ISSN 2359-5191

06/07/2016 - Ano: 49 - Edição Nº: 91 - Educação - Escola de Educação Física e Esporte
Tomar decisões na prática motora gera ganhos de aprendizagem
Professor da EEFE-USP investiga potencial da aprendizagem autocontrolada no desenvolvimento de habilidades motoras
Imagem: Reprodução

Desenvolver uma habilidade esportiva exige, além de talento, dedicação. Trata-se de um processo de aprendizagem, assim como aprender a escrever ou até mesmo a digitar, por exemplo. Mas o que poucas pessoas sabem é que há uma forma de influenciar essa aprendizagem, tornando-a mais efetiva. Para descobrir mais a fundo sobre esse tema, o professor Flavio Bastos, da Escola de Educação Física e Esporte (EEFE/USP), desenvolve uma pesquisa, contando com a participação de alunos da própria escola e de outros institutos da USP.

A aprendizagem motora autocontrolada, termo trazido da psicologia educacional, se refere ao processo de aprendizagem que ocorre quando a pessoa toma decisões sobre a prática que está realizando, as quais influenciam diretamente na qualidade do que é aprendido. Bastos explica que, em sua pesquisa, ele oferece a possibilidade do voluntário escolher sobre um fator que influencia na aprendizagem motora. Os três principais fatores que exercem essa influência são: o recebimento de feedback (dar resposta a um determinado pedido), a organização da prática da ação e o fornecimento de demonstrações.

O professor conta que a partir de pesquisas realizadas entre 1995 e 1997, descobriu-se o alto potencial de ganho quando o indivíduo tem essa possibilidade de escolha. “Se uma pessoa tenta aprender uma habilidade e ela pode tomar decisões em relação à isso, ela tem ganhos de aprendizagem em relação à quem não tem essa possibilidade de tomar decisões”, conta. Além disso, as pessoas que tomam decisões sabendo o porquê delas optam por outras estratégias, o que também pode refletir em ganhos.

Porém, ainda não se sabe ao certo porque isso acontece. Bastos explica que há duas explicações possíveis. A primeira segue uma linha mais motivacional, a qual afirma que as pessoas têm necessidades psicológicas básicas que devem ser protegidas e, quando isso acontece, favorece-se a aprendizagem motora. “Uma necessidade psicológica básica seria a necessidade de autonomia. Quando protejo essa necessidade da pessoa ser autônoma, ela tem ganhos. E como protejo essa necessidade? Oferecendo a possibilidade de escolha”, exemplifica o professor.

A segunda explicação relaciona-se com o processamento de informação. Quando a pessoa decide pedir uma informação, há um estado interno de prontidão para aproveitá-la melhor, ou seja, a pessoa consegue processá-la de uma maneira mais proveitosa do que se a mesma informação fosse dada a outro indivíduo que não queria recebê-la.

Erros e acertos

Para a realização do estudo, o professor Flavio conta com alunos voluntários da própria EEFE e alguns de outros institutos, para evitar que haja algum viés na amostra. Os voluntários realizam testes simples no computador, com e sem manipulação, os quais são posteriormente avaliados pelo professor e sua equipe. Nos testes, mede-se um dado comportamental de cada voluntário, ou seja, uma resposta motora do envolvido.

Essa medição é realizada em fases. A primeira delas é a chamada fase de aquisição, na qual espera-se que a pessoa vá melhorando a habilidade, ou seja, diminuindo o erro, com a prática, em qualquer tarefa motora. Porém, o desempenho medido nessa fase é muito afetado por alguns fatores, como, por exemplo, a fadiga. Para controlar esses efeitos surge um segundo passo, que são os testes de aprendizagem. Num deles, chamado de teste de retenção, o sono exerce uma função primordial, pois está relacionado à consolidação do que foi aprendido no dia. Com esse teste procura-se saber o quanto da melhora observada durante a prática continua com o aprendiz, ou seja, foi retida por ele – por isso o nome “retenção”.

Há, ainda, um outro teste, chamado de teste de transferência. Nele, mudam-se as condições do experimento e observa-se o quanto do que foi adquirido pode ser aplicado em outros contextos: “Por exemplo, em um arremesso do basquete. Se a pessoa arremessa sempre do lance livre, para testar a qualidade do que foi aprendido posso mudar a inclinação e a distância e observo o quanto o que foi adquirido com a prática naquela posição da quadra pode ser transferido para uma nova posição”, exemplifica Bastos.

Futuro

Por enquanto, a pesquisa é realizada apenas no laboratório, utilizando-se de equipamentos próprios para a medição de ações motoras, desde as mais simples, como apertar um botão. Assim é possível o máximo de controle de variáveis, apesar da perda em validade ecológica. Bastos explica que trabalhar com o mais essencial é necessário para que ele e o grupo possam entender o fenômeno, ou seja, o que está por trás dos ganhos de aprendizagem quando fazemos escolhas. Mas o projeto é que a pesquisa evolua para fora do laboratório, se aproximando da complexidade efetora (ou seja, que envolva as reações aos estímulos recebidos) de uma prática esportiva de fato, como uma prática na quadra de basquete.

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