ISSN 2359-5191

07/06/2016 - Ano: 49 - Edição Nº: 70 - Educação - Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas
Contra a ‘zoeira’, escolas dificultam convívio democrático e respeito às diferenças
Estudo sustenta que sociabilidade dos estudantes entra em conflito com ambiente escolar
Problematizando espaço e modelo de ensino, tese revela que a escola, em vez de incentivar, pode reduzir a sociabilidade e as trocas culturais entre jovens. (Foto: Reprodução)

Em tese do departamento de Antropologia Social da FFLCH (Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas), Alexandre Barbosa Pereira analisou a natureza das relações que jovens da periferia estabelecem entre si no ambiente escolar e como ele pode interferir em seus comportamentos. Para tanto, o doutorado pesquisou a sociabilidade de estudantes em quatro diferentes escolas públicas de ensino médio, sediadas em distritos da Cidade Ademar (zona Sul) e Brasilândia (zona Norte).

Pereira reitera que um aspecto fundamental ao estudo, de 2010, foram as relações que estudantes desenvolviam entre si e com os professores, as quais eles denominavam ‘zoeiras’. A pesquisa extrai seu título (“A maior zoeira”: experiências juvenis em São Paulo) exatamente dessa expressão, que designa, de acordo com o estudioso, posturas juvenis marcadas pelo lúdico e o jocoso que podem entrar em confronto direto com a disciplina escolar.

O pesquisador argumenta que escolas debilitam relações interpessoais, reduzindo as capacidades de troca cultural entre os jovens. Essas instituições estariam, a todo momento, tentando eliminar marcas da sociabilidade juvenil, porque as chamadas “zoeiras” seriam as maneiras mais eficazes de se driblar os muros internos que a norma escolar ergue entre os alunos. “Por outro lado, essas ‘zoeiras’ que os estudantes promoviam carregavam consigo forte conteúdo ofensivo”, relativiza o doutor, “com piadas e xingamentos machistas, racistas e homofóbicos".

Nesse caso, a função da escola de educar para um convívio mais saudável tendo em vista as diferenças viria a calhar. As instituições que visitou, no entanto, pouco reagiam a essas posturas mais complicadas. “A escola, criada para formatar o estudante em confinamento, encontra dificuldade em lidar com a questão da alteridade e do convívio com as diferenças em um ambiente democrático”, sustenta ele.

Ao transgredir as barreiras

Se os muros já existem entre os estudantes, o confinamento dos alunos também impõe barreiras com o ambiente ao redor. A escola nega o mundo que a cerca, mas, para o aluno, existem algumas formas de voltar a frequentá-lo. As novas tecnologias seriam este meio, com seus aparelhos de telefone com acesso à internet permitindo um contato estendido e ilimitado com o mundo lá fora. “Isso permite aos jovens fugirem das aulas chatas, porque os smartphones também trazem para dentro o mundo externo, que a escola tenta extirpar”, reflete ele.

De acordo com Pereira, as novas tecnologias, apesar da perspectiva de subversão das normas escolares, são grandes ameaças ao modelo escolar por outra razão: elas tiram o monopólio do saber dos docentes e prejudicam o estabelecimento de uma autoridade legítima em sala de aula. O pesquisador adota cautela em relação a smartphones e seus derivados no ambiente escolar: “As tecnologias têm mudado as formas dos jovens se relacionarem e pensarem, mas é preciso ter certo cuidado nem para afirmar que elas sejam um grande mal, nem uma salvação".

Repensando a escola

A arquitetura do espaço escolar, pelo seu confinamento, seria necessariamente danosa ao aprendizado e à educação de convívio democrático. Repensar o próprio modelo espacial e social da escola, para o doutor, é algo mais crucial do que avaliar desempenhos dos estudantes em provas de determinadas disciplinas, ou, mais especificamente, a qualidade do ensino.

A relação de um jovem estudante com o seu ambiente de aprendizagem tem a ver diretamente com a forma do local em que ele está. Esse espaço escolar, similar a um presídio, segundo Pereira, levanta perguntas em relação ao que pode suscitar - ou não - em um aluno. “É possível propiciar ensino criativo numa escola que trata seus alunos como potenciais criminosos ou que permite que alguns sejam perseguidos por sua orientação sexual, cor ou identificação de gênero?”, indaga ele.

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