ISSN 2359-5191

17/10/2016 - Ano: 49 - Edição Nº: 118 - Saúde - Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia
Estresse na adolescência afeta reação a problemas a longo prazo em roedores
Camundongos estressados quando jovens apresentam sinais de hiperatividade e ansiedade na vida adulta
A genética de roedores é semelhante o suficiente à de humanos para pesquisas patológicas. Foto: Getty Images

Um estudo realizado no Departamento de Patologia da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da USP (FMVZ) confirmou a suspeita de que o comportamento de camundongos que sofrem experiências traumáticas ou estressantes na adolescência é diferente em relação a outros. Para a pesquisadora responsável, a doutoranda Ana Paula Lima, a análise de substância neuroquímicas produzidas no processo pode ampliar a compreensão que temos do cérebro humano ao correlacionarmos as duas espécies.

Os resultados constatam um déficit na memória de aprendizado e um aumento na atividade locomotora dos roedores, que, aliados à ausência do caráter de exploração dos arredores, podem ser relacionados a transtornos de hiperatividade e ansiedade. Além disso, esses efeitos foram observados 20 dias após o momento de estresse, um intervalo prolongado para um animal que atinge a maturidade social aos 60 dias de vida e cuja adolescência se estende do 21º ao 45º dia.

O ser humano e o camundongo são animais com muitas similaridades biológicas, especialmente no que concerne à genética. De mais de quatro mil genes estudados, menos de 10 são encontrados apenas em uma espécie e não na outra, segundo o Instituto Nacional de Pesquisa do Genoma Humano dos Estados Unidos. Esse fator faz com que as pesquisas realizadas nos roedores possam muitas vezes ser correlacionadas ao funcionamento do corpo humano.

Utilizando-se desse conhecimento, Lima buscou observar alterações nos resultados os níveis de corticosterona, relacionando esse hormônio a seu equivalente na espécie humana, o cortisol. “Em alguns trabalhos feitos com humanos, verifica-se que adultos com histórico de traumas ou perdas na adolescência apresentam uma alteração no cortisol”, compara a pesquisadora. “Com uma simples coleta de sangue, podemos avaliar o nível de cortisol e o estresse”. Ainda assim, para determinar possíveis correlações seria preciso um aprofundamento dos resultados com o auxílio de fármacos específicos para hiperatividade e ansiedade.

O experimento teve como base aplicar estressores em camundongos adolescentes e observar seus comportamentos em momentos posteriores de sua vida. Os animais foram divididos em dois grupos: os que foram expostos a situações estressantes e os que tiveram uma adolescência controlada e tranquila. A partir do 45º dia de vida, os roedores do primeiro grupo responderam a novas tensões produzindo um pico de corticosterona maior em quantidade e duração do que os do segundo.

Ansiedade como transtorno

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Ao contrário do que muitos pensam, os transtornos de ansiedade requerem tratamento com medicação. Foto: Martin Barraud

A ansiedade e o estresse não devem ser vistos somente sob uma luz negativa, pois são respostas naturais que possibilitam a sobrevivência, estando presentes em todos os mamíferos. Em um funcionamento normal, a ansiedade é um recurso que eleva a atenção e a antecipação do indivíduo, preparando-o para uma situação de perigo. Já no momento exato de perigo, entra em ação o estresse, que alavanca a reação adequada do corpo a fins de sobreviver. É a chamada resposta adaptativa.

Verifica-se um problema quando há desequilíbrio hormonal desses mecanismos, no qual a resposta acontece de forma exagerada ou errada. Um exemplo comentado atualmente e que envolve transtornos de ansiedade é o chamado “trigger”, ou “gatilho”. Nele, uma pessoa projeta uma experiência traumática vivida no passado em uma situação nova do presente. O perigo desse transtorno é justamente que o preparo (ansiedade) e a reação (estresse) provocados no corpo não correspondem à situação real, ameaçando a integridade física tanto de quem sofre como das pessoas ao redor desse indivíduo.

Segundo Lima, a pesquisa com camundongos pode ajudar também nessa questão. “O uso do protocolo de estresse imprevisível é utilizado na tentativa de padronizar um modelo específico para estudar o estresse pós-traumático”, conclui a pesquisadora.

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