ISSN 2359-5191

22/08/2016 - Ano: 49 - Edição Nº: 107 - Ciência e Tecnologia - Instituto de Biociências
Pesquisador utiliza variações genéticas para estudar evolução de grupos humanos
Foto: Kayla Ballmann, 2015

As populações humanas mudam drasticamente com o passar do tempo, seja na morfologia, cor da pele, comportamento ou outras características. Mas a principal mudança, que carrega consigo todas as outras, é a da constituição genética. Justamente a fim de analisar as variações na composição genética de grupos humanos, alguns pesquisadores utilizam modelos matemáticos para descrever de que maneira a seleção natural influencia estas mudanças ao longo do tempo. Esta ciência é geralmente chamada de Genética de Populações.

Um dos entusiastas deste tipo de tecnologia é o professor Diogo Meyer, do Instituto de Biociências da USP (IB-USP), que dedica boa parte de seu tempo para compreender tais mecanismos. “Observar estas mudanças genéticas nos ensina muito sobre como a evolução funciona de fato”, afirma o professor. Atualmente, Meyer desenvolve uma pesquisa que visa identificar as diferenças entres os genes de resposta imunológica de populações distintas. Segundo ele, “os genes que fazem a resposta primária a agentes invasores são muito variáveis, pois cada população lida com patógenos muito diferentes”.

Meyer explica que o sucesso evolutivo das mutações, pelo menos neste tipo de gene, está intimamente relacionado ao lugar onde ocorre. Um exemplo claro é o da região africana que concentra grande parte dos casos de malária: neste local, a “versão” do gene de defesa é extremamente eficiente na identificação desta doença especifica. Isto se dá porque o ambiente é propício para a seleção natural dos indivíduos que apresentam uma mutação favorável: no caso, a alta proteção contra a malária. O professor reconhece que a variabilidade genética em casos como este é muito positiva. “Populações com muita variação normalmente se defendem bem de um grande número de patologias e tendem, portanto, a viver mais”, elucida.

Para identificar estas discrepâncias genéticas entre populações diferentes, os pesquisadores utilizam genomas disponíveis em bancos de dados públicos, comparando-os. Nestas análises, eles são capazes de localizar regiões do código genético que apresentam divergências significativas. Depois de identificar tais regiões, eles detectam as funções desempenhadas pelos genes e os motivos que levaram à variação. Sobre este processo, o professor alerta para um entrave tecnológico: “Os genomas são imensos, e como analisamos códigos de milhares de pessoas, precisamos compactar os arquivos e trabalhar com softwares complexos”.

Meyer lembra também que não só os genes de resposta imunológica são influenciados pela localidade onde ocorrem as mutações. Um exemplo bastante estudado é o da pigmentação da pele. Em ambientes onde a oferta de luz solar é baixa, é vantajoso para os indivíduos ter a pele pouco pigmentada, já que a pele mais “sensível” necessita de menos luz para realizar processos biológicos. Segundo o professor, “a mutação de branqueamento está muito presente nos indivíduos europeus e pouco presente nos africanos, justamente pela seleção provocada pela oferta de luz”.

Outro exemplo bastante difundido é o das dietas regionais. Em regiões com forte histórico pastoralista, como o norte da Europa e setores de pastoreio de camelos da África, os indivíduos apresentam, muito frequentemente, a capacidade de digerir o açúcar do leite (lactose). Meyer explica que esta mutação teve seu sucesso garantido apenas nestas localidades por conta da cultura do uso do leite. Em outros locais, a mutação falhou, pois não havia o uso extensivo do produto. Para o pesquisador, a Genética de Populações é fundamental para entender não só estes fenômenos pontuais, mas também para esclarecer os mecanismos pelos quais evoluem os aglomerados humanos.

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