voltam para o tanino, polifenol de origem vegetal presente em plantas taníferas, o caso da bananeira é diferente. “Com apoio da professora Luciana Katiki, do Instituto de Zootecnia (IZ) em Odessa, já demonstramos in vitro que, no caso da bananeira, os taninos não guardam relação com a inibição da eclodibilidade de ovos de helmintos”.

Embora ainda não saiba quais elementos da bananeira sejam responsáveis por sua atividade anti-helmíntica, uma substância que chamou a atenção do pesquisador  foi a siringina. “Já adquirimos padrão analítico dessa substância e planejamos avançar nesse campo também".

Sampaio explica que, embora os tratos culturais da bananeira produzam uma série de resíduos, tais como as folhas desbastadas e os pseudocaules cortados, é somente no momento da colheita que resíduos verdadeiramente aproveitáveis são obtidos. Trata-se dos engaços. “Esse material, que é o pedúnculo dos cachos, sai do bananal e sobra como resíduo acumulado no packing house, local onde as bananas são acondicionadas para expedição".

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Engaços extraídos do bananal. / Imagem: Paulo Henrique Selbmann Sampaio

Dessa forma, ao contrário de outros resíduos do bananal, o trabalho de coleta dos engaços a serem aproveitados na alimentação animal não possui custo adicional. Outro benefício apontado pelo estudo é que, ao servir como alimento, os resíduos da banana passam a ser uma alternativa para o produtor, que poderá, eventualmente, adquirir um ganho adicional com a venda do material.

Utilização dos engaços de bananeira

A metodologia utilizada seguiu parâmetros estabelecidos pela World Association for the Advancement of Veterinary Parasitology (WAAVP) e por agências reguladoras, como a Food and Drug Administration (FDA) e European Medicines Agency (EMA). Ao todo, foram adquiridos 30 cordeiros que receberam drogas antiparasitárias convencionais para a eliminação dos nematódeos.

“Comprovado o sucesso do tratamento, efetuamos a infecção artificial com larvas de terceiro estágio de Haemonchus contortus. Obtida a infecção patente, alocamos os animais aos respectivos grupos de tratamento, sendo um grupo controle e três grupos tratados”. Os engaços de bananeira picados foram fornecidos durante 15 dias e, com o final desse período, os animais foram abatidos para recuperação dos vermes do abomaso. Ao longo do experimento, exames clínicos e complementares foram realizados através de amostras coletadas, com apoio do professor Birgel Jr. da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos (FZEA) da USP.

Os dados obtidos com o apoio do IZ mostraram que, nutricionalmente, os engaços não se diferenciam muito das forrageiras tropicais, caracterizadas por gramíneas como as braquiárias. A análise bromatológica apontou que o material é constituído por cerca de 8% de proteína, mas que 90% de sua estrutura é água.

Por conta desse fator, Sampaio afirma que o principal desafio até agora tem sido o processamento dos engaços. Considerando que, enquanto o escopo original do projeto previa a produção de um tipo de feno, o alto grau de umidade encontrado no material tem limitado a utilização de secadores, de modo que optou-se por oferecer o alimento in natura aos animais estudados. A pesquisa sobre o processamento continua em aberto, mas o uso da ensilagem, processo cujo produto é oriundo da conservação de forragens úmidas através da fermentação em meio sem oxigenação, parece promissor.

Ainda que esteja propondo uma nova abordagem para o tratamento das verminoses, Paulo acredita que tratamentos tradicionais, boas práticas de manejo, boa nutrição e drogas anti-helmínticas podem ser entendidas como elementos complementares, não excludentes. “Veterinários e produtores devem abordar o problema das verminoses utilizando todo esse arsenal, de forma integrada, racional, visando a melhor condição sanitária ao menor custo operacional possível".

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