ISSN 2359-5191

08/11/2016 - Ano: 49 - Edição Nº: 129 - Economia e Política - Instituto de Relações Internacionais
Pesquisa brasileira estuda o impacto das mudanças climáticas na economia
Estudo realizado por onze instituições aponta necessidade de se começar imediatamente a pensar as mudanças climáticas
Foto: Ana Cintia Gazzelli/WWF-Brasil

Desde os anos 80 o tema das mudanças climáticas entrou em pauta. Quando previsões apontaram que a temperatura média global tende a aumentar entre 1,8ºC a 4ºC até 2100, diversos países se uniram para tentar reverter o quadro. Foi nesse cenário que surgiram eventos como a Conferência do Clima, a ECO-92 e o Protocolo de Kyoto, que estabelece metas de redução dos gases de efeito estufa.

Em 2005, o governo britânico encomendou o Relatório Stern, um estudo que visava prever o impacto das mudanças do clima na economia nos 50 anos seguintes. Inspirado nesse relatório surgiu no Brasil, em 2007, o estudo Economia da Mudança do Clima no Brasil: Custos e Oportunidades, que conta com a participação de mais de 50 pesquisadores de 11 instituições diferentes, entre elas, USP, Unicamp, INPE, UFRJ, Embrapa, Fiocruz, entre outras.

Foram utilizados modelos computacionais capazes de fazer projeções do comportamento futuro do clima nacional, como temperatura e precipitação. Com essas projeções foi possível criar trajetórias climáticas em áreas economicamente estratégicas e, dessa forma, prever as possíveis consequências das mudanças no clima em vários setores da economia.

Segundo a pesquisa, as regiões Norte e Nordeste do país tendem a ser as mais afetadas pelas mudanças climáticas, justamente por serem áreas mais carentes. Na Amazônia pode ocorrer um aumento de 7ºC a 8ºC na temperatura até 2100, o que acarretaria uma savanização da floresta. No Nordeste se prevê uma redução de 2 a 2,5 mm/dia na quantidade de chuvas, o que ocasionaria perdas na agricultura, pecuária, energia e, principalmente, na qualidade de vida da população. Nos dois possíveis cenários apontados pelo estudo, a redução do PIB brasileiro pode ir de 0,5% a 2,3%. Vale lembrar que esses números são projeções ideais, portanto, podem sofrer variações.

Além das consequências apontadas no estudo, o professor da USP e coordenador geral da pesquisa, Jacques Marcovitch, levanta outras preocupações: o aquecimento do planeta causaria secas que seriam desastrosas para a agricultura, obrigando o país a deslocar seus locais de cultivo. O aumento do nível do mar também é algo preocupante, pois pode ser a causa de imensos deslocamentos populacionais.

Por esses motivos, a conclusão do estudo alerta para a necessidade de começar imediatamente a trabalhar na mitigação desses cenários. Contudo, o professor avisa que essas medidas também têm influência na economia.

O setor empresarial sofre o impacto de precisar reduzir as emissões de gases de efeito estufa. Empresas de mobilidade, cimento, produtos químicos, entre outras, se veem induzidas a aprimorar suas tecnologias a fim de evitar maiores danos ao ambiente. Na agricultura, a necessidade de se criar técnicas de cultivo mais eficientes e que não degradem o solo também requerem um alto custo.

Porém, começar desde já a pensar políticas que retardem o aquecimento do planeta podem evitar, futuramente, maiores impactos econômicos.

Marcovitch relembra o potencial ambiental brasileiro e o quanto seria positivo para o mundo como um todo começar a pensar nisso agora. A primeira ação a ser feita, apontada tanto pelo professor quanto pela conclusão da pesquisa, é o fim imediato do desmatamento na Floresta Amazônica. “O Brasil é uma potência ambiental. Nós temos várias oportunidades, temos o setor agrícola que alimenta o mundo, temos alternativas dos biocombustíveis, temos um potencial muito grande de fazer das nossas florestas tropicais um ativo de sequestro de carbono, não só do nosso como de outros países”, explica o professor.

Uma notícia boa é que o Brasil já tem trabalhado em medidas de prevenção do aquecimento global, mas é preciso avançar.

O professor explica que crises econômicas e políticas, como a que o país vive atualmente, faz com que as políticas ambientais fiquem em segundo plano. Eventos mundiais como a Copa do Mundo e as Olimpíadas também acabam retardando essas preocupações. Porém, o termo sustentabilidade já é comum ao brasileiro.

Mesmo o setor empresarial, que costuma ser o mais resistente às políticas ambientais, tem se engajado na pauta. Há vários casos de empresas que desenvolvem projetos de sustentabilidade, que fabricam seus produtos com o mínimo impacto ambiental possível, entre outras ações. E a própria população tem sido mais exigente com essa questão, preferindo marcas que propagam essas ações.

Marcovitch destaca ainda o papel das universidades para o avanço dessas políticas. Divulgar e incentivar essas medidas sustentáveis são fundamentais para que elas continuem crescendo.

É com esse fim que existe na Faculdade de Economia e Administração da USP desde 2006 a disciplina de pós-graduação, Estratégias Empresariais e Mudanças Climáticas, ministrada por Marcovitch. Todo ano, os alunos da disciplina produzem um relatório com a temática das mudanças climáticas. Já foram produzidos nove relatórios, de 2007 à 2015, e agora em 2016 será publicado um documento sobre as metas assumidas pelo Brasil nos acordos de Paris. Os alunos também já produziram dois livros sobre o tema: Para mudar o Futuro, mudanças climáticas, políticas públicas e estratégias empresariais e A Gestão da Amazônia.

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